Festival É Tudo Verdade inaugura mostra de documentários clássicos

Com 77 longas de 34 países, o evento é aberto com dois filmes do irlandês Mark Cousins e terá obra de Orson Welles

PUBLICIDADE

Por Mariane Morisawa

Depois de dois anos tendo de se adequar à pandemia com edições online, o Festival É Tudo Verdade volta às salas de cinema – mas ainda com cautela. O evento, que vai desta quinta, 31, até 10 de abril, com exibição gratuita de 77 títulos de 34 países, terá uma versão online nas plataformas É Tudo Verdade, Itaú Cultural Play e Sesc Digital, e sessões presenciais em quatro salas de São Paulo e duas do Rio de Janeiro.  “A programação quase inteira do festival está em streaming porque a maior parte das pessoas não voltou ainda às salas. E nosso compromisso é atender o público”, disse o diretor-fundador Amir Labaki, em entrevista ao Estadão, por videoconferência. 

Cena do documentário 'The Story of Film a New Generation', de Mark Cousins. Foto: Dogwoof

A edição passada teve um recorde de audiência, com 216 mil espectadores. “Para reafirmar nosso comprometimento com o cinema em sala grande, vamos fazer, quase de maneira simbólica, algumas sessões nos cinemas, cumprindo o ritual de um festival.”  Assim, os longas brasileiros em competição, por exemplo, terão a chance de fazer suas estreias na tela grande, com presença dos realizadores sempre que possível, respeitando o distanciamento social – só 50% da ocupação –, uso de máscaras obrigatório e apresentação de certificado de vacinação.  Para a abertura, Labaki escolheu dois longas do cineasta irlandês Mark Cousins. Em São Paulo, A História do Olhar é exibido hoje, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, às 20h. Uma hora depois, o filme fica disponível por 24 horas, para todo o País, na plataforma É Tudo Verdade, com limite de 1.500 acessos. O filme discute o olhar a partir da história da arte e também dos problemas de visão que o diretor enfrentou. 

Mark Cousins durante o 74º Festival de Cannes, em 2021. Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes

No Rio, A História do Cinema: Uma Nova Geração passa amanhã, às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Botafogo. A obra, que traça um panorama das transformações no cinema nos últimos anos, também fica disponível uma hora depois, por 24 horas, na plataforma É Tudo Verdade, com 1.500 acessos. “O Mark conseguiu fazer dois ensaios muito pessoais e muito diferentes entre si discutindo o olhar”, explicou Labaki. “Quando assisti, me pareceu que os dois me ofereciam a possibilidade de repensar minha relação com o olhar, saindo da pandemia, de maneira muito generosa e sofisticada.” O festival também tem uma novidade: a mostra Clássicos do É Tudo Verdade, que começa com três produções. É Tudo Verdade, versão de 1993, reconstitui a obra de Orson Welles rodada na América do Sul nos anos 1940 e jamais finalizada por ele. Chico Antônio – O Herói com Caráter, de Eduardo Escorel, é um trabalho de 1983 que resgata um personagem mencionado pelo escritor Mário de Andrade em seus trabalhos. Completa a programação A História da Guerra Civil, filme de Dziga Vertov de 1921 sobre a guerra civil na Rússia, dado como perdido e recuperado no ano passado. É a terceira exibição da obra na história. “Criamos a seção por causa da importância de defender o patrimônio mundial e brasileiro, ainda mais com a crise da Cinemateca”, disse Labaki. “Me parece que um festival do cinema tem de chamar a atenção para o cinema clássico. Gosto de citar Peter Bogdanovich: ‘Não existe filme velho, existe filme que você não viu’.”

Ao todo, a curadoria assistiu a cerca de 2 mil produções do mundo inteiro. Labaki não observa um vetor temático ou estilístico muito definido. “Mas algo tem sido bem forte nos últimos anos: as grandes inquietações do mundo estão muito rapidamente virando documentário”, lembrou. Neste ano, além da pandemia, há diversos filmes sobre a crise das democracias, que já vinha forte, examinando o que acontece no Brasil, nos Estados Unidos, na Rússia, em países da Ásia. Também aparecem vários filmes sobre a crise democrática no passado recente, como a Europa do nazi-fascismo. “Porque subitamente ficou claro que isso foi ontem, não está tão longe na história”, garantiu Labaki.  A emergência climática é outro tema recorrente. “Nem sempre a obra fala disso diretamente, mas há uma implicação porque faz parte da crise global.” O longa de encerramento, The Territory, de Alex Pritz, trata da luta do povo indígena uru-eu-wau-wau, em Rondônia, contra a presença de grileiros e o desmatamento em sua terra. O festival ainda preparou um filme-surpresa, que tem exibição no sábado, 9, às 20h, em São Paulo e no Rio. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.