PUBLICIDADE

‘Ferrari’: Gabriel Leone, novo rosto brasileiro em Hollywood, conta como chegou lá e fala de ‘Senna’

Ator vive Alfonso de Portago, um papel importante no filme de Michael Mann protagonizado por Adam Driver, e reflete, aos 30 anos, sobre o melhor momento de sua carreira, que inclui ‘Dom’, ‘Eduardo e Mônica’, novelas da Globo e a série inédita sobre Senna

PUBLICIDADE

Foto do author Julia Queiroz
Atualização:

Quando Gabriel Leone estava na Itália para as gravações de Ferrari, filme de Michael Mann que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 22, ele filmou cenas dirigindo no Autódromo de Ímola, um dos circuitos mais conhecidos do automobilismo mundial e também onde Ayrton Senna sofreu o acidente fatal em 1994.

PUBLICIDADE

Lá, caminhou pelo Parque Acque Minerali em direção à curva tamburello, em que o piloto bateu naquele 1º de maio e onde foi construída uma estátua de bronze em homenagem ao brasileiro. Era uma coincidência: caracterizado como seu personagem, o piloto Alfonso de Portago, ele visitava o local da morte de outro piloto, aquele que viria a interpretar cerca de um ano depois.

Leone descobriu que viveria Ayrton Senna na série ficcional que a Netflix lançará sobre o atleta quando já estava na cidade de Módena para gravar Ferrari, o seu primeiro filme internacional. Agora, com o longa chegando aos cinemas brasileiros e poucas semanas após concluir as gravações de Senna, ele lembra daquele momento em Ímola com certa nostalgia em conversa com o Estadão.

Retrato do ator Gabriel Leone em distribuidora na zona oeste de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/ Estadao

Na entrevista, o ator fala sobre os dois trabalhos, o início da carreira internacional, as dificuldades de conciliar muitos projetos ao mesmo tempo e reflete sobre o mercado audiovisual brasileiro, que afirma não ter vontade de abandonar.

‘Construí o meu caminho para chegar lá’

Leone chama de “uma grande coincidência” o fato de ter sido escalado para viver dois pilotos de Fórmula 1 em tão pouco tempo, mas afirma que as semelhanças entre os personagens param por aí.

Em Ferrari, ele vive De Portago, o filho de um marquês espanhol que tomou gosto por corridas e é contratado por Enzo Ferrari, o fundador da marca, para pilotar um de seus carros na Mille Miglia de 1957. O ator aprendeu a dirigir carros de corrida, fez aulas de dança para ganhar a postura de um aristocrata e atuou pela primeira vez em outro idioma.

Gabriel Leone em 'Ferrari' Foto: Lorenzo Sisti/Diamond Films/Divulgação

Além de tudo, carregava a responsabilidade de ser dirigido por Mann - que fez filmes como O Informante e Miami Vice - e contracenar com queridinhos de Hollywood, como Adam Driver, que vive o protagonista e com quem Leone gravou a maioria de suas cenas, e Penélope Cruz, que, na opinião do brasileiro, fez um dos melhores trabalhos da carreira no filme.

Publicidade

Claro que tem um lado dentro de mim de fã do trabalho dessas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, eu sempre me agarrei muito ao entendimento de que eu construí o meu caminho para chegar lá, trabalhando e suando muito.

Gabriel Leone

Leone já estava com um pé em Hollywood - sua empresária firmou uma parceria com uma profissional alemã que já procurava oportunidades para ele fora do País. Mas foi o produtor Rodrigo Teixeira que acabou fazendo a conexão entre ele, um agente de talentos e Mann. O ator enviou uma audição em vídeo e, após dois dias, já foi aprovado para o papel.

“Uma semana depois [que consegui o papel], aconteceu uma coisa muito importante: eu fiz um Zoom com o Michael Mann, coisa rápida para a gente se conhecer. Nesse dia, ele falou: ‘você foi feito para esse personagem e ele foi feito para você'. Ele me deu uma confiança [grande] já de cara”, lembra.

E isso era importante, pois, como o público descobrirá, o personagem de Leone - o último a ser escalado - é bastante relevante para a história. No mês seguinte, ele embarcou para a Itália com a companheira, a atriz Carla Salle. Passou quatro meses filmando, viajou, conheceu a fábrica da montadora em Maranello, assistiu ao GP de Monza de Fórmula 1 e pôde sentir a força da Ferrari no país, que trata a marca e a equipe quase como uma religião.

Carreira internacional

Aos 30 anos, Leone já fez teatro, novela, série e cinema - seus créditos incluem Um Lugar ao Sol, Velho Chico, Verdades Secretas, o longa Eduardo e Mônica e o seriado Dom, para citar alguns. Agora, chega ao cinema internacional se inspirando em brasileiros que fizeram caminhos similares: Rodrigo Santoro, Wagner Moura e Alice Braga (a Mônica, do filme inspirado na música do Legião Urbana).

Da esquerda para a direita: Gabriel Leone como Felipe para a novela 'Um Lugar ao Sol', ao lado de Alice Braga para 'Eduardo e Mônica' e como Dom, para a série do Prime Video. Foto: Fábio Rocha/Globo, Janine Moraes/Divulgação e Amazon Prime Video/Divulgação

PUBLICIDADE

“Acho que os três foram esses desbravadores. Antes de eu ser ator, já acompanhava a carreira deles. Ao longo da vida fui trabalhando com alguns, conhecendo e fazendo amizades. Nos falamos e temos muito carinho. Cada um fez seu caminho. As coisas acontecem do jeito que têm que acontecer”, diz.

Ele também esclarece: “Não tenho nenhuma intenção de transformar a minha carreira em internacional, ou seja, parar de fazer projetos no Brasil. Muito pelo contrário, estou aberto para bons projetos, que me interessem, e personagens que me desafiem”.

Não nega a possibilidade de voltar a trabalhar em novelas, apesar de, nesse momento, evitar o comprometimento e tempo que elas exigem. Conta, inclusive, que exaltou as produções nacionais durante um jantar com Michael Mann.

Publicidade

Gabriel Leone diz não ter intenção de transformar carreira em internacional. Foto: Taba Benedicto/ Estadao

“Ele me perguntou sobre a indústria audiovisual brasileira, e, por acaso, na época, eu tinha recém-lançado O Rio do Desejo, filme do Sérgio Machado, que se passa na Amazônia”, lembra. “Comecei a tentar explicar para ele um pouco e fazer uma certa retrospectiva recente, de pandemia, de governo Bolsonaro e muitos ataques à cultura.”

Em dado momento, eu resumi, falei: ‘Michael, no Brasil, temos grandes talentos em todas as áreas. Temos grandes histórias para serem contadas. A nossa literatura é fabulosa. O que eu sinto que falta em geral para os nossos projetos é orçamento’.

Leone explica que, com Ferrari, viu como o “orçamento estava a serviço da história, e não o contrário”, como já havia vivido em produções brasileiras. O ator também opina que, apesar de o streaming ter ajudado a indústria nacional, esse “é um dinheiro que vem de fora” e, portanto, está sujeito a decisões de uma matriz internacional.

“Infelizmente, eu não acho que as coisas se resolvem da noite para o dia. Vejo, sim, uma perspectiva de melhora. Acho que são importantes as políticas de protecionismo ao mercado nacional, principalmente em relação ao streaming. Ainda estamos passando por esse período de transição de um momento muito ruim que vivemos”, afirma.

Gabriel Leone em distribuidora na zona oeste de São Paulo. O ator vive Alfonso de Portago em 'Ferrari' e dará vida a Ayrton Senna em série da Netflix. Foto: Taba Benedicto/ Estadao

Maratona de projetos

Agora, o artista diz que está vivendo um momento de “descompressão” depois de um dos períodos mais intensos de sua vida. Quando voltou de Módena, passou uma temporada em Cananéia, no litoral sul de São Paulo, onde rodou o filme Barba Ensopada de Sangue - adaptação do romance de Daniel Galera. Depois, voltou ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, para gravar a última temporada de Dom, série que protagoniza no Prime Video.

Mal teve tempo de respirar e logo começaram as gravações de Senna, que passaram pelo Uruguai, Argentina e Irlanda do Norte antes de retornaram ao Brasil. “Quando eu vi a possibilidade de fazer esses quatro projetos, eu cheguei a duvidar de que daria certo em termos de agenda”, revela.

Gabriel Leone conta que está em momento de 'descompressão' e que viveu 'limite do cansaço mental e físico' no final de 2023. Foto: Taba Benedicto/ Estadao

Ele chegou a recusar outros convites para dar conta de tudo e ainda conseguir cuidar da saúde mental e revela que no fim do ano passado estava chegando no limite de cansaço mental e físico.

Tento cuidar de mim e isso inclui terapia e me manter ao máximo conectado comigo. Tento separar o trabalho e o meu tempo para vida pessoal, para a minha relação, para a família e amigos. São tentativas, mas, na prática, eventualmente, as coisas não saem como a gente planeja.

Pular de uma produção para outra em tão pouco tempo também foi um desafio. “O Barba, o Dom e o Senna são projetos e personagens muito intensos e diferentes. Um tem o sotaque gaúcho, o Senna é paulista e o Dom, ultra carioca, cada um com uma energia e uma caracterização muito específica. O ideal é poder ter um tempo entre os trabalhos, mas eram quatro projetos que eu queria muito fazer”, diz.

Publicidade

E o Senna?

Foi no fim dessa maratona que ele começou o processo de viver Ayrton Senna. “Quando eu comecei a fazer pesquisa, chegou um momento que eu fiquei angustiado. Falei ‘cara, eu não vou dar conta de ler tudo, de ver todas as fotos, todos os vídeos, de escutar todas as opiniões, todas as visões de todas as pessoas. É muita coisa”.

A produção terá seis episódios e vai mostrar toda a carreira do piloto no automobilismo. Para Leone, o que vai surpreender o público na produção é a possibilidade de “encaixar as peças” com os materiais já disponíveis sobre o piloto: para onde ele foi depois de uma corrida? De uma polêmica? Que tipo de conversas tinha com a família? Com as namoradas?

Gabriel Leone viverá Ayrton Senna em série da Netflix.  Foto: Raquel Espírito Santo/Netflix

“O interessante é esse quebra-cabeça de muitas coisas que as pessoas que viveram têm na memória. É o ‘entre’: você vai ver como essas situações reverberaram nele, o ponto de vista dele, a forma que ele raciocinava e enxergava o mundo. Você vai ver as relações que ele tinha com a família, com as pessoas próximas a ele e de que forma isso o transformava”, diz o ator.

O artista explica que o processo de interpretar outra pessoa começa muito pelo físico, pelo ato de se “desconstruir, caracterizar e se enxergar mais próximo do personagem”. Por isso, enquanto estava loiro e marcado pelo sotaque carioca de Dom, teve a tarefa de se desconectar desse protagonista que marcou sua carreira e que, inclusive, foi um dos motivos pelo qual Michael Mann confiou no seu trabalho.

“Eu olhava para o espelho e via o Dom. Que bom, porque era o personagem que eu tinha acabado de fazer. Mas foi uma virada de chave que tive que dar para me aproximar do universo do Ayrton, das coisas que ele gostava, do que ele usava, da energia dele. É, sem dúvidas, uma responsabilidade enorme. E isso começava com a preparação”, afirma.

Existia também um cuidado de não criar uma caricatura ou uma imitação do piloto: “Era achar essa essência dele dentro de mim. Esses pontos de conexão para que eu contasse essa história toda com o máximo de verdade possível”.

Com o encerramento das gravações de Senna, Leone raspou o cabelo, um ato simbólico para deixar as caracterizações para trás e se reconectar com ele mesmo. “É um momento para eu descansar, cuidar de mim, da minha saúde, cuidar da família. E, acima de tudo, acho que o ócio criativo é muito importante.”

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.