Julia Louis-Dreyfus produz e atua em ‘Downhill’, estreia do Festival de Sundance

Filme é remake americano do aclamado filme sueco ‘Força Maior’, de Ruben Östlund; Will Ferrell, Miranda Otto, Zach Woods e Kristofer Hivju estão no elenco

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PARK CITY, UTAH — O cinema americano ama um remake: o mais recente, Downhill, produzido e estrelado por Julia Louis-Dreyfus, é a versão Hollywood de Força Maior, o filme de Ruben Östlund que venceu o prêmio do júri da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, em 2014. Para tentar executar a tarefa à altura, ela chamou um time de estrelas: Will Ferrell, Miranda Otto, Zach Woods e Kristofer Hivju (que também estava no original) atuam no filme reescrito por Jesse Armstrong (criador da série Succession) e Nat Faxon e Jim Harsh (também os diretores, e vencedores do Oscar de roteiro adaptado em 2012 por Os Descendentes). Downhill estreou no Festival de Cinema de Sundance, que vai até este domingo, 2.

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A história é basicamente a mesma do filme original: uma família (o casal, Louis-Dreyfus e Ferrell, e dois filhos) viaja para os Alpes na tentativa de equilibrar o relacionamento, passar um tempo juntos, se divertir. Certa frieza no relacionamento se reflete nas imagens abertas e belíssimas das montanhas tomadas por neve, e a viagem parece começar a cumprir seu propósito quando uma avalanche aparece no horizonte. 

A princípio apenas uma visão distante, a onda de neve aos poucos ganha corpo e se aproxima de maneira ameaçadora da sacada do restaurante onde a família está, discutindo o menu. Quando algum tipo de choque é iminente, Pete, o pai, agarra seu celular e corre sozinho para salvar sua vida, dando as costas à família. Apesar da experiência assustadora, todos saem incólumes – menos o orgulho de Pete e a confiança de Billie (Louis-Dreyfus) no seu casamento.

Julia Louis-Dreyfus e Will Ferrell. Atores entregam atuações contidas em 'Downhill', mas é impossível não rir Foto: Sundance Institute

O filme se torna então uma rica discussão sobre masculinidade e o papel do homem na constituição da família do século 21, e momentos cômicos emergem da tensão de um drama real. Engraçados por natureza, os dois protagonistas entregam atuações contidas e, em pelo menos uma cena – na qual a esposa enfim confronta o marido, na presença de um casal de amigos –, Louis-Dreyfus dá vida a um monólogo puramente dramático. O esqui (filmado com os atores reais) pode também ser uma metáfora para o declínio do relacionamento, assim como o título (morro abaixo, em tradução literal).

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Para a produtora e para os diretores, era fundamental manter o tom continuamente constrangedor da situação e da tensão do original. “Obviamente, tivemos um elemento diferente que é a família americana num país estrangeiro, que adiciona outras vulnerabilidades à situação, como a barreira da língua”, explicou Faxon em Sundance. “Existe também o prazer de ver outros personagens encarando outras dificuldades na mesma situação, sem perder o espírito do filme original.”

Louis-Dreyfus explica que a ideia era manter um filme aberto, até ambíguo, disponível para interpretações – em uma cena, uma personagem diz a Billie que com certeza largaria o companheiro se tivesse acontecido a mesma coisa com ela. “É simples assim, preto no branco”, diz a personagem, 20 anos mais jovem, e a resposta de Billie é: “Quantos anos você tem mesmo?”.

Na hilária sessão de perguntas e respostas após a exibição do filme em Sundance, uma pessoa da plateia perguntou para o elenco qual dos diretores trabalhou mais no filme. Zach Woods (de The Office) respondeu na lata: “Um deles se esforçou muito e o outro foi muito efetivo”. Hivju, o Tormund de Game of Thrones, que tinha um papel grande no filme original, elogiou o esforço dos colegas e disse que eles fizeram um novo filme. Woods comentou, brincando: “Eu odiei Força Maior e achei que a gente tinha de consertá-lo”.

Num tom mais sério, Julia Louis-Dreyfus falou que uma transformação do material original foi tentar acrescentar camadas à personagem da mãe, e fazê-la mais imperfeita em alguns sentidos. “Mantendo a discussão sobre a masculinidade, quisemos criar outras situações para Billie, questionamentos sexuais, profissionais e pessoais”, explicou Faxon. Se o filme não tem a mesma força dramática do original, certamente oferece uma nova visão – mais leve – sobre uma história incrível.

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Produção francesa e marroquina vence prêmio de curtas

O Festival de Cinema de Sundance anunciou os vencedores dos prêmios de curta-metragem da edição 2020, que vai até o domingo, 2. So What If The Goats Die, produção francesa e marroquina dirigida por Sofia Alaoui, ganhou o prêmio especial do júri. O filme conta a história de Abdellah, um jovem pastor forçado a vencer imensas quantidades de neve para alimentar o seu rebanho, e um fenômeno sobrenatural ainda entra em seu caminho. 

A agenda de curtas de Sundance faz parte de um projeto anual do evento criado para apoiar a produção e a distribuição desse tipo de produção. Alguns dos filmes são apresentados ao longo do ano em programas especiais em 75 cidades dos EUA, do Canadá e da Europa, e diretores e produtores são convidados a dar palestras em algumas delas para auxiliar novos cineastas que queiram começar a produzir. 

Confirmando a vocação do festival em prezar pela diversidade, dos sete filmes premiados nesta primeira rodada, três são dirigidos por mulheres, dois são de pessoas que se identificam como LGBTQ e três são realizados por não caucasianos.

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Os vencedores nas categorias de longa-metragem serão anunciados em uma cerimônia neste sábado, dia 1º, em Park City, Utah, a principal base do festival americano. O ator e diretor brasileiro Wagner Moura faz parte do júri da competição internacional. 

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