As carreiras de Jessica Chastain e Eddie Redmayne estiveram, talvez, sempre em rota de colisão. Suas aparências ruivas e de pele clara têm sido comparadas há muito tempo. No Globo de Ouro de 2017, quando eles se apresentaram juntos, o apresentador Jimmy Fallon os chamou cantando “Chastain and the Redmayne” ao ritmo de Insane in the Membrane, de Cypress Hill.
Desde que se conheceram em um festival de cinema infantil na Itália anos atrás, eles também são amigos. Mesmo que ocasionalmente beirassem a rivalidade. “Pena que não trabalhamos juntos em A Garota Dinamarquesa (2015), porque todo mundo sempre fala sobre como somos parecidos”, diz Chastain. “Eu tirei uma foto dele fantasiado no personagem feminino e mandei um e-mail para Eddie e disse: ‘Pare de pegar meus papéis, (palavrão)’.”
O Enfermeiro da Noite traz Chastain e Redmayne juntos na tela pela primeira vez. É um drama da vida real hábil e arrepiante que gira em torno do caso de Charles Cullen, um enfermeiro de hospitais da Costa Leste que assassinou pelo menos 29 pacientes. O filme é dirigido por Tobias Lindholm e adaptado pela roteirista Krysty Wilson-Cairns (1917, Last Night in Soho) do livro de 2013 de Charles Graeber, The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness and Murder.
Chastain interpreta Amy Loughren, uma enfermeira mãe solteira de Nova Jersey que faz amizade com Cullen (Redmayne), depois de ele ser contratado. Em uma entrevista juntos em um hotel de Toronto antes da estreia do filme, sua química facilmente visível no filme foi ainda mais efusiva pessoalmente. “Nós brincamos como amigos”, diz Chastain, enfatizando demais a “brincadeira”. “Isso foi difícil.”
“Foi uma alegria”, sorri Redmayne, fazendo Chastain rir e suspirar: “Ele não consegue nem fingir.”
O filme, que a Netflix lançará nos cinemas em 19 de outubro e no streaming uma semana depois, trata não apenas de um serial killer furtivo, mas do sistema de saúde com fins lucrativos que permitiu que ele passasse despercebido por tanto tempo. Nnamdi Asomugha e Noah Emmerich co-estrelam como detetives da polícia.
“Para mim, o roteiro era uma história complexa, uma mistura dessa amizade muito íntima, uma história de heroísmo da personagem de Jessica, Amy”, diz Redmayne. “Mas, de certa forma, era o questionamento de um sistema e como ele funcionava ou falhava.”
A ideia de O Enfermeiro da Noite nasceu há vários anos, mas Lindholm, que escreveu roteiros de vários filmes de Thomas Vinterberg (incluindo o vencedor do Oscar Druk - Mais uma Rodada e A Caçada), estava comprometido a rodar uma longa minissérie dinamarquesa, The Investigation, sobre a morte da jornalista sueca Kim Wall, de 30 anos. Os atores discutiram suas opções e decidiram esperar por Lindholm.
“Tivemos muitas conversas antes mesmo de começarmos. Então sabíamos o que queríamos com o filme e estávamos ansiosos por isso”, diz Lindholm. “Chegamos com uma energia extremamente carinhosa e amorosa. Nós três seríamos o núcleo. Minha ideia era que nós criássemos esse filme juntos.”
“Eles são um sonho, os dois”, acrescenta. “São atores que se parecem, com o mesmo humor, a mesma energia. E ainda assim eles são tão diferentes.”
Para Chastain, de 45 anos, e Redmayne, 40, fazer O Enfermeiro da Noite veio com certa apreensão. Trabalhar com amigos, eles observam, pode significar ver um lado diferente de alguém. O personagem de Redmayne também é uma pessoa profundamente danificada, que coloca uma fachada gentil e calorosa. A fisicalidade levemente desanimada de Redmayne em O Enfermeiro da Noite é diferente de tudo que ele já fez.
“Respeito que ele não precise torturar outras pessoas ao seu redor para acreditar em sua atuação”, diz Chastain, que acrescenta que respeita o processo de qualquer ator.
O Enfermeiro da Noite é o primeiro filme de Chastain desde que ela ganhou o Oscar de melhor atriz no início deste ano por “Os Olhos de Tammy Faye”. As promoções destacaram que os dois protagonistas do filme são vencedores do Oscar; Redmayne ganhou o prêmio de melhor ator por Stephen Hawking em “A Teoria de Tudo” de 2014.
“Preciso dizer que, quando vi o trailer do filme, concluí que a experiência deu certo”, diz Chastain.
“Essa é a melhor sensação”, responde Redmayne. “Porque você realmente não acredita quando isso acontece.”
Chastain já tinha uma superstição sobre segurar um Oscar a ponto de, certa vez, se recusar a tocar no prêmio de Redmayne. “Mas agora,” ela diz, rindo, “eu seguro seu Oscar e você pode segurar o meu.”
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