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Julianne Moore estrela filme de Almodóvar sobre eutanásia e fala sobre morte: ‘Não quero que acabe’

Atriz vencedora do Oscar discute a finitude da vida em entrevista exclusiva ao ‘Estadão’; primeiro filme do diretor espanhol falado em inglês, ‘O Quarto ao Lado’ conta ainda com Tilda Swinton e estreia no Brasil nesta quinta-feira, 24

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Atualização:

Alerta: o texto abaixo trata de temas como suicídios e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final dele onde buscar ajuda.

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Ingrid, a escritora interpretada por Julianne Moore em O Quarto ao Lado, assume temer a morte. Já a atriz de 63 anos é mais ponderada sobre o tema. “Eu não penso em termos de medo, mas penso em termos de tempo”, diz ela ao Estadão, por videoconferência. “Não quero que acabe. Mesmo sabendo que vai acabar, não gosto de pensar que vai acabar. E ainda assim, acho que a experiência de saber que [a vida] é impermanente, curiosamente, pode fazer você apreciar cada dia ainda mais”, complementa.

Julianne estrela o novo filme do diretor Pedro Almodóvar, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 24. O longa-metragem, premiado no Festival de Veneza, é um dos principais cotados para o Oscar, prêmio que Moore já venceu uma vez – por seu papel em Para Sempre Alice (2014) – e foi indicada em outras quatro ocasiões.

Em 'O Quarto ao Lado', Julianne Moore trabalha pela primeira vez com o cineasta espanhol Pedro Almodóvar Foto: Warner Bros./Divulgação

A história, baseada no livro O que Você Está Enfrentando (Instante), de Sigrid Nunez, parte do ponto de vista de Ingrid após seu reencontro com Martha (Tilda Swinton), uma amiga de longa data que enfrenta um câncer terminal e quer encerrar a própria vida de maneira pacífica, por meio de eutanásia. Para a atriz, existe um moralismo ao redor do tema.

“Essas questões de direitos humanos pelas quais todos nós lutamos globalmente são muito afetadas pela moralidade, pela religião, pela cultura, pelo governo. Às vezes vemos momentos de grande progresso, mas também vemos momentos em que as coisas retrocedem. Basta olhar o progresso que fizemos em termos de quais são os direitos individuais, nossa autonomia, nosso controle sobre o próprio corpo, sobre quem amamos, sobre onde vivemos, sobre o que escolhemos fazer. Todas essas coisas estão cada vez mais importantes. E este é um filme onde isso é discutido: o que significa ter verdadeira autonomia?, o que significa escolher o que você faz com seu próprio corpo e sua vida?”, analisa a norte-americana.

A humanidade de Almodóvar

A finitude da vida é tratada com leveza por Almodóvar, que desta vez surge o menos ‘almodóvariano’ possível. Não apenas por se tratar de seu primeiro filme gravado em inglês, mas principalmente pela estética mais sóbria e menos extravagante. O cineasta, porém, não abre mão do ‘empoderamento feminino’, um de seus temas mesmo antes da expressão existir. Sua filmografia, cristalizada em clássicos como Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Volver (2006) ou Madres Paralelas (2021), tem como alicerce mulheres que estão no comando e tomando grandes decisões.

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Julianne Moore, à esquerda, estrela 'O Quarto ao Lado' com Tilda Swinton Foto: Divulgação/Warner Bros.

“A maneira como Pedro vê mundo, as cores, as composições, a musicalidade que ele ouve, seu senso elevado de moda, a beleza que ele vê nos rostos das mulheres, em nossa própria carne, na maneira como as pessoas se movem, e o amor que ele tem por relacionamentos, pela humanidade e pelo cinema... Todos esses elementos são marcadores distintos dos filmes de Almodóvar”, explica a veterana artista, cuja carreira intercala blockbusters, como O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) ou saga Jogos Vorazes, e dramas cults, como Longe do Paraíso (2002) ou As Horas (2003).

Ela já trabalhou com alguns dos maiores diretores de Hollywood, dentre eles os Irmãos Coen, Paul Thomas Anderson, Todd Haynes e até o brasileiro Fernando Meirelles, em Ensaio sobre a Cegueira (2008), mas não esconde o entusiasmo pelo caráter visionário do realizador espanhol.

“Pedro tem um ponto de vista muito forte”, diz. “Lembro que o nosso diretor de fotografia, Edu Grau, me disse: ‘sabe, nós todos estamos aqui por causa da maneira como esse homem vê o mundo’. Essa sensibilidade acentuada e seu senso de um estilo visual extremo combinados com essa emoção intensa e real... essa é a maravilhosa combinação de Pedro”, acrescenta.

A atriz Julianne Moore, durante entrevista de lançamento do filme 'Ensaio sobre a Cegueira', no hotel Haytt, na zona sul de São Paulo Foto: Clayton De Souza/AE

No livro mais recente do diretor de 75 anos, o semiautobiográfico O Último Sonho (Companhia das Letras), ele revela que aprendeu com a mãe a maior lição de sua vida: “a realidade precisa da ficção para ser mais completa, mais agradável, mais habitável”.

Nesse sentido, Moore avalia o poder da sétima arte e seu impacto na sociedade. “A vida pode ser avassaladora e as coisas podem ser desafiadoras, monótonas e menos coloridas. Mas quando nos envolvemos com ficção e cinema, é como se os sentimentos pudessem ser mais intensos, mais potentes. É uma maneira de fazer contato com o outro e isso permite você se conectar a esse sentimento de universalidade. É essa conexão que torna as coisas mais suportáveis e a vida tão maravilhosa”, finaliza.

A rede de apoio

Em momentos delicados assim, além da procura médica, o apoio dos amigos e familiares é essencial para a melhora do paciente, além de incentivar a seguir o tratamento. O psiquiatra ressalta que uma das formas de ajudar é se atentar aos sinais de mudança que o colega pode estar aparentando. “Perceber se a pessoa está mais isolada, se tem gastos excessivos, até picos de euforia”, pontua.

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“Não se fala sobre saúde mental como deveria. É importante falar sobre isso para as pessoas se conscientizarem e olharem com mais empatia e serem menos julgadores”, finaliza Michelle.

Onde buscar ajuda

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

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Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

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