Quando morreu, em 1932, aos 57 anos Edgar Wallace havia concebido uma história que, filmada no ano seguinte por Merian Cooper e Ernest Schoedsack, virou um clássico do cinema de fantasia e aventura, King Kong. Em 35 anos de carreira, Wallace escreveu 174 livros que venderam como água nas primeiras décadas do século passado. Seus policiais, mais simples que os de Agatha Christie, não se estruturam sobre detetives carismáticos como Hércules Poirot e Miss Marple. E as aventuras são delirantes, o que explica por que Merian Cooper o chamou para desenvolver sua idéia sobre um gorila gigante. Wallace criou a história que foi roteirizada por James Creelman e agora sai no Brasil, pela Ediouro, em formato de romance, escrito por Delos W. Lovelace. O livro pega carona no lançamento do filme de Peter Jackson. Começa com a tripulação do Wanderer lançando-se ao mar. É um começo eletrizante, cheio de sugestões, e, a partir da chegada à ilha Caveira (Skull), o leitor encontra os seres bizarros que permitem ao autor desenvolver sua trama baseada na história de A Bela e a Fera. A fala final é a mesma no filme de Jackson - Como sempre, foi a Bela quem matou a Fera. Pouca gente se lembra do escritor. Ele pertence a uma era em que W. Somerset Maugham era campeão de vendas em todo o mundo e Charles Morgan, com sua erudição poética e filosófica, fazia sucesso junto a um público mais seleto. Essa literatura inglesa é hoje considerada obsoleta, mas só a criação do rei Kong já garante a imortalidade de Wallace.
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