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Opinião| Linklater se une ao queridinho de Hollywood para fazer rir e emocionar com ‘Assassino Por Acaso’

Uma das boas surpresas nos cinemas em 2024, filme sabe misturar comédia e romance em uma trama absurda

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Foto do author Matheus Mans

Gary (Glen Powell, o novo queridinho de Hollywood) é um cara comum. Dá aula de filosofia e psicologia na faculdade, é dono de dois gatos e é amigo da ex-mulher. No tempo livre, como um bico, trabalho como infiltrado da polícia – mais especificamente, finge ser um assassino profissional. E é enquanto está desempenhando esse papel que se apaixona por Madison (Adria Arjona), mulher que deseja contratá-lo para matar o marido. Como lidar com isso?

Depois de uma safra fraca, com A Melhor Escolha, Cadê Você, Bernadette? e Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial, Richard Linklater parece estar de volta à forma: Assassino por Acaso, seu novo filme, em cartaz nos cinemas, traz o melhor do cineasta texano. Não tem o brilhantismo de Antes do Amanhecer ou Boyhood, mas consegue ser tão divertido quanto Escola do Rock ou, ainda, quanto o subestimado Bernie.

Um amor absurdo

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Afinal, toda essa história de amor incompreendido e impossível entre Gary e Madison explode no absurdo. Nas mãos erradas, poderia ser mais uma comédia de espiões que não sabe como transitar entre diferentes personalidades – algo como o recente Plano em Família. Só que, por mais que seja divertido, Linklater sabe colher algo a mais na trama.

Assassino por Acaso, afinal, não apenas fala sobre esse professor de filosofia tentando se passar por assassino profissional, mas também encontra espaço para discutir ID, ego, superego, Freud e Jung. As digressões para mostrar momentos de Gary na sala de aula não são apenas cenas para tomar o tempo do espectador: trazem discussões sobre filosofia e psicologia que discutem meios de compreender como nos entendemos e encaramos uma persona. Aquela é a nossa personalidade final ou podemos nos transformar? Quem somos?

Glen Powell como Gary Johnson em 'Assassino por Acaso', em cartaz nos cinemas. Foto: Matt Lankes / Netflix / Divulgação

Não à toa, as diferentes personalidades de Gary funcionam como personificações do que Freud nos apresentou como id e superego; a lei e o contra a lei. De um lado, o personagem de Powell (Top Gun: Maverick e Todos Menos Você) se torna galã, bonitão, conquistador. Do outro, é um professor sem atrativos. O mesmo vale para Madison, que se torna uma mulher fatal após sofrer nas mãos do ex.

Em momento algum, porém, Linklater tenta transformar o filme em um grande tratado existencial ao estilo de Bergman: por mais que tenha discussões sobre personalidade, tudo passa por uma lente leve e divertida do cineasta, que se inspirou em uma história real que leu no jornal Texas Monthly, em 2001. A trama ficou martelando na sua cabeça esse tempo todo, ganhando forma nesse filme que sabe se divertir com seus próprios absurdos.

Elenco afinado, romance no ar

Como cereja do bolo, ainda temos Glen Powell e Adria Arjona: lembrando um pouco a química de Ethan Hawke e Julie Delpy na trilogia do Antes, também de Linklater, os dois se encontram em cena com troca de olhares, gestos, sorrisos. A química encaixa e isso é substancial para entrarmos na proposta do filme. Pode parecer bobagem, mas Assassino por Acaso sem romance seria mais do mesmo – é aqui que Linklater sabe se expressar.

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Adria Arjona como Madison e Glen Powell como Gary Johnson em 'Assassino por Acaso'. Foto: Netflix/Divulgação

A partir dessa matéria de jornal, Linklater resgata uma história que não só trata de clichês do cinema de forma diferente, colocando a figura do assassino profissional quase como algo impossível, como também faz com que o espectador dê risada, se apaixone e pense sobre a nossa própria personalidade – e as máscaras que usamos no dia a dia – sem nunca pesar na discussão. É o melhor de Linklater, como não víamos desde Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, de 2016. Vale a pena aproveitar essa (nova?) boa forma do diretor texano.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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