Depois de quase cinco meses, chega ao fim a greve dos roteiristas de Hollywood. Os líderes do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA, sigla em inglês) aprovaram na terça-feira, 26, à noite o acordo salarial negociado com os estúdios de cinema e televisão e autorizaram o retorno ao trabalho de seus membros na quarta-feira, 27. A decisão foi tomada após votação da liderança do sindicato.
“Isso permite que os redatores retornem ao trabalho durante o processo de ratificação, mas não afeta o direito dos membros de tomar uma decisão final sobre a aprovação do contrato”, afirmou o comitê de negociação do Writers Guild of America depois que o Conselho Oeste e o Conselho Leste votaram unanimemente para suspender o " ordem de restrição” nesta terça-feira, 26.
O fim da greve não significa, no entanto, que o acordo provisório alcançado entre o sindicato, estúdios e streamings seja algo certo. Ainda é necessário que os 11.500 roteiristas votem para ratificar o contrato, em um referendo que será realizado entre 2 e 9 de outubro. Porém, a maioria dos analistas da indústria acredita que a ratificação será uma formalidade e o trabalho em projetos de TV e cinema paralisados deve recomeçar enquanto o processo é concluído. Os talk shows, que precisam de roteiristas para seus apresentadores, também devem retornar ao ar no próximo mês.
Com duração de 148 dias, essa foi a segunda greve mais longa na história do Writers Guild of America.
As demandas
Milhares de roteiristas de cinema e televisão pararam de trabalhar no início de maio em busca de demandas como melhores salários, maiores recompensas por criação de programas de sucesso e proteção contra a inteligência artificial.
Eles organizaram piquetes por meses em frente a escritórios de estúdios, incluindo da Netflix e da Disney, e receberam o apoio de atores em greve em meados de julho, deixando os lotes de Hollywood, normalmente movimentados, praticamente vazios em uma dramática mostra de força.
Após cinco dias de intensas negociações entre o sindicato e a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP, sigla em inglês), o WGA anunciou o princípio de acordo.
“Podemos dizer, com muito orgulho, que este acordo é excepcional - com ganhos e proteções significativas para os roteiristas em todos os setores da associação”, afirmou o sindicato.
O grupo citou importantes conquistas em termos de remuneração, assim como de proteção para regulamentar o uso da Inteligência Artificial (IA).
Conquistas do acordo
Na terça-feira, o WGA divulgou detalhes do acordo alcançado no domingo. O teor mostra que os estúdios cederam à maioria das exigências do sindicato e parece representar uma vitória para os roteiristas.
O acordo inclui, em particular, um bônus pelo sucesso de uma série ou filme nas plataformas de streaming, quando “20% ou mais dos assinantes nacionais do serviço assistem à produção nos primeiros 90 dias após a estreia”.
A respeito da IA, os roteiristas receberam garantias de que não serão substituídos por robôs. O acordo permite que eles reescrevam roteiros gerados por uma IA e sejam considerados os únicos autores desse tipo de obra, sem receber uma remuneração menor.
Uma das cláusulas também estabelece que “fica proibido uso de material dos roteiristas para treinar a IA”. Isto significa que as máquinas não podem receber textos de roteiristas sindicalizados para aperfeiçoar suas capacidades narrativas.
Este último ponto foi um tema sobre o qual os estúdios permaneceram em silêncio por muito tempo.
Atores em greve
Apesar do eventual avanço com os roteiristas, Hollywood ainda estará longe do ritmo normal, já que os atores - representados pelo sindicato SAG-AFTRA - permanecem em greve.
A paralisação começou em julho e pode prosseguir por mais algumas semanas, pois várias demandas do SAG-AFTRA vão além das exigências do WGA.
No atual cenário, as negociações prometem ser difíceis, principalmente porque os estúdios sabem que um acordo com os atores servirá de parâmetro para as profissões técnicas da indústria, que devem ter os acordos coletivos renovados no próximo ano.
E mesmo o retorno dos atores ao trabalho não significará a retomada imediata da indústria, pois levará meses para que todos retornem aos sets das produções paralisadas. / AFP
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