Ela foi a personagem central da reflexão de Robert Altman sobre a moda em Prêt-à-Porter. Perguntado por que havia escolhido Anouk Aimée para o papel, Altman disse que precisava de alguém que imprimisse uma marca humana a esse universo que sempre lhe pareceu tão frívolo e artificial. E acrescentou que escolhera Anouk porque ela foi a eterna musa de Ungaro e amiga de Coco Chanel. Anouk era, talvez, a única coisa boa daquele filme um tanto frustrante do diretor americano. O tempo passa e ela envelhece com classe. Numa entrevista, na época do lançamento de Prêt-à-Porter, Anouk lamentou que o cinema se esquecesse das mulheres de sua idade, oferecendo poucos papéis de destaque a atrizes que tivessem ultrapassado a marca dos 50, 60 anos. O 53.º Festival de Berlim presta agora sua homenagem a Anouk Aimée dando-lhe um Urso de Ouro especial por sua extraordinária carreira. Ela merece. Nos últimos anos, a Berlinale tem premiado, por suas carreiras, astros e estrelas como Jeanne Moreau, Alain Delon, Catherine Deneuve, Kirk Douglas e Claudia Cardinale. Este ano a escolha recair sobre Anouk. Ela é sempre lembrada por seus papéis em clássicos de Federico Fellini e Jacques Demy, mas trabalhou também com Jacques Becker e colheu um imenso triunfo pessoal com o filme de Claude Lelouch vencedor da Palma de Ouro de 1966: Um Homem, Uma Mulher. Anouk dividia a cena, naquele filme, com Jean-Louis Trintignant. Os críticos detestaram o chabadá romântico de Lelouch, considerando-o pura baboseira embalada em linguagem publicitária. Mas o público adorou ver Anouk e Trintignant embalados na música de Francis Lai e Pierre Barouh. Ela era casada com esse último e ambos vieram passar a lua-de-mel no Rio já que Barouh foi sempre fã do Brasil (e da MPB). Seus grandes papéis foram em filmes como A Doce Vida, Oito e Meio e Lola, a Flor Proibida. No clássico de Fellini sobre a decadência moral contemporânea, o primeiro, transmitiu o tédio de Maddalena, a ricaça entediada da vida que precisa dormir com Marcello Mastroianni na cama de uma prostituta. Na obra-prima de Demy, faz a prostituta que espera seu homem e o filme é a versão contemporânea, meio musical, meio western, da Odisséia, vista pelo ângulo da mulher. E o que dizer dela em Os Amantes de Montparnasse, como a musa de Modigliani (Gérard Philippe)? Se você é cinéfilo, deve a essa mulher alguns de seus momentos inesquecíveis no cinema.