Dom Quixote, clássico da literatura, ganhou mais uma adaptação. Porém, desta vez, a obra de Cervantes é contada pela perspectiva das pessoas com síndrome de Down. O longa-metragem é dirigido pelo dramaturgo Leonardo Cortez e estreia nesta quinta, 1.º de setembro, no Mezanino do Centro Cultural Fiesp, em São Paulo.
Primeiro filme patrocinado pelo Sesi-SP, com produção da Spray Filmes, Down Quixote nasceu de um cenário real. Em 1998, Cortez criou o grupo Adid - Associação para o Desenvolvimento Integral do Down - de Teatro. Desde então, os atores trabalharam em muitas peças clássicas do cenário teatral, como Romeu e Julieta e Os Miseráveis. Um pouco antes de a pandemia começar, o grupo ensaiava a releitura do clássico de Cervantes e, com o isolamento social, teve de adiar o projeto.
Em entrevista ao Estadão, Cortez conta que ver os rostos dos atores nas telas do computador nos ensaios online foi o estopim para a realização do filme. “Eles estavam com muita saudade de fazer teatro, de se encontrar. Vendo-os nas telinhas eu disse: ‘Poxa, eu tenho de fazer meu primeiro filme, tem de ser o Dom Quixote, porque tenho o elenco, tenho a paixão e tenho a causa da inclusão a ser defendida e atores muito especiais’.”
Longe do palco
A história de Down Quixote ganha vida na cabeça de um dos atores, Diogo Junqueira. Afastado do teatro e isolado na casa da tia, em Tiradentes, ele mergulha no universo de Cervantes para decorar seu papel. Na obra, elementos teatrais se misturam com paisagens da cidade, captadas pelo diretor de fotografia Patrick Hanser.
Esse Down Quixote, avisa Cortez, é dotado de liberdade artística, possibilitada pelo universo criado por Cervantes - toda peça ensaiada reserva um momento de improvisação - e com o filme não foi diferente. Por isso, Down Quixote é repleto de contribuições dos atores, que levaram à cena suas perspectivas pessoais.
Down Quixote foi o primeiro filme da carreira de Cortez, que já tem uma longa experiência como ator, roteirista e dramaturgo. “Toda vez que escrevo uma peça, sempre faço uma versão para cinema, porque eu acho as minhas peças muito cinematográficas”, explica.
Cheio de sede por justiça e bondade, Dom Quixote é um cavaleiro preso num mundo brutal, que acaba se tornando vítima de chacota e preconceito por seu idealismo. Para Cortez, o olhar sensível que as pessoas com síndrome de Down levam à obra é a chave para que a sociedade consiga ter uma realidade pós-pandêmica que represente a reconstrução. Afinal, será na fé e no amor de um cavaleiro andante que o mundo há de ser reconstruído. Mesmo com o desdobramento para as telas, permanece a versão para teatro da equipe, que faz parte do Nosso Grupo de Teatro da Casa de Cultura Movimentarte. A estreia da peça será em 3 de dezembro, no Teatro do Sesi.
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