Ninguém esperava, em 2019, que Homem-Aranha no Aranhaverso iria virar um fenômeno da cultura pop. A animação, de traços coloridos e até ousados demais para o universo dos super-heróis nos cinemas, foi celebrada pela crítica e pelo público.
O filme alcançou US$ 400 milhões de bilheteria e venceu o Oscar de Melhor Animação. Uma trajetória irretocável, que chega ao segundo filme com Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
Estreia desta quinta-feira, 1⁰ de junho, a sequência traz o queridinho do público Miles Morales, que consegue ser ainda mais divertido e interessante do que Peter Parker, já crescido. Ele viu sua vida se transformar com a picada de aranha que lhe deu poderes e, agora, tenta conciliar isso com a consciência de que há um universo paralelo com Gwen, a Mulher-Aranha que conquistou o coração do rapaz de Nova York.
Com licença
É uma continuação natural da história, mas que mostra como nem a Sony Pictures esperava tal sucesso – muito menos os roteiristas Phil Lord e Christopher Miller. Através do Aranhaverso funciona como um interlúdio. É um filme-intervalo entre o primeiro longa e o terceiro, Beyond the Spider-Verse (ainda sem título em português, mas que deve ser algo como “além do Aranhaverso”, em uma tradução livre e literal). Tem um começo, mas não tem um fim – como o recente Velozes e Furiosos 10.
Os diretores Joaquim Dos Santos (da série Avatar: A Lenda de Aang), Kemp Powers (de Soul) e Justin K. Thompson trabalham para criar as regras desse multiverso de Aranhas e, principalmente, inserir Miles Morales e Gwen Stacy em regras que, antes, não estavam necessariamente estabelecidas. Afinal, o primeiro filme tem a preocupação de ser bom. Este novo, enquanto isso, quer expandir ainda mais o universo.
Para isso, muito do que funcionou em Homem-Aranha no Aranhaverso é deixado de lado aqui. Morales, que agora precisa enfrentar os desafios do multiverso, não pode apenas perambular pelas ruas de Nova York pensando em Gwen e tendo conflitos com seus pais. Ele, agora, precisa agir como adulto e enfrentar esses perigos que ameaçam o universo. É uma espécie de Loki, a série da Marvel, mas com toda a roupagem da animação da Sony.
Pode parecer ruim por um lado, deixando a inocência e a graça do primeiro longa-metragem de canto, mas também traz a certeza de que essa história de Miles Morales ainda tem espaço. Ao site Collider, Lord e Miller confirmaram que estão trabalhando no desenvolvimento de uma série de Homem-Aranha Noir, com trabalho de voz de Nicolas Cage – e que pode estar envolvido na produção, que será com atores reais. Outras histórias também devem vir.
É um universo lucrativo e a Sony Pictures não deve largar o osso, ainda mais com tantos outros filmes sendo desenvolvidos ao redor do Homem-Aranha (como Venom 3, Kraven, o Caçador, Madame Teia, El Muerto e mais) e que podem usar Aranhaverso de trampolim.
Um filme partido
Também ao Collider, Miller e Lord confirmaram que Homem-Aranha: Através do Aranhaverso deveria ser uma única história, mas que acabaram dividindo em duas e já confirmando o terceiro filme da franquia.
“Percebemos, mais tarde do que deveríamos que estávamos tentando juntar dois filmes em um só. E percebemos que esse filme já estava completo, tinha começo, meio e fim. Miles começa de uma maneira e fecha o círculo, e é uma pessoa diferente que cresceu e tem uma atitude completamente diferente no final”, explicou a dupla de criadores e roteiristas ao site.
De fato, os personagens podem até ter um arco, mas não há fim e tampouco a história é vibrante. Como aconteceu em Harry Potter e as Relíquias da Morte ou, ainda, em Jogos Vorazes: A Esperança, um capítulo final quebrado em dois guarda muito mais ação para a segunda parte do que para a primeira. A parte inicial acaba servindo mais para estabelecer ideias e novos personagens, enquanto a segunda encerra a trama com o conflito.
Com isso, o vilão Mancha acaba ficando para segundo plano, enquanto vilões inesperados – e que não vamos citar aqui para evitar spoilers – surgem apenas no terceiro ato, deixando o desenvolvimento para depois. Fica a sensação desagradável de conversa interrompida.
Mas o visual…
Não dá para ignorar como o visual do filme continua sendo algo de cair o queixo. Depois de Gato de Botas 2 também surpreender no comecinho do ano com uma estética claramente inspirada em Aranhaverso, o novo filme dobra a aposta e faz algo ainda mais ousado.
Cada personagem tem uma estética. O mundo de Gwen, por exemplo, parece saído de uma aquarela. Um Abutre no começo do filme parece ter os traços de Da Vinci. E por aí vai. Segundo a Sony Pictures, mais de mil artistas participaram do filme. Algo sem precedentes e que, mesmo com uma história esquecível, coloca o filme em outro patamar. Dá para fazer coisas incríveis com desenhos.
“Algumas pessoas não gostam que o trabalho não tenha emendas, seja lixado e não tenha arestas. Para nós, as bordas são a parte alegre disso. Do ponto de vista da animação, durante toda a nossa carreira, tentamos levar a animação dos estúdios americanos a lugares mais radicais. E, para nós, é uma oportunidade de mostrar como as possibilidades são ilimitadas”, resume Lord para o site IndieWire. “E essa história implora por isso”.
Preste atenção: Filme tem mais de 200 Aranhas
- Vale ficar de olho nas “participações especiais” do filme. Como já deu para perceber no trailer, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso traz várias versões do herói – muitas delas só por alguns segundos. É o caso do Man-Bag, que tem a cabeça coberta por um saco de papel, e até o Advanced Suit, do jogo de PlayStation.
- Uma sacada divertida no filme é uma cena do Homem-Aranha feito de LEGO, as famosas pecinhas de brinquedo. Afinal, Lord e Miller dirigiram Uma Aventura LEGO.
- Por fim, não deixe de mergulhar nos traços e estilos dos personagens. Com o multiverso, agora dá até para notar as diferenças nos mundos de cada um deles.
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