O Globo de Ouro sempre foi a cerimônia mais animada da temporada de premiações de Hollywood que culmina no Oscar. Com mesas no lugar de cadeiras, comida e bebida, era uma verdadeira festa. Era. Na premiação deste ano, que acontece neste domingo, 9, a partir das 18h em Los Angeles (23h em Brasília), não há tapete vermelho nem mestre de cerimônias, muito menos celebridades altinhas por conta de champanhe. “Vai ser uma entrega de prêmios mais simples, com um tom de filantropia”, disse Ana Maria Bahiana, um dos quatro membros brasileiros da Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood (Hollywood Foreign Press Association, HFPA), promotora do Globo de Ouro, em entrevista ao Estadão. Não haverá nem transmissão na televisão. A forma como acompanhar a cerimônia foi mantida como um grande mistério ao longo dos últimos meses. Tudo isso poderia ser um reflexo da variante Ômicron, que resultou no adiamento do Grammy e no cancelamento de todas as atividades presenciais do Sundance Festival. Mas não. Uma ação movida por uma jornalista norueguesa, que repetidamente teve sua admissão recusada pela HFPA, desencadeou uma série de reportagens do jornal Los Angeles Times, que acusavam a organização de falta de ética e ausência de membros negros, entre outras coisas.
Atores e diretores se manifestaram, e os estúdios, agentes e assessores de imprensa exigiram mudanças. Enquanto isso, dificultaram ou mesmo cancelaram todos os eventos que faziam especialmente para a HFPA. A associação prometeu reformas, mas as primeiras tentativas adicionaram ainda mais tensão. Depois, houve a contratação de consultores, integração de membros externos e admissão de outros integrantes de etnias variadas. “Eu diria que foi uma ótima lição. Quando você está cara a cara com uma crise como a deste ano, você corre ou muda”, disse Bahiana. Para ela, as mudanças foram em sua maioria boas. “Estamos em 2022, já bem dentro deste século. E estávamos um pouco andando a carroça.” Segundo Bahiana, a repercussão dos passos tomados pela associação para se transformar é boa. Mas, nesta edição da premiação, o que se vê é cautela. “Quase ninguém destacou as indicações ao Globo de Ouro, em termos de anúncios, redes sociais, outdoors, porque ninguém quer estar associado a tudo isso nesta temporada”, disse Scott Feinberg, colunista de premiações da revista The Hollywood Reporter, em entrevista ao Estadão. A imprensa mesmo, segundo ele, não sabe ao certo como cobrir o Globo de Ouro em 2022. Os textos com previsões dos vencedores, por exemplo, estão raríssimos. “A cerimônia não vai ter jornalistas de fora, nem artistas fazendo discursos de agradecimento. É muito mais complicado de cobrir.” Segundo Feinberg, há um sentimento na indústria de que a HFPA deveria ter pulado este ano. “Eles deram um tiro no pé, simplesmente ignorando os pedidos da Dick Clark Productions e da rede NBC para que não fizessem a cerimônia em 2022, porque precisavam se recompor e mostrar que eles entendiam a gravidade das frustrações das pessoas em Hollywood”, disse o jornalista. “Mas eles fizeram o oposto disso. Eu entendo o medo de ser esquecido com a ausência de um ano. Acredito, porém, que eles estão vendo que essa opção não melhorou em nada sua situação.
Mais do que em anos anteriores, está difícil prever os vencedores do Globo de Ouro, que anuncia seus prêmios neste domingo. As previsões feitas pelos sites, jornais e revistas americanos simplesmente não existiram nesta temporada. E, apesar de a HFPA ser pequena, com 103 membros listados em seu site, 21 deles foram admitidos neste ano e votam pela primeira vez. Não dá ainda para saber que influência eles vão ter em modificar as tendências de anos anteriores. O peso que paira sobre a associação para acertar também pode ser outro fator. O Globo de Ouro divide algumas categorias entre drama e comédia ou musical. No ano passado, por exemplo, o melhor drama de cinema foi Nomadland, de Chloe Zhao, que também levou o Oscar de produção do ano. Mas as coincidências são raras. O filme mais aclamado entre os indicados a melhor drama é Ataque dos Cães, de Jane Campion. Mas é bem possível que a HFPA opte por uma produção mais pop e fácil, como Belfast ou King Richard. Na categoria comédia ou musical, difícil escapar de Amor, Sublime Amor. Entre as atrizes de drama, há muitas queridinhas, indicadas diversas vezes: Nicole Kidman por Being the Ricardos, Olivia Colman por A Filha Perdida e Lady Gaga por Casa Gucci. Entre os atores, Will Smith (King Richard), que concorreu seis vezes e nunca levou, pode sair vencedor. Entre as atrizes de comédia ou musical, as estreantes Alana Haim (Licorice Pizza) e Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) vêm ganhando força. No caso dos atores, Andrew Garfield tomou a internet por causa de Homem-Aranha, o que pode ajudá-lo com tick, tick... BOOM!. Entre os coadjuvantes, a favorita é Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor). Entre os atores coadjuvantes, Kodi Smit-McPhee tem certa vantagem por Ataque dos Cães. É improvável também que outra pessoa além de Jane Campion leve o troféu de direção. No caso das séries, a HFPA costumava ser mais ousada, mas ano passado foi de The Crown e Schitt’s Creek, como esperado. Tirando Succession, que deve ser o melhor drama, há espaço para surpresas em comédia. Hacks e Only Murders in the Building devem ter a atenção de diversos membros, Ted Lasso foi o fenômeno do ano, mas não é impossível que The Great ou Reservation Dogs levem.
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