Depois do admirável ciclo dedicado a Jacques Becker, o menos conhecido dos grandes autores do cinema francês, o Espaço Unibanco abriga, de amanhã até quinta-feira, novo ciclo com apoio do Consulado Geral da França. Jean Vigo, Jean Renoir, Marcel Carné, Julien Duvivier e Jean Grémillon - entra em cena o realismo poético que marcou o cinema francês dos anos 30. Carné e o poeta Jacques Prévert, Renoir e Charles Spaak. A história do realismo poético é também uma história de duplas. Um diretor e um roteirista unidos em torno de idéias que constróem uma visão de mundo (e de cinema). Amores desesperados, ambientes sociais bem específicos, estilização visual. A tudo isso é preciso somar um conceito da luz e do cenário de estúdio que aproxima o realismo poético da vertente chamada de filme noir, que floresceu em Hollywood na década seguinte. "Cais das Brumas" e "Trágico Amanhecer" contam-se entre as obras-primas de Carné e Prévert, cuja colaboração atingirá o auge com "O Boulevard do Crime", votado numa pesquisa com mais de cem críticos, diretores, atores e técnicos o melhor filme francês de todos os tempos. À história do desertor que tenta reconstruir a vida com a jovem que também sonha fugir do homem que a oprime segue-se a do tipo que comete um assassinato e, encurralado num quarto de hotel, lembra-se de como sua lírica história de amor foi destruída pelo cinismo do morto. Dois filmes interpretados por Jean Gabin (o primeiro, com Michele Morgan; o segundo, com Jacqueline Laurent e a lendária Arlétty). O ator está em mais dois títulos do ciclo. O de Renoir, A Besta Humana, e o de Duvivier, O Demônio da Algéria mais conhecido como Pepé le Moko. "A Besta Humana" é uma magnífica adaptação de Zola, que teve nova versão de Fritz Lang em Hollywood, nos anos 50 (como "Desejo Humano"). E "O Demônio da Argélia" conta a história do gângster encastelado na Casbah que arrisca a vida, saindo do seu esconderijo para encontrar a mulher que ama. Gabin, como os maiores diretores que freqüentaram o gênero, é uma figura emblemática do realismo poético. Outro ator que faz parte dos mitos da representação na França, Raimu, faz o estranho M. Victor, em "O Homem Que Vivia Duas Vidas". Sob a aparência de um comerciante respeitado esconde-se um assassino. Homem de cultura, autor maldito, Grémillon assina aqui seu melhor filme. E há Michel Simon, com Dita Parlo e Jean Dasté, no Atalante de um dos maiores diretores da tela, Vigo. A história do marinheiro que se casa e a mulher, cansada de viver num barco foge atraída pelas luzes da cidade, independe de rótulos. Mas o cinema libertário de Vigo é poético, sim. "Realismo Poético" (1934-1939). Amanhã, O Atalante, de Jean Vigo. Sábado, O Demônio da Algéria, de Julien Duvivie. Domingo, Cais das Brumas, de Marcel Carné. Terça, A Besta Humana, de Jean Renoir. Quarta, O Homem Que Vivia Duas Vidas, de Jean Grémillon. Quinta, Trágico Amanhecer, de Marcel Carné. Legendas em espanhol. De sexta a domingo, às 14 horas; de terça a quinta, às 22 horas. Espaço Unibanco 4. Rua Augusta, 1.475, tel. 289-4792). Até 7/6
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.