É difícil encontrar um bom filme de slasher hoje em dia. Ainda que continuem sendo uma presença constante nos cinemas, muitos dos representantes do subgênero do terror com assassinos em série mascarados são absolutamente ruins (como o tenebroso Ursinho Pooh: Sangue e Mel). Outros levam as coisas para um limite muito extremo (como o exagerado e sobrenatural Terrifier). Um dos poucos que podem se orgulhar de resgatar a essência do estilo é Feriado Sangrento, estreia da última quinta-feira, 7.
Dirigido por Eli Roth, um dos grandes nomes do cinema de terror com filmes como O Albergue, o longa-metragem traz aquele humor inesperado do slasher com cenas violentas – como é típico do cinema de Roth – e um mistério rondando a identidade do assassino.
A ideia de Feriado Sangrento, conforme conta o diretor em entrevista ao Estadão, nasceu há mais de 15 anos, quando Roth dirigiu um curta-metragem que emula o formato de um trailer sobre um assassino matando pessoas no feriado americano de Ação de Graças. Só que a ideia, felizmente, permaneceu.
“Quando fizemos o trailer, ficamos felizes. Achávamos que era aquilo, que estava feito. Nós achamos que não precisava de mais nada”, conta Roth, em conversa com o Estadão. “Mas, com o tempo, os fãs começaram a me pedir para fazer um filme mesmo. Então, como tudo era inicialmente apenas uma piada, voltamos às nossas ideias originais, quando éramos muito jovens, para fazermos um slasher no feriado de Ação de Graças”.
Nesse retorno e nessa busca por compreender qual era a história, Roth e seu roteirista, Jeff Rendell, encontraram um mistério divertido: depois de um acidente em uma ação de Black Friday, que acontece imediatamente antes do feriado americano, alguém sai pela cidade de Plymouth matando os envolvidos – sempre de maneira cruel. É aí que um grupo de jovens vai tentar defender sua família da morte ao lado do detetive da cidade (Patrick Dempsey).
Tal qual zumbis
Logo de cara, o espectador é jogado para essa cena da Black Friday. É cheia de violência explícita, com pessoas sendo escalpeladas pelas rodas de carrinhos, por exemplo, como se a multidão fosse uma horda de zumbis. Mostra que, além de bom humor, Roth tem algo a dizer sobre esse caos consumista que se abate sobre os EUA, assim como em outros lugares do mundo. Até que ponto podemos chegar pela promoção de um micro-ondas?
“É assustador estar em um tumulto ou em uma multidão que fica fora de controle e foi incrível filmar isso”,
diz Roth.
“Gravamos toda a sequência em quatro noites. Os figurantes foram fantásticos, assim como a equipe de dublês. Fizemos tudo ‘ao vivo’, e isso é uma daquelas coisas que você nunca sabe como vai acabar. Quando estávamos filmando, estávamos apenas apontando a câmera e capturando o que realmente estava acontecendo. É o tipo de sequência que eu só poderia ter filmado depois de 20 anos fazendo filmes”.
Falando em tempo, não é só do caos consumista que Roth tem algo a dizer. Feriado Sangrento é um filme que dialoga – e muito – com os slashers do passado, principalmente Pânico. Mais do que saudosismo, o filme tem uma vontade de voltar ao que o gênero era.
São vários os elementos que contribuem para isso. A identidade misteriosa do assassino, que não é apenas uma entidade sobrenatural; os comentários ácidos sobre a sociedade e os costumes; a violência desenfreada, que choca, mas não está lá apenas para isso.
Roth tem saudades do que o gênero viveu – e quem diz isso não sou eu, mas ele próprio. “Eu tenho saudades dos antigos slashers. Acho que temos muitos reboots e sequências”, diz o diretor.
“Alguns são bons, mas eu queria um assassino novo. Não preciso ver as mesmas pessoas de novo e de novo... Acredito que a nova geração quer uma nova mitologia, que não é aquela dos seus pais. Eu quero dar um assassino aos cinemas que pertença a essa geração”, conclui Roth.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.