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Festival do Rio 2024: veja a lista de vencedores, os filmes que valem à pena assistir e o porquê

‘Baby’ e ‘Malu’ foram os principais ganhadores no evento que trouxe muitas produções com temática sobre a vida e a morte e valorizou o preto e branco

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Atualização:

O Festival do Rio anunciou seus vencedores em 2024 durante cerimônia realizada na noite deste domingo, 13 (confira a lista completa ao fim desta matéria). Entre os destaques, Baby, Malu, Kasa Branca e A Queda do Céu.

O principal prêmio da noite, o de melhor longa-metragem de ficção, foi dividido entre Baby, que também levou nas categorias de melhor ator (João Pedro Mariano) e melhor direção de arte (Thales Junqueira) e Malu, que levou como melhor atriz coadjuvante (Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha), melhor roteiro (Pedro Freire.

Os destaques do Festival do Rio 2024

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Antes do gran finale de hoje, o cine Odeon, encravado na Cinelândia carioca, vestiu-se de gala para a dupla cerimônia de encerramento na noite de sábado, 12.

Houve sessão de O Maníaco do Parque, de Maurício Eça, com Silvero Pereira como o motoboy Francisco, considerado o maior serial killer brasileiro, tendo atacado 23 mulheres, matado dez delas e escondido os corpos no Parque do Estado, em São Paulo. E de Conclave, de Edward Berger, com Ralph Fiennes como o cardeal encarregado de organizar a eleição do novo Papa, após a morte súbita do atual pontífice. Ele descobre o segredo mais bem guardado do Vaticano, o que transforma o filme numa verdadeira teoria da conspiração.

Conclave é considerado filme de Oscar, O Maníaco do Parque começa a nascer com a expectativa de virar um estouro de bilheteria, graças ao interesse que seu protagonista despertou na mídia dos anos 1990. Levará o público aos cinemas, 30 anos depois?

A morte, presente nesses dois filmes, marca presença no Festival do Rio 2024. Ao todo, o evento apresentou cerca de 300 filmes, dos quais 90 brasileiros. A Première Brasil sempre foi a menina dos olhos do evento. A grande vitrine da produção nacional. Diversidade, ousadia, representatividade. Mas o Festival do Rio também abre outras janelas. O Panorama Mundial trouxe vencedores de Cannes – Emilia Pérez, de Jacques Audiard, que abriu o evento – e Veneza –, o Almodóvar em língua inglesa, O Quarto ao Lado -, mais seções como Expectativa, Midnight Movies, Première Latina, O Estado das Coisas, Clássicos e Cults e os clássicos restaurados pela Cinemateca Brasileira.

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Os melhores filmes do Festival do Rio 2024

Emilia Pérez conta a história de uma mulher trans, e não representa pouco a personam-título tenha sido um poderoso traficante. O filme, narrado no formato musical, é explosivo como convém ao tema.

Cena de Bela Vida, de Costa-Gravas, exibido no Festival do Rio Foto: Festival do Rio/Divulga

A eutanásia está sendo tema de numerosos filmes presentes no Rio. O Almodóvar, belíssimo, que deve estrear ainda em outubro, mas também A Hora do Orvalho, de Marco Risi, com estreia em novembro, Uma Bela Vida, de Costa-Gavras, outra estreia prometida, e até o curta brasileiro A Natureza, de Rodrigo Ribeyro, uma joia. A Natureza foi exibido como complemento de Retrato de Um Certo Oriente, de Marcelo Gomes. A Floresta Amazônica filmada em suntuoso preto e branco.

Pode parecer exagero considerar que quatro ou cinco filmes – pouco mais de 1% num universo de centenas – configurem uma tendência, mas a morte assistida virou uma questão. Em todo o mundo, há cada vez mais idosos. O sistema de saúde, que já foi colocado à prova, dará conta de assistir a tanta gente, em números cada vez mais superlativos? Onde entra a eutanásia, o direito à morte, nesse quadro?

Numa era em que a cor é praticamente obrigatória, vários filmes estão voltando ao PB como opção estética e narrativa. O Retrato de Um Certo Oriente, o italiano O Quintal Americano, de Pupi Avati, o doc sobre o jazzista Erroll Garner – Misty –, de Georges Gachot. O mais brasileiro – carioca? – dos documentaristas mundiais, Gachot fez talvez seu doc mais belo. O PB é fundamental. Aguarde para conferir, será distribuído pela Imovision.

Cena de 'Relato de um Certo Oriente', de Marcelo Gomes Foto: Festival do Rio/Divulgação

Os longas internacionais que passam no Festival Rio ficam fora da Mostra de São Paulo, que começa nesta semana. Muitos brasileiros, senão todos, integram as duas seleções.

Festival do Rio 2024: Novos documentários

Antônio Cândido foi tema de um documentário belíssimo de Eduardo Escorel, Anotações Finais. Sérgio Buarque de Hollanda, Gilberto Freyre e ele foram pensadores do Brasil. O pensamento crítico de alguma forma vira prática de vida na amizade de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Caribé, biografados por Sérgio Machado em 3 Obás de Xangô.

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Outros documentários não foram menos impactantes no Festival do Rio – Riefenstahl: Cinema e Poder, de Andres Veiel, sobre Leni, que fez aqueles filmes de celebração do nazismo: O Triunfo da Vontade e Olympia – e que revela uma mulher ambiciosa, com sede de poder.

Em matéria de documentário, porém, houve um case, e foi Apocalipse nos Trópicos. Não será nem um pouco surpreendente se Petra Costa, depois de Democracia em Vertigem, for de novo para o Oscar. Brad Pitt é um dos produtores do filme dela.

Há um momento do doc em que a diretora está no carro – uma BMW – do pastor Silas Malafaia com sua câmera. Ele se envolve numa disputa de trânsito, bate boca com outro motorista que lhe cortou a frente e emenda com sua concepção de religião que, na verdade, é um projeto de tomada de poder. Depois de Democracia em Vertigem, Petra encara outra ameaça à democracia. Em que momento ela ameaça tornar-se teocracia?

Petra está longe de ser uma unanimidade, mesmo entre seus pares. Rapidamente ela ganhou projeção nacional e internacional expondo os podres da elite brasileira, à qual, por ser bem nascida, não deixa de pertencer. Falando em primeira pessoa, Petra critica de ‘dentro’. Apocalipse é sobre o bolsonarismo, ou sobre a vertiginosa ascensão dos evangélicos na cena política brasileira? Qualquer pessoa com um mínimo de discernimento dirá que esse homem – Malafaia, o mentor de Bolsonaro - é perigoso. Revela um apetite insaciável por poder, e dinheiro. E é vaidoso. Performa para a câmera. Como Leni, no documentário de Andres Veiel.

Fachada do Cine Odeon durante o Festival do Rio em 2023 Foto: Festival do Rio

Além dos filmes do Festival do Rio

Um festival não se faz só de exibições. O Rio Market discutiu o mercado. No pós-pandemia, mudou o jeito de ver filmes. É possível reconectar espectadores e salas? Durante o festival, sim. Na Mostra, com certeza.

Um dos compromissos do Festival do Rio é com a cidade. Os filmes passam em toda parte, num movimento de inclusão. Abraçam a cidade, como gosta de dizer a diretora artística Ilda Santiago. Mas ir ao cinema não deve ser exceção. Essa conversa é complexa. Envolve custo, segurança, até horários. Os filmes não passam mais em horários contínuos, e os brasileiros têm sido penalizados com horários esdrúxulos.

Enterre Seus Mortos, de Marco Dutra, Serra das Almas, de Lírio Ferreira, Baby e os corpos elétricos que Marcelo Caetano gosta de filmar, Betânia, a musicalidade e beleza dos Lençóis Maranhenses, a exuberante – e enlouquecida – Lady Macbeth de Leandra Leal em Os Enforcados, de Fernando Coimbra, as Manas de Mariana Brennand premiadas em Veneza. Há todo um contingente de produções brasileiras que, se não estiverem na Mostra de São Paulo, chegarão logo aos cinemas.

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Malês é um projeto grandioso do ator e diretor Antônio Pitanga. O projeto de uma vida. Na gala de seu filme, Pitanga disse que queria ‘aquilombar’ o festival. Às vezes, um filme não precisa ser grande para causar impacto. Num festival em que a morte, e o desejo de morrer, estiveram tão presentes, houve também Kasa Branca, de Luciano Vidigal. O adolescente de periferia que ganha ajuda dos amigos para passar os últimos momentos com a avó que está mergulhando na noite sem fim do Alzheimer. Entre as muitas faces possíveis do cinema está a de nos fazer sentir bem.

Festival do Rio 2024: Lista de vencedores

Première Brasil

  • Melhor Longa-Metragem de Ficção: Baby (Marcelo Caetano) e Malu (Pedro Freire)
  • Melhor Diretor: Luciano Vidigal (Kasa Branca)
  • Prêmio Especial do Júri: Jamilli Correa (Manaus)
  • Melhor Ator: João Pedro Mariano (Baby)
  • Melhor Atriz: Yara de Novaes (Malu); Menção honrosa: Diana Mattos (Betânia)
  • Melhor Longa-Metragem Documentário: 3 Obás de Xangô (Sérgio Machado)
  • Melhor Direção de Documentário: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha (A Queda do Céu)
  • Melhor Roteiro: Pedro Feire (Malu)
  • Melhor Ator Coadjuvante: Diego Francisco (Kasa Branca)
  • Melhor Fotografia: Arthur Sherman (Kasa Branca)
  • Melhor Direção de Arte: Thales Junqueira (Baby)
  • Melhor Montagem: Peterkino (Salão de Baile)
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha (Malu)
  • Melhor Som: Marcos Lopes, Guile Martins e Toco Cerqueira (A Queda do Céu)
  • Melhor Trilha Sonora Original: Fernando Aranha e Guga Bruno (Kasa Branca e Quando Vira a Esquina)
  • Melhor Curta-Metragem: A Menina e o Pote (Valentina Homem)

Prêmio Félix (”celebra produções com temática LGBTQIAP+”)

  • Melhor Filme Brasileiro: Avenida Beira-Mar (Maju de Paiva)
  • Melhor Filme Internacional: Tudo Vai Ficar Bem (Ray Yeung)
  • Especial do Júri: Baby (Marcelo Caetano)
  • Melhor Documentário: A Bela de Gaza (Yolande Zauberman)

Mostra Novos Rumos

  • Melhor Longa-Metragem: Centro Ilusão (Pedro Diogenes)
  • Prêmio especial do júri: Paradeiros (Rita Piffer)
  • Melhor Diretor: Davi Pretto (Continente)
  • Melhor Atriz: Mayara Santos (Ainda Não É Amanhã)
  • Melhor ator: Reynier Morales (O Deserto de Akin)
  • Melhor curta-metragem: Carne Fresca (Giovani Barros)
  • Menções honrosas: O Céu Não Sabe Meu Nome (Carol Aó); E Seu Corpo É Belo (Yuri Costa)

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