Festival de Veneza: Cate Blanchett brilha como maestrina da Filarmônica de Berlim no filme ‘Tár’

Filme de Todd Field é um estudo de personagem e mergulho no universo da música clássica

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Por Mariane Morisawa
Atualização:

VENEZA - O 79º Festival de Veneza está só começando, mas dá para dizer com segurança que Cate Blanchett é candidatíssima à Coppa Volpi de atriz em 2022. Sua interpretação em Tár, de Todd Field, que teve sessão oficial na noite desta quinta, 1º, é das melhores de sua carreira – e isso não é pouca coisa em se tratando de uma das melhores atrizes de sua geração. 

Cate Blanchett comoLydia Tár no fiilme de Todd Field exibido no Festival de Veneza Foto: Focus Features

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Blanchett interpreta a fictícia Lydia Tár, maestrina da Orquestra Filarmônica de Berlim. Ela é uma das raras mulheres no ramo, mas não sente ter sofrido com o machismo. Perfeccionista, geniosa e genial, Lydia é casada com a violinista Sharon (a sempre excelente Nina Hoss). Juntas, adotaram uma menina. Mas Lydia também abusa de seu poder, seja fazendo bullying com alunos ou tendo relacionamentos pouco recomendáveis com suas pupilas. 

O filme Tár usa longas sequências para construir a personagem, uma mulher complexa, muito difícil de gostar, e mergulhar nesse mundo tão pouco conhecido. O espectador acompanha não apenas a atuação da maestrina no pódio, regendo, mas também os bastidores de burocracias e politicagem. 

Mas ele é ambíguo ao lidar com questões que obviamente são provocadas por essa personagem e esse mundo. Por exemplo, o abuso de poder. O mundo da música clássica foi abalado nos últimos anos com diversas acusações de assédio sexual contra seus maestros. Aqui, Field coloca uma mulher lésbica na posição de quem abusa. 

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É uma escolha de certa forma ousada, porque parece centrar a culpa na posição e não no gênero ou orientação sexual. Acontece de ela ser uma mulher lésbica. 

'Tár', com Cate Blanchett, conta a história de uma mastrina fictícia Foto: Focus Features

A mesma coisa sobre a separação de obra e autor, algo mais atual que nunca. Lydia Tár humilha um aluno não-branco que se declara pangênero quando ele diz não gostar de Bach por ser um homem branco heterossexual. A cena provocou risadas na sessão de imprensa, com críticos concordando com a personagem. Mas a questão de como a apreciação da arte é influenciada pela cor da pele, classe social, orientação sexual, gênero, em suma, pela vivência que a pessoa teve, não é uma discussão boba. 

Um filme não tem necessariamente de declarar o que acha sobre nada. Pode apenas levantar discussões. Mas Tár parece apenas jogar essas questões, sem se preocupar muito em destrinchá-las para além da construção da personagem. E, no final, o ambiente controlado de Lydia e do próprio filme, que é sóbrio e seco, explode de maneira surpreendente, mas um pouco desconectada do que se construiu até ali. 

Para uma atriz como Cate Blanchett, é uma delícia, claro. Mas, para o espectador, falta alguma coisa. 

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