BERLIM - O Brasil já ganhou muito ouro na Berlinale - duas vezes melhor filme, três vezes melhor atriz, incontáveis pratas. Está na hora de termos um melhor ator em Berlim, e é o extraordinário Júlio Machado, que faz o Joaquim de Marcelo Gomes, exibido no início da tarde desta quinta-feira, 16, no horário local (manhã em Brasília).
É ainda uma primeira impressão, mas a história do alferes Joaquim, antes de virar o mítico Tiradentes, deve muito à presença e ao pathos de Machado.
E os 15 ou 20 minutos finais são uma epifania. Mas os aplausos, respeitáveis e breves, apontam para uma recepção não muito entusiástica.
Um jornalista português viu no Joaquim de Marcelo Gomes - sobre o alferes que se converte no herói enlouquecido de liberdade, que morre pelo Brasil, Tiradentes - ninguém menos que o ex-presidente Lula. Gomes respondeu, na coletiva em Berlim após a exibição do filme, que essa é a grandeza do cinema. "Quando o filme bate na tela, deixa de ser do diretor e pertence ao público." Ele diz não ter pensado especificamente em Lula, mas se o jornalista o viu, o filme é dele.
O que Gomes colocou foi sua representação do Brasil dos desclassificados do ouro, dos explorados. Nas relações de classe da sociedade colonial do século 18, o diretor viu a gênese das divisões sociais no Brasil de hoje. No filme, é o amor do alferes pela escrava e sua transformação que fazem com que ele mude no desfecho.
O debate virou político, sobre o que representaram os 14 anos do governo do PT para a inclusão social dos desfavorecidos. Marcelo Gomes deixou claro que a luta continua - contra o atual governo, no que pode representar como retrocesso. A mudança de quadro da Ancine é vista com apreensão. A classe cinematográfica quer a manutenção das políticas que estão dando certo.
Marcelo encerrou a coletiva lendo a carta de diretores que circula no Festival, e a na internet. "O País vive uma crise institucional. Direitos civis estão em perigo. O cinema brasileiro está em perigo. Que o mundo inteiro saiba disso", disse.
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