Filme sobre Hebe Camargo e aventura espacial com Brad Pitt estão entre as estreias da semana

Veja as estreias de cinema da semana com crítica do 'Estado' e trailers

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Toda semana repete-se a avalanche de novos filmes. Na semana passada, foram 12 estreias, na anterior, outras 12. Nesta quinta, 26, são 13 lançamentos. O melhor de todos é Ad Astra – Rumo às Estrelas, de James Gray, estrelado por um Brad Pitt de presença magnética e interioridade exposta, como nervo à flor da pele. Depois do Quentin Tarantino, Era Uma Vez em Hollywood, Brad é o grande astro, e um grande ator, mas não será nenhuma surpresa se for ignorado pela Academia no ano que vem.

Cena do filme 'Ad Astra', com Brad Pitt, direção de James Gray Foto: Fox Film

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Há um problema no excesso de filmes. O mercado é formatado para filmes grandes, que ganham horários cheios. Os demais espremem-se em horários alternativos. O documentário Torre das Donzelas, de Susanna Lira, entrou na quinta, 19, em duas salas, um horário cada, quase o mesmo – 19h20 e 20h -, o que praticamente não deixa escolha. No domingo à noite, o PlayArte Center estava quase lotado, o público aplaudiu no final, mas o filme segue espremido. Entra um brasileiro candidato a blockbuster – Hebe, A Estrela do Brasil, de Maurício Farias, com Andréa Beltrão poderosa no papel da apresentadora.

O filme seleciona um recorte – a luta de Hebe Camargo contra a censura, durante a ditadura – e vai surpreender por mostrar um outro retrato, pouco conhecido, da estrela. Tudo é inventado, edulcorado, reclamam, alguns críticos. Tudo é documentado, garante a roteirista Carolina Kotscho. E tem mais – Sócrates, de Alexandre Moratto, sobre o garoto negro, pobre e gay da periferia de Santos, um filme maravilhoso que tem dado a volta ao mundo fazendo sucesso em festivais no País e no exterior, e fez bonito sendo premiado no Independent Spirit Award, nos EUA – melhor ator para Christian Malheiros (e ele merece).

O alemão O Menino Que Fazia Rir elege o paradoxo. Fala de perdas para traçar o perfil de um comediante. Palhaços, reza a lenda, no fundo são tristes. Predadores Assassinos é um filme de monstros legal – quem mandou aqueles jacarés se meterem com Kaya Scodelario? Em defesa do pai, ela luta com garra e faz o público se sacudire na poltrona.

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Veja as estreias com semana com comentários

Ad Astra – Rumo às Estrelas

Brad Pitt em 'Ad Astra' Foto: 20th Century Fox

Você já pode anotar que este será um dos grandes filmes do ano, independentemente de ser indicado para o Oscar, ou não. O astronauta Brad Pitt embarca numa jornada até Saturno em busca do pai (Tommy Lee Jones), que pode estar por trás de tempestades magnéticas que estão assolando a Terra. Depois de A Cidade Perdida de Z, também sobre pai e filho, o diretor Gray embarca numa aventura épica e intimista que, de alguma forma, toma emprestados elementos de dois grandes filmes – Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, e 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Magnífico.

Abominável

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(EUA, 2019.) Dir. de Jill Culton e Todd Wilderman.

Garota encontra um Yeti, abominável homem das neves, no telhado do prédio em que mora, em Changai, e embarca com amigos numa aventura para devolvê-lo a seu habitat, no cume nevado do Everest. Animação.

Ambiente Familiar

(Brasil, 2018.) Dir. de Torquato Joel, com Marcélia Cartaxo, Zezita Matos, Beto Quirino, Challena Barros.

O primeiro longa de um diretor com experiência – 11 títulos – no curta. Aborda os novos arranjos familiares por meio da história de três amigos que, sem vínculo sexual nem laços de sangue, formam uma família afetiva para superar traumas passados e fortalecer-se para experiências futuras. Rodado na Paraíba, em João Pessoa e arredores, beneficia-se da presença de Marcélia A Hora da Estrela Cartaxo, que venceu no mês passado o prêmio de melhor atriz na competição brasileira de Gramado por Pacarrete.

Caminhos Magnéticos

Portugal, 2018. Dir. de Edgar Pêra, com Dominique Pinon, Alba Baptista, Neri Matogrosso, Paulo Pires, Albano Jerônimo.

O nome do diretor português Edgar Pêra virou sinônimo de delírio cênico. Seu tema é o medo contemporâneo, mas não no registro do cinemas de gênero, do terror, por exemplo. Pêra aborda a insegurança do homem moderno – e, se você perder o emprego (e o amor), se for atacado na rua, se sua filha se casar com um sujeito tão desprezível quanto (sim!) Donald Trump? Para dar conta de tanta coisa ruim, o cineasta não acredita na ferramenta o realismo e constrói uma irrealidade – artificial, exagerada, circense.Não é para todos os gostos, mas tem seu mérito.

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Carta para Além dos Muros

(Brasil, 2019.) Direção de André Canto.

O vírus HIV e a aids no imaginário dos brasileiros. O diretor entrevista figuras públicas como Dráuzio Varella, Marina Person e José Serra, e também pacientes soropositivos para debater políticas públicas e como é (con)viver com o vírus.

Filhas do Sol

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(França, 2018.) Dir. de Eva Husson, com Golfishteh Farahani, Emmanuelle Bercot, Zubeyde Bulut, Maia Shamoevi.

Jornalista francesa acompanha pelotão de mulheres curdas durante a guerra. A diretora tenta dar conta do empoderamento feminino numa atividade tradicionalmente masculina, como ser soldado na guerra. A história – real – é centrada no cerco à cidade de Gordyene, onde a líder do grupo, Bahar/Golfishteh, foi feita prisioneira no passado. A história de superação não foi muito bem recebida ao integrar a seleção oficial de Cannes, no ano passado.

Foro Íntimo

(Brasil, 2017.) Dir. de Ricardo Mehedff, com Gustavo Werneck, Léo Quintão, Jefferson da Fonseca, Bia França, Alexandre Cioletti.

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Juiz ameaçado por criminosos não pode sair do fórum, onde está seguro. O diretor aproveita para mostrar o que o levou a isso, e o fórum vira foro íntimo. Com o Judiciário sob fogo cruzado no País, o filme ganha atualidade. Ganhará também relevância?

Hebe – A Estrela do Brasil

(Brasil, 2019.) Dir. de Maurício Farias, com Andréa Beltrão, Marco Ricca, Stella Miranda, Gabriel Leone, Daniel Boaventura.

Não é acurado dizer que o longa com roteiro de Carolina Kotscho deixa de lado a vida da apresentadora Hebe Camargo para focar num momento específico, e decisivo – a luta dela contra a censura do regime militar. Hebe realmente luta, mas o filme dá conta de muita coisa – o abuso do marido, a defesa de homossexuais (e a dificuldade de se comunicar com o filho gay), os problemas com emissoras, etc. Sem ser parecida com a personagem, Andréa Beltrão a encarna divinamente. Em Gramado, onde o filme venceu melhor montagem, muitos críticos reclamaram do que, para eles, era a edulcoração da personagem. Hebe era malufista, teve muitas atitudes polêmicas, mas Carol Kotscho garante – ela tomou liberdades dramatúrgicas, mas nada do que a apresentadora diz ou faz no filme é inventado. É tudo documentado. Talvez seja o caso de dizer, como Paolo Sorrentino em sua ficção sobre Silvio Berlusconi na recente 8 ½ Festa do Cinema Italiano –, tudo é inventado, tudo é documentado. O filme é candidato a blockbuster e possui muitas qualidades – a maior delas é Andréa -, mas, nesse momento de conservadorismo, suas liberdades correm o risco de parecer provocações.

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O Menino Que Fazia Rir

(Alemanha, 2018.) Dir. de Caroline Link, com Julius Weckauff, Luise Eller, Joachim Krol, Maren Kroymann.

A história de Hape Harkeling, considerado o maior comediante alemão e como ele descobriu sua vocação ainda menino, em pleno ambiente familiar. O mais incrível é que Hape descobriu que conseguia fazer todo mundo rir enquanto chorava graves perdas familiares. É o legítimo rir para não chorar. O menino Julius Weckauff é ótimo e a cena final, sem risco de spoiler, é belíssima.

Meu Amor por Grace

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(EUA, 2018.) Dir. de David L. Cunningham, com Jim Caviezel, Matt Dillon, Ryan Potter.

No Havaí racista dos anos 1920, médico branco adota menino mestiço, que vai crescer e desafiar convenções por amor a garota branca, filha do dono de plantações de café. A fábulas de amor e preconceito ganhou elogios da crítica, que destacou a leveza com que o diretor aborda temas que são pesados.

Predadores Assassinos

(EUA, 2019.) Dir. De Alexandra Aja, com Kaya Scodelario, Barry Pepper.

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Garota treinada pelo pai para ser a melhor na piscinas tem de nadar pela vida quando tempestade, seguida de inundação, provoca o surgimento de jacarés na casa em que estão isolados, na Flórida. Parece um filme de monstros bem banal, mas você vai ver que é surpreendentemente bom. Sam Raimi, das séries Noite Alucinante e Homem-Aranha, produz e o francês Aja, especialista de terror, sabe o que está fazendo.

Pyewacket – Entidade Maligna

(EUA, 2017.) Dir. de Adam MacDonald, com Nicole Muñoz, Laurie Holden, Chloe Rose.

A floresta como espaço de terror. Mãe e filha isolam-se depois que morre o marido e pai. A mãe não suporta a filha e a garota realiza ritual satânico para que ela morra. Arrepende-se e começa a culpa – o tempo todo a jovem acha que vai ocorrer alguma coisa. E, claro, acontece – o quê? O diretor compensa com a criação de clima a falta de originalidade da trama. O desfecho, quando chega, parece bem óbvio. Então, é isso?

Sócrates

(Brasil, 2018.) Dir. de Alexandre Moratto, com Christian Malheiros, e Tales Ordakji.

Garoto negro, pobre e gay da periferia de Santos, rejeitado pelo pai, tenta conseguir dinheiro para enterrar a mãe. Surgido nas Oficinas Querô, um projeto de integração de jovens santistas carentes pela via do audiovisual, o filme é fortíssimo e merecidamente tem colecionado prêmios – Festival do Rio, Mostra de São Paulo, o Independent Spirit Award (EUA), Festival de Miami, etc. Christian Malheiros é excepcional e o mesmo pode-se dizer de Tales Ordakji.

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