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Festival de Cannes terá pela primeira vez um terço de diretoras mulheres na competição

São 7 no total, contra 5 em 2022; o caminho para a paridade de gênero, no entanto, é lento

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Por Alexandra del Peral
Atualização:

AFP - A paridade avança, mas ainda resta um caminho a percorrer no 76º Festival de Cannes, com sete diretoras de um total de 21 filmes na disputa pela Palma de Ouro. A abertura de um dos maiores eventos de cinema do mundo será nesta terça-feira, 16.

Sete, um número recorde

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Pela primeira vez, o festival de cinema mais importante do mundo terá sete diretoras em sua competição oficial, ou seja, um terço do total. No ano passado, foram cinco.

“Ficamos contentes com o número de diretoras na competição, mas também estamos preocupadas porque é evidente que avançamos muito devagar”, disse à AFP Clémentine Charlemaine, membro de um grupo de pressão do cinema francês conhecido como 50/50.

A diretora Julia Ducournau durante o festivel de Cannes em que recebeu a Palma de Ouro por seu filme 'Titane' Foto: Eric Gaillard/Reuters

“Embora não tenhamos chegado à paridade, constatamos que a programação do Festival de Cinema de Cannes vai além da produção de filmes feitos por mulheres”, contrapõe Fabienne Silvestre, cofundadora e diretora do Femmes de cinéma, um “think tank” sobre a situação das mulheres no cinema europeu.

De acordo com as estatísticas do Observatório Europeu de Audiovisual, citadas pelo Femme de cinéma, 21% dos filmes europeus entre 2017 e 2021 foram rodados por mulheres.

Teto de vidro?

O Festival de Berlim, que mantém estatísticas detalhadas sobre o tema desde 2002, ainda não conseguiu ultrapassar o número de sete cineastas em competição, seu recorde até agora.

Este ano foram seis diretoras, dos 19 filmes que disputaram o Urso de Ouro, ou seja, um percentual similar ao de Cannes.

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Jane Campion ao receber o Oscar 2022.  Foto: Brian Snyder/Reuters

Em Veneza, dos 23 filmes na disputa do Leão de Ouro em 2022, oito foram dirigidos por mulheres.

Ainda assim, o caminho percorrido é importante. Em 2012, nenhuma diretora participou na principal mostra de Cannes.

Heather Rabbatts, à frente da organização ativista Time’s Up UK, comemora as mudanças na competição francesa, mas lamenta que, apesar de tudo, não haja um número suficiente de “mulheres negras”.

Em outras seções de Cannes, a paridade já chegou, como na Semana da Crítica, da qual participam seis diretoras de 11 filmes em competição.

Apenas duas mulheres conquistaram a Palma de Ouro: a neozelandesa Jane Campion, em 1993, com O Piano (prêmio dividido com o filme Adeus, Minha Concubina), e a francesa Julia Ducournau, em 2021, com Titane.

Veneza entregou três Leões de Ouro a mulheres, e de forma consecutiva: Chloé Zhao (Nomadland, em 2020), Audrey Diwan (O Acontecimento, em 2021) e Laura Poitras (All the Beauty and the Bloodshed, em 2022).

Chloé Zhao em foto de 15 de abril de 2023.  Foto: Aude Guerrucci/Reuters

Na Berlinale de 2022, o prêmio de melhor filme foi para Alcarrás, da espanhola Carla Simón. E as mulheres também levaram a estatueta de melhor direção e prêmio do júri. O sul-coreano Hong Sang-soo recebeu o Grande Prêmio do Júri. Ele mesmo disse ter-se dado conta dessa situação na entrevista coletiva final, com as perguntas de um jornalista.

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Múltiplas Causas

Como explicar a falta de continuidade, apesar de, em países como a França, metade dos alunos das principais escolas de cinema ser composta de mulheres?

“É difícil para as mulheres se projetarem com uma longa carreira no cinema. E também tem a questão do dinheiro. Pedir grandes quantias é difícil”, diz Fabienne Silvestre.

Clémentine Charlemaine confirma que “as diretoras estão confinadas aos orçamentos baixos: mais de 75% têm um orçamento inferior a 4 milhões de euros (em torno de 4,4 milhões de dólares)”, conforme um estudo do grupo 50/50.

Da mesma forma, “os produtores negros têm dificuldade de acesso aos investidores”, acrescenta Heather Rabbatts.

“As cotas ainda não despertam entusiasmo, embora existam dois países que experimentam desde 2021 uma espécie de cotas híbridas”, lembra Silvestre.

A Áustria tem cotas, mas não aplica sanções, caso não sejam respeitadas, enquanto o Reino Unido reforçou seus objetivos em termos de representatividade.

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