Irmãos Russo justificam alto orçamento de ‘The Electric State’: ‘Negócios em tempo de inflação’

Em entrevista, os irmãos Russo explicam o custo do filme e defendem o modelo de negócios da Netflix para produções de grande escala

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Foto do author Matheus Mans
Foto: Breno da Matta/Netflix/Divulgação
Entrevista comJoe e Anthony RussoCineastas e produtores

É impressionante pensar que os irmãos Anthony e Joe Russo são os diretores por trás de duas das 10 maiores bilheterias de todos os tempos – são eles, afinal, os responsáveis operacionais pelos filmes Vingadores: Ultimato e Vingadores: Guerra Infinita. Esse fato, por mais que tenha a ver com o sucesso da Marvel na época, foi o suficiente para abrir portas aos irmãos, que agora comandam o longa-metragem mais caro da história da Netflix.

The Electric State, que estreou na Netflix no último dia 14, é daqueles filmes com assinatura de blockbuster: desde o elenco, com Chris Pratt e Millie Bobby Brown, passando pelo clima de aventura futurista nostálgica e até chegar ao valor de produção, orçado em cerca de US$ 320 milhões. É muito dinheiro, e são os irmãos que assinam tanto direção quanto produção – só o roteiro que ficou com Christopher Markus e Stephen McFeely, ambos de Ultimato.

Ao Estadão, os irmãos Russo falaram sobre a pressão que sentem após os dois filmes de Vingadores, como escolhem seus projetos e sobre o orçamento astronômico do novo filme.

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O que os motivou a fazer ‘The Electric State’ agora?

Joe Russo: Queríamos fazer um filme que atingisse nossos filhos e, com sorte, os filhos de todos os outros, trazendo alguns temas que pudessem inspirá-los a pensar sobre como usam a tecnologia. E é isso que mais amamos na graphic novel: seu comentário sobre a tecnologia. Não estamos demonizando a tecnologia de forma alguma. Ela já fez coisas incríveis por nós. Mas, como tudo na vida, precisa de equilíbrio. É preciso usá-la com equilíbrio. E acho que, como sociedade, estamos provavelmente nos desequilibrando. E estamos vendo alguns efeitos profundos disso. Precisamos encontrar uma maneira de nos empurrar de volta para o equilíbrio.

Depois de todo o sucesso de ‘Vingadores’, vocês sentem pressão para o próximo grande sucesso, o próximo blockbuster? Como foi isso com ‘The Electric State’?

Anthony Russo: Nosso processo é sempre o mesmo. Pensamos: como podemos nos entusiasmar? Porque, no fim das contas, você não pode prever como as outras pessoas vão reagir. Então, tendemos a nos concentrar em nossas próprias reações ao material. Se nos entusiasma, se nos surpreende. Se nos diverte. Sentimos que é algo que precisamos fazer agora? São todas essas coisas. Acho que, enquanto estivermos nos desafiando e nos empolgando, esperamos que isso se traduza para o público.

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Aliás, para além de escolher o próximo filme como diretores, como é o processo de escolher o próximo filme para produzir? Vocês produzem coisas que vão desde ‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo’ até ‘Citadel’. Como funciona isso?

Joe: Temos um gosto bastante amplo. Crescemos jogando videogames, assistindo à televisão, vendo filmes. Nunca atribuímos um valor maior a nenhuma dessas categorias. Nós simplesmente amamos a cultura pop. Então, agora, quando trabalhamos em algo, nos perguntamos: o que nos inspira no momento? É televisão? É um filme? Um jogo? Uma colaboração para uma aventura de Dungeons & Dragons? Estamos abertos a contar histórias em qualquer formato que elas cheguem até nós. O que importa é o quanto estamos inspirados a fazer aquilo. E muito disso vem dos filmes que amávamos quando crianças, porque temos um diálogo comum entre nós dois. Por isso, muitas influências nos nossos filmes vêm dos filmes que amávamos na infância.

Os irmãos Joe e Anthony Russo no set de 'The Electric State' com Millie Bobby Brown Foto: Paul Abell/Netflix

Depois de ‘Vingadores’, vocês dirigiram três filmes para streaming. ‘Cherry’, ‘Agente Oculto’ e agora ‘The Electric State’. Por quê? Vocês estão procurando ativamente projetos para streaming ou isso não é um fator?

Anthony: Bom, isso é algo que já estava presente no nosso trabalho na Marvel. Nós realmente amamos o público global. Valorizamos muito o fato de que, hoje, os filmes podem conectar pessoas ao redor do mundo. Todos podem conversar sobre esses filmes, compartilhar essas histórias juntos. Isso nos empolga muito. Os streamings proporcionaram um formato incrível para audiências globais. A Netflix tem um alcance global impressionante, e isso tem muito valor para nós. Além disso, com as tendências que temos visto — algo acelerado pela COVID — cada vez mais pessoas estão consumindo histórias via streaming. Gostamos de manter a mente aberta. Queremos alcançar o público de todas as formas possíveis. Então, achamos que esta é mais uma oportunidade única, uma forma diferente de chegar até as pessoas. Não é a única maneira, mas é uma maneira empolgante.

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Joe: Além disso, eles sempre foram grandes parceiros para nós. Dão um ótimo suporte criativo, apoiam os filmes. As pessoas que trabalham lá são incríveis. Como cineastas, tudo o que podemos querer é uma boa experiência de trabalho. Você está comprometendo dois anos da sua vida a um projeto. Então, quer garantir que a qualidade de vida durante esse período seja boa. E, nesse sentido, temos tido uma experiência excelente.

Por fim, precisamos falar sobre o orçamento de ‘The Electric State’. É enorme. Vocês acham que os streamings estão forçando os limites? O que fez o filme ser tão caro?

Joe: Para que as pessoas entendam sobre orçamentos e streamings: há um orçamento inicial para um filme que vai para o cinema. Depois, dependendo de quem está no elenco, há vários pagamentos posteriores, ligados a bônus de bilheteria e aos atores envolvidos. Num filme da Marvel, por exemplo, há um pagamento muito significativo de bônus de bilheteria para muitos atores. Isso significa que muito dinheiro é gasto depois do investimento inicial. Então, se formos comparar de igual para igual, o custo do filme precisa incluir esses pagamentos futuros. A Netflix paga tudo antecipadamente. Eles cobrem todo mundo durante toda a vida do filme. Então, quando você vê um orçamento alto num filme de streaming, ele já inclui esses pagamentos. Mas, se você for somar os valores dos bônus de um grande filme de estúdio, verá que eles são ainda mais significativos. Então, quando as pessoas dizem que os streamings estão “forçando o limite”, eu respondo: estamos forçando o limite há 15, 20 anos. Na verdade, é algo ainda mais intenso do que imaginam. Este é o custo de fazer negócios em tempos de inflação. Mas é importante entender que a Netflix faz os pagamentos antecipados. Se quisermos comparar de igual para igual, precisamos considerar isso.

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Anthony: E este filme tem um grande mundo de fantasia, certo? Criamos muitos personagens que existem apenas com efeitos especiais, grandes cenários expansivos. Foi um filme caro de desenvolver visualmente, e a Netflix estava lá. Eles viram a visão do projeto, apoiaram essa visão e puderam fornecer um orçamento que a tornasse realidade.

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