‘Gran Turismo’ derrapa várias vezes, mas acaba fugindo de um acidente fatal; leia crítica

Apesar de soar como uma grande peça de marketing, longa-metragem diverte e deve chamar a atenção pelo frescor da história

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Foto do author Matheus Mans

Logo nos primeiros minutos de Gran Turismo, filme que estreia nesta quinta, 24, uma preocupação surge. Em foco, Danny Moore (Orlando Bloom, de Piratas do Caribe), um executivo de marketing da montadora Nissan e que tenta viabilizar um projeto ousado: colocar jogadores do simulador que dá nome ao filme no mundo real, pilotando carros em uma pista com asfalto. Depois de uma chuva de filmes sobre produtos em 2023 (Barbie, Air, Tetris, The Beanie Bubble), teremos mais uma peça de marketing nos cinemas?

No entanto, apesar desse começo que faz qualquer um questionar se está vendo uma propaganda ou um filme de verdade, logo Neill Blomkamp (Distrito 9, Elysium) toma a história para si. Moore rapidamente vira um imbecil dentro da história e o foco, como deveria ser desde sempre, fica em cima de Jann (Archie Madekwe), um rapaz britânico que luta para ser um dos selecionados para pilotar de verdade, e de Jack (David Harbour, de Stranger Things), treinador do rapaz que não segue o caminho óbvio e tem grande coração.

Archie Madekwe, à esquerda, e David Harbour em uma cena de 'Gran Turismo'.  Foto: Gordon Timpen/Sony Pictures

Ajeitando a rota

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E a história, apesar da bizarrice inicial, logo mostra propósito. O roteiro de Jason Hall (Sniper Americano) e Zach Baylin (King Richard, Creed III) foge da tentação de fazer mais um filme livremente inspirado em um videogame (que tradicionalmente não dá certo, vide Mortal Kombat, Need for Speed e afins) e parte para falar sobre uma história real que envolve diretamente o jogo. Nessa mudança de ângulo, Gran Turismo rapidamente ganha humanidade, deixa aquela frieza do jogo de lado e dá liberdade para a criação visual.

Enquanto isso, Blomkamp, livre para criar corridas como quiser, derrapa um pouco: mistura Velozes e Furiosos com Jogador Número 1 e fica um pouco estranho no começo. É ruim acompanhar os carros correndo em alta velocidade. A humanidade que aparece com essa mudança de foco no roteiro some com a frieza tecnológica dos carros e da viseira. Difícil pensar em melhores soluções para isso, mas Blomkamp segue pelo pior possível.

Ainda assim, de novo, dá para sentir um coração pulsando por trás da frieza das máquinas e da tecnologia. Assim como acontece em qualquer tipo de filme de competição, seja de dança (Dança Comigo?, O Lado Bom da Vida), música (A Escolha Perfeita, No Ritmo do Coração) ou corrida, torcemos naturalmente por Jann, o protagonista. Queremos que ele ganhe, que abrace seu treinador, e vá embora para casa feliz abraçar seu pai distante – é clichê, eu sei, mas é difícil conter as emoções quando o filme faz bem o arroz com feijão.

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Isso passa também pelas boas atuações de Madekwe (Midsommar) e Harbour. Os dois firmam uma parceria na história que atravessa a tela. É uma dupla que tem química. Por isso, mesmo depois de derrapar no começo e seguir cambaleante, tentando recuperar, mas sem se esforçar, Gran Turismo termina bem. Está longe de ser um primeiro lugar, sem aquela farra com champagne, mas é competente – surpreende e termina ali, perto do pódio, beliscando a medalha de bronze, o que é o bastante para comemorar.

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