CANNES - A tarefa dos artistas é “iluminar o mundo”, declarou nesta sexta-feira, 17, o cineasta americano Francis Ford Coppola no Festival de Cannes, onde apresentou na quinta-feira, 16, Megalopolis, filme que está na disputa pela Palma de Ouro e que dividiu a crítica.
O filme apresenta a história de um arquiteto ambicioso e visionário, obcecado em reconstruir uma Nova York com ares imperiais, diante da oposição do prefeito, em um contexto de decadência política e moral nos Estados Unidos.
Questionado em uma entrevista coletiva sobre a atual situação política em seu país, Coppola afirmou que “há o risco de perder a República”, como aconteceu na Roma clássica.
“Há uma tendência no mundo, como se estivéssemos seguindo para uma nova direita, até mesmo para o fascismo”, alertou o diretor, de 85 anos.
“Mas a minha impressão é que os políticos não são tão relevantes” como se acredita, declarou o diretor de O Poderoso Chefão. “Acredito que cabe aos artistas iluminar o mundo”, acrescentou o veterano.
O diretor estava acompanhado de atores do filme, como Adam Driver, que interpreta o arquiteto, e que, segundo Coppola, o ajudou na montagem do filme.
Megalopolis é um filme com mais de duas horas de duração, que levou décadas para ser produzido, com um orçamento de quase US$ 120 milhões (R$ 615 milhões).
Algumas publicações americanas elogiaram o filme, que mistura política, filosofia, ficção científica e números musicais, mas a reação da crítica na Europa foi majoritariamente hostil.
“Foi como fazer teatro experimental, e isso o transformou em algo rebelde e emocionante”, disse Adam Driver.
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O jornal britânico The Guardian considerou o filme “muito chato”, enquanto o jornal espanhol El Mundo publicou como título da crítica: “Coppola cai do céu”.
O diretor de Apocalypse Now, vencedor de duas Palmas de Ouro, também revelou que está trabalhando em um novo projeto. Coppola investiu boa parte de sua fortuna na produção de Megalopolis, que conta com estrelas como Jon Voigt, Aubrey Plaza e Nathaniel Emmanuel no elenco. “O dinheiro não importa, o que importa são os amigos”, disse.
Seus filhos Roman, que estava na coletiva, e Sofia Coppola, diretora de prestígio, “já têm carreiras magníficas, sem necessidade de uma fortuna”, finalizou.
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