O Brasil disputa o Globo de Ouro nas categorias de melhor filme estrangeiro e melhor atriz (drama), com um filme de Walter Salles e Fernanda. A frase pode fazer sentido tanto para o ano de 2025, com Ainda Estou Aqui [agora a categoria se chama melhor filme em língua não inglesa] e Fernanda Torres, quanto para 1999, quando Central do Brasil e Fernanda Montenegro conseguiram feito semelhante.
Relembre abaixo detalhes sobre a conquista do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro por Central do Brasil, e também sobre a passagem de Fernanda Montenegro, ainda que sem ter sido ganhadora, pela premiação.
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À época com 69 anos de idade, Fernanda Montenegro viveu dias marcantes quando esteve nos Estados Unidos para a cerimônia do Globo de Ouro. Entre um abraço de Steven Spielberg, conversa com Meryl Streep, sua concorrente, e um gesto de “V da vitória”, feito de longe por Gregory Peck, chegou a vencer o prêmio de melhor atriz da Associação de Críticos de Los Angeles, outra entidade, pouco antes.
Na véspera do Globo de Ouro, Em seu quarto de hotel, conversava com a reportagem do Estadão sobre a repercussão de sua presença: “Até em conversas com os jornalistas eles se espantam, querendo saber quem é essa surpresa do Brasil, essa E.T. de passagem por Hollywood”.
Fernanda ainda garantia que não tinha sequer preparado um discurso para possível vitória na categoria de melhor atriz: “Se preparasse é que estaria achando que poderia vencer. Ok, se acontecer esse milagre, vou fazer um discurso breve; quanto mais rápido o agradecimento, mais chance de ele ser charmoso”.
Central do Brasil venceu Globo de Ouro em 1999
À época, Central do Brasil era exibido em 23 salas de cinema nos Estados Unidos. O produtor suíço Arthur Cohn, que trabalhava pela divulgação do longa e tentava emplacar indicações, explicava uma de suas estratégias: espaços publicitários em revistas como Variety e The Holllywood Reporter.
“Por um mês, uma tripinha amarela trará o nome do filme e uma frase dita sobre ele por alguém muito importante, dizia ao Estadão, se referindo a nomes como Lauren Bacall e Saul Zaentz.
O prêmio foi anunciado pela atriz Annette Bening, que abriu o envelope e leu o nome em ingês do filme: Central Station. Foram receber a estatueta o diretor Walter Salles, os protagonistas Fernanda Montenegro e Vinicius Oliveira e o produtor Arthur Cohn. A atriz foi a responsável por segurá-la e fazer o discurso de agradecimento.
O discurso de Fernanda Montenegro no Globo de Ouro
“Meu inglês não é bom, mas minha alma é melhor. Vocês escolheram. Em nome de nosso produtor Arthur Cohn, um verdadeiro leão, Walter Salles, um maravilhoso diretor, Michael Barker, Tom Bernard e Marcy Bloom, da Sony Classics, muito obrigado por seu apoio a Central do Brasil. Estou muito, muito feliz que nosso filme [respira fundo] foi tão bem recebido e tocou seus corações. Muito obrigada”, disse Fernanda Montenegro, falando na língua dos locais.
Ela ainda ficou no canto do palco esperando o anúncio da outra categoria em que concorria, o de melhor atriz em drama, com Meryl Streep (Um Amor Verdadeiro), Susan Sarandon (Lado a Lado), Emily Watson (Hilary e Jackie) e Cate Blanchett (Elizabeth) - esta última, a vencedora. “Foi muito barulho, muita luz e muita América” contou Fernanda, por celular, ao Estadão, ainda nos bastidores do Globo de Ouro.
Uma reportagem da época ainda explicava os esforços pensando no Oscar: a produtora Miramax, responsável por A Vida É Bela, havia levado Roberto Benigni ao local para ajudar no convencimento dos votantes do Oscar - o encerramento da escolha dos indicados se daria dois dias depois. “Nós contra-atacamos mostrando a Fernanda ainda mais”, dizia Cohn em entrevista ao Estadão.
“Caso Fernanda tivesse vencido o Globo de Ouro, sua vaga no Oscar estava assegurada. Agora é uma questão de intensificar nossa campanha por ela e esperar. Uma indicação do filme de Walter Salles para o Oscar de produção estrangeira não é o suficiente”, continuava o produtor.
Posteriormente, Central do Brasil emplacou duas indicações ao Oscar, tanto na categoria de melhor filme estrangeiro, quanto na de melhor atriz. Os vencedores, porém, foram A Vida É Bela e Gwyneth Paltrow, por sua atuação em Shakespeare Apaixonado.
Por que A Vida É Bela não participou do Globo de Ouro em 1999
Cotado como outro grande favorito nas premiações de cinema em 1999, o filme italiano A Vida É Bela, de Roberto Benini, não participou do Globo de Ouro por uma questão técnica de regulamento.
Pela norma da Hollywood Foreign Press Association, os longas que concorriam na categoria de melhor filme estrangeiro precisavam ter estreado em seu país no ano anterior. No caso do italiano, a estreia havia ocorrido no fim de 1997. No Oscar, que englobava o período de novembro de 1997 a 31 de outubro de 1998, foi possível a indicação.
Os indicados a melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro de 1999
- Central do Brasil (Brasil)
- Festa de Família (Dinamarca)
- Tango (Argentina)
- Homens Armados (México)
- The Polish Bride (Holanda)
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