Quando Guardiões da Galáxia foi confirmado pela Marvel Studios, muita gente torceu o nariz: achavam que os personagens eram exóticos demais para os cinemas e que as pessoas não iam comprar a ideia de uma equipe formada por Chris Pratt, um guaxinim, uma árvore que quase não fala e uma mulher verde. Quem não acreditou no potencial dos Guardiões, porém, se deu mal: o primeiro filme fez US$ 770 milhões de bilheteria, o segundo passou os US$ 860 milhões e, na quinta-feira, 4, mais um filme da saga chega aos cinemas.
Desta vez, porém, tudo indica que é para se despedir. Depois de dois filmes lucrativos, e um especial de Natal, os personagens estão se aproximando da aposentadoria. Afinal, eles já fazem parte da velha Marvel, que ficou no passado com Homem de Ferro e afins, e vão entrar na roda de renovações. Publicamente, Dave Bautista (Drax), Zoe Saldana (Gamora) e Karen Gillan (Nebula) já falaram que não pretendem voltar para os seus personagens – Bautista, aliás, chegou a dizer à revista GQ que não reprisar o Drax é, enfim, um alívio.
Além disso, há toda a história envolvendo James Gunn, o diretor, roteirista e principal mente criativa por trás de toda a concepção de Guardiões nas telonas. Entre o segundo e o terceiro filmes, o cineasta foi demitido pela Marvel Studios depois que usuários do Twitter desenterraram alguns tuítes problemáticos de Gunn. A Marvel achou que era o fim da linha. No entanto, o elenco se revoltou e boa parte dos atores disse que não voltaria aos seus papéis sem o diretor. A Marvel o contratou para o filme, mas, nesse ínterim, Gunn já havia sido cooptado pela “concorrente” DC para comandar o novo universo cinematográfico.
Interlúdio
Guardiões da Galáxia Vol. 3 é, assim, uma espécie de interlúdio entre Esquadrão Suicida, primeiro trabalho da DC com a assinatura de Gunn, e esta nova fase do cineasta, comandando projetos de peso da Warner Bros. Discovery e desbravando novos heróis.
Curiosamente, porém, essa despedida dos Guardiões não tem foco em Quill, o líder do grupo vivido por Chris Pratt, mas em Rocket Racoon (um guaxinim falante, com trabalho de voz de Bradley Cooper). É ele que concentra toda a história ao seu redor quando o filme começa com Adam Warlock (Will Poulter), poderoso personagem da Marvel, indo atrás do animal falante. Rocket é ferido e, então, o grupo precisará regressar às origens do guaxinim para salvá-lo – e com isso, de quebra, o público finalmente conhece a história de Rocket.
É, assim, um filme bastante emocional. A partir dessa união em torno do personagem ferido, Gunn trabalha elementos do roteiro para falar sobre amizade, família e a importância de existirem pessoas que estão sempre ao seu lado. Além de uma quantidade razoável de minutos do longa-metragem, com suas 2h30, que é dedicada a, basicamente, criar uma distopia sobre testes de laboratórios que maltratram os animais. É o ciclo completo da visão de James Gunn para esses personagens, conforme ele conta à revista Collider.
“Foi muito importante para mim contar essa história, foi isso que me levou a escrever o primeiro filme”, contou ele. “Eu tive a visão desse passado realmente horrível para esse animalzinho que foi levado, uma criaturinha inocente, e se transformou em algo que não deveria ser, dilacerado e remontado novamente. Sua vida foi dolorosa e ele estava incrivelmente sozinho porque não há mais nada como ele. E então essa ideia do Rocket estava lá desde o começo.”
O filme está longe de ser perfeito ou, nem sequer, o melhor dessa trilogia – é um trabalho para cumprir tarefas para muitos dos envolvidos, principalmente Gunn, Bautista e Saldana, que já estão cansados de suas funções. Isso acaba se refletindo na falta de coração em muitas decisões criativas, como as músicas da trilha sonora – quase nenhuma de destaque – e até mesmo nas interações em cena, sem aquele frescor das duas outras produções e outros filmes da Marvel Studios.
Novos heróis
Ainda assim, Guardiões da Galáxia Vol. 3 consegue criar conexão. Não só por ser um dos últimos resquícios dessa Marvel que está ficando para trás, dando passagem a novos heróis, como pela falta de empenho em fazer os heróis serem mais do que são. Nada de multiverso, de coisas complicadas. São personagens à margem, como sempre foram, e que conquistam justamente por isso. São simples, estranhos e divertidos.
E pode fazer chorar – na sessão para a imprensa, foi fácil ver algumas pessoas enxugando as lágrimas e dando fungadas. Mas Gunn avisa: nem sempre é choro de tristeza. “Depende da facilidade com que você chora. Eu sei que tem muita gente chorando nas exibições”, explicou ele à Collider. “Mas nem tudo é choro triste, tem muito choro de alegria. Tem muita alegria no filme. Todo mundo fala sobre a emoção, e é emocionante, mas há muita alegria.”
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