Há três anos, quando filmou Eduardo e Mônica, Gabriel Leone ainda não estava no seu momento atual. Com quatro filmes no Festival do Rio, em dezembro passado, mais o romance com a personagem de Andréa Beltrão na novela Um Lugar ao Sol, Gabriel vive um momento luminoso. É o cara. Foi “muso” do Festival do Rio. “Esse garoto é um talento. É aplicado e tem condições de dar vida aos mais diversos personagens. Não duvido que ele venha a ser o maior ator de sua geração”, diz o diretor René Sampaio. Eduardo e Mônica estreia nesta quinta, 20, em salas de todo o Brasil. Desde a reabertura das salas, o cinema brasileiro conseguiu emplacar alguns sucessos de público e crítica – Marighella, de Wagner Moura, Turma da Mônica – Lições, de Daniel Rezende. O longa adaptado da canção de Renato Russo poderá beneficiar-se das circunstâncias. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, o fenômeno do ano, começa a perder força e não há outro blockbuster chegando nas próximas semanas. Hollywood anunciará só em meados de fevereiro os indicados para o Oscar, e eles tomarão de assalto as salas, como sempre. Eduardo e Mônica poderá se favorecer desse intervalo para atrair público. E, claro, tem a atração da história, do selo Renato Russo. Gabriel faz Eduardo, Alice Braga é Mônica. Uma Alice mais solar do que o público está acostumado a ver. Pegando carona na comédia de Peter Bogdanovich, essa garota – Alice/Mônica – é uma parada.
Rememorando a história da música, que virou hit do Legião Urbana, o casal supera as diferenças para viver seu grande amor. Eduardo tem 16 anos, Mônica fica subentendido que é um pouco mais velha, já está se formando. Leone comenta a idade. “O importante é o sentimento, e Eduardo embarca nessa vertigem que é o amor de Mônica.” A composição física ajudou – “Usei aparelho nos dentes, e eu já sabia o que isso representava, porque eu mesmo usei, aos 16. Me aplicaram até espinhas”, brinca Leone. O homem de 25 anos – na época da filmagem – encolheu para simular 16.Alice – “Pertenço a uma geração que cresceu ouvindo a música. Não era nem preciso estar ligado no Legião Urbana. A música estava em toda parte. Na balada, no rádio, então Eduardo e Mônica faz parte do imaginário de muita gente”. O filme é a segunda parte da trilogia que o diretor René Sampaio pretende dedicar às canções de Russo no Legião. O primeiro foi Faroeste Caboclo, que chegou a fazer 1 milhão de espectadores em apenas duas semanas em cartaz – até ser expulso para o circuito abrigar um blockbuster estrangeiro. Isis Valverde e Fabricio Boliveira tinham aquelas cenas intensas de sexo. O erotismo permeava o filme. A questão social, também. De novo, diferenças sociais fazem parte da trama. “Precisei aprender a andar de moto, porque a moto faz parte da composição de Mônica. Tive aulas e hoje encaro sem medo (risos). É uma história muito brasileira, mas é um filme de amor, e o amor é um tema universal. Interessa a todo mundo. Eduardo e Mônica tem potencial para passar lá fora”, avalia Alice. E ela prossegue – “Foi um set bacana, com uma equipe participativa. Criamos com a figurinista as roupas perfeitas para uma personagem que, na essência, é roqueira. E o diretor de arte foi fundamental na definição da relação da Mônica com a arte. A exposição dela não ficou só bonita. É reveladora”.
Leone – “É uma honra e uma responsabilidade interpretar esses personagens porque fazem parte do imaginário coletivo. Muita gente vai encontrar personagens que talvez já tenha encenado na cabeça, porque a letra da música é muito imagética”. Embora seja uma atriz com uma carreira internacional – contracenou em Hollywood com Will Smith (Eu Sou a Lenda), Adrien Brody (Predadores) e Anthony Hopkins (O Ritual), mas a menina de seus olhos é a série A Rainha do Sul–, Alice atribui um importante crédito a Gabriel Leone. “Ele terminou virando a bússola, um norte para mim. Gabriel deu muitas ideias boas sobre como a Mônica deveria ser.” Eduardo e Mônica foi filmado em Brasília. Durante três meses, a equipe permaneceu unida. Ligada – “A gente era como uma família. Desde o início, sabíamos que o filme ia depender muito da química de nossos personagens. Tinha de ser aquele negócio de olho no olho, do contato das mãos passar a eletricidade”, conta Leone. O repórter, que não tem pudor de confessar que chorou, destaca a intensidade emocional da história e, do filme. “Entendo perfeitamente, porque eu também chorei”, diz Alice. Ela insiste no tema do afeto. “Infelizmente, a gente está vivendo, no Brasil e no mundo, uma época de muita divisão, de muito ódio. As pessoas são estimuladas a desenvolver a agressividade, a liberar sua porção de ódio. E contra isso a gente tem de acreditar no amor. Eu acredito!” Não deixa de ser curioso. Eduardo e Mônica foi feito em 2018, um ano de eleição. Deveria ter estreado em 2020, mas a pandemia atrasou o lançamento, que ocorre agora, em outro ano de eleição. “O filme é sobre gente que tem diferenças”, diz Alice. Ele ainda é um garoto. Faz cursinho, está aprendendo a falar inglês, joga futebol de botão com o avô (que Otávio Augusto interpreta tão bem). Ela está se formando em Medicina. Fala alemão, gosta de Bandeira e da Bauhaus, de Caetano e Rimbaud. O que poderia separá-los, na verdade os fortalece. “Foi um filme que eu gostei muito de fazer”, ela prossegue. “Só espero agora que o público tenha o mesmo prazer, na hora de ver.
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