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Filme iraniano 'There Is no Evil' ganha o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2020

Presidido pelo ator britânico Jeremy Irons, júri foi composto por Bérénice Bejo, Bettina Brokemper, Annemarie Jacir, Kenneth Lonergan, Luca Marinelli e Kleber Mendonça Filho

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A atriz iranianaBaran Rasoulof recebe o Urso de Ouro em nome deMohammad Rasoulof, diretor de 'There is no evil' ' Foto: Ronald Wittek/ EFE

BERLIM - Nunca houve uma premiação, pelo menos em anos recentes, como a da Berlinale de 2020. Quando o presidente do júri, o ator Jeremy Irons, falou em filme extraordinário e citou “quatro histórias que nos confrontam com a moralidade e o valor da vida humana”, o público do Palast – e o da sala de cinema em que a imprensa assistia à cerimônia na noite de ontem, 29, no telão –, já começou a aplaudir. À tarde, There Is No Evil, do iraniano Mohammad Rasoulof, já recebera o prêmio do júri ecumênico e o do Guild Film Award. E então veio a coroação: o Urso de Ouro.

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Os dois produtores lamentaram que o diretor, confinado – como Jafar Panahi – no Irã, não pudesse estar presente no Festival de Cinema de Berlim. Um agradeceu aos atores, que se arriscaram para dar vida às histórias de homens cujos atos colocam em discussão a moralidade da pena de morte e a propriedade de alguns indivíduos, mesmo com cobertura legal, ao se arvorarem como carrascos de todos. Os atores todos, homens e mulheres, choravam copiosamente. As lágrimas escorriam pelas faces gloriosas. O outro produtor, com o Urso na mão, disse que o troféu ia iniciar uma longa viagem até o Irã. Que Rasoulof ia lhe apresentar o país e o Urso ia poder ver que os iranianos são boa gente – uma maneira de responder às sucessivas tentativas do presidente Donald Trump de demonizar o Irã.

Quanto ao governo, nada nem ninguém é mais crítico do que o filme. A justiça da República Islâmica é rigorosa e sem apelação, e cabe ao exército executar as sentenças. Mas existem os que se arriscam – os objetores de consciência.

Se o júri da Fipresci, a Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, tivesse atribuído seu prêmio, o da crítica, a Tsai Ming-liang, por Rizi (Days), o mais denso e ousado, como linguagem, dos filmes da competição, crítica e júri oficial teriam feito a coisa certa.

O júri quase sempre acertou. Prêmio de melhor ator para o genial Elio Germano, por Volevo Nascondermi. Grande prêmio para a norte-americana Eliza Hittman, por seu impactante Never Rarely Sometimes Always – sobre a garota que viaja a Nova York com a amiga para abortar. A melhor atriz foi Paula Beer, a moderna pequena sereia do alemão Christian Petzold em Undine (que venceu, um tanto exageradamente, o prêmio da crítica).

Berlinale: Elio Germano ganhou o Urso de Prata de melhor ator Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters

Assim como o prêmio para o melhor filme, sinalizado pelo presidente Jeremy Irons, o Urso de Prata de direção, entregue por Kleber Mendonça Filho, também foi sinalizado pelo diretor brasileiro de Aquarius e Bacurau. Kleber falou do prazer das conversas, do amor aos gatos. Ele com certeza deve ter sido um ardente defensor de The Woman Who Ran, do diretor sul-coreano Hong Sang-soo. O próprio mestre parecia meio aturdido. Fez o mais breve dos agradecimentos. Pediu para suas duas atrizes, umas delas a magnífica Kim Min-hee, se levantarem. O público rompeu num mar de aplausos.

Berlinale: Hong Sang-soo ganhou o Urso de Prata de melhor diretor, poir 'The Woman Who Ran' Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters

À tarde, quando foram atribuídos os prêmios paralelos – Anistia Internacional, júri ecumênico, etc. –, a nova diretora executiva da Berlinale, Mariette Rissenbeek, e o diretor artístico Carlo Chatrian já haviam levantado questões como “Para que serve um festival?” e “O que é o cinema?” E ambos chegaram à conclusão de que o cinema, e o festival, devem abrir uma janela para o mundo, refletir a realidade. 

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Pode ser que o cinema não mude o mundo, mas os filmes podem afetar as pessoas, fazê-las melhores. É o que propõem o Rasoulof, o Tsai, o Hong Sang-soo e outros grandes filmes exibidos aqui. Por mais irregular que tenha sido a primeira seleção berlinense de Carlo Chatrian – ele era curador do Festival de Locarno –, ela teve seus pontos altos, e o júri internacional soube reconhecê-los.

Berlinale: Paula Beer ganhou o Urso de Prata de melhor atriz Foto: Tobias Schwarz / AFP

Principais vencedores do Festival de Cinema de Berlim

Urso de Ouro

There Is no Evil, de Mohammad Rasoulof (Irã)

Direção 

Hong Sang-soo, por The Woman Who Ran (Coreia do Sul)

Ator

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Elio Germano, por Volevo Nascondermi (Itália)

Atriz

Paula Beer, por Undine (Alemanha)

Roteiro

Irmãos D'Innocenzo, por Favolacce (Itália)

Grande Prêmio do Júri

Eliza Hittman, por Never Rarely Sometimes Always (EUA)

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Colaboração Artística 

Jürgen Jürges, por Dau. Natasha (Rússia)

Filme de Estreia

Los Conductos, de Camilo Restrepo (Colômbia, Brasil, França)

Generation 14Plus

Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza (Brasil)

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