Lobos, um filme estrelado por George Clooney e Brad Pitt que chegou ao Apple TV+ na sexta, 27, gostaria que você pensasse que é um thriller com um toque de comédia, embora talvez fosse uma comédia com armas e coragem. Seja como for, não é nem remotamente tenso ou misterioso, e suas modestas emoções derivam inteiramente do espetáculo de dois astros de cinema lindamente envelhecidos, arrumados, mimados e caros passando pelas situações com piscadelas e um grau de charme frágil.
O filme é uma bobagem, e sabe disso. Na maioria das vezes, porém, Lobos, escrito e dirigido por Jon Watts, é uma desculpa para que suas duas principais estrelas se expressem sobre suas próprias personalidades, o que pode ser levemente divertido e certamente assistível, mas também insuportavelmente presunçoso. É insuportável muitas vezes.
Clooney e Pitt interpretam consertadores do submundo, o tipo de profissionais misteriosos que as pessoas com poder e dinheiro contratam para limpar suas bagunças. Muito parecido com o personagem interpretado por Harvey Keitel em Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, chamado Winston Wolfe, mas conhecido como o Wolf (Lobo), os consertadores aqui aparecem e, com um pouco de graxa de cotovelo e uma mochila grande o suficiente para conter um corpo, discretamente fazem o problema desaparecer, ou essa é a ideia. A influência de Tarantino é evidente em Lobos, principalmente em seu grande número de diálogos autoconscientes, teatralidade, violência casual e foco nos personagens conversando entre si, inclusive em uma lanchonete.
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Os consertadores em Lobos se encontram de maneira inesperada, por assim dizer, logo no início, quando o personagem sem nome de Pitt interrompe Clooney durante um trabalho no interior de um suntuoso apartamento em um hotel de Nova York. Já que nenhum dos personagens possui um nome, é mais fácil referir-se aos atores que os interpretam, o que de fato aponta para o aspecto metarreferencial do filme.
Clooney está arrumando uma bagunça horrível envolvendo uma política local, Pam (uma Amy Ryan sempre cativante). Diante de uma situação que poderia arruinar sua carreira — com sangue e vidros quebrados no chão, juntamente com o que pode ser o corpo de um garoto de programa morto — Pam disca rapidamente para um número misterioso em busca de ajuda. Clooney vem ao resgate, e é aí que a história começa.
A chegada de Pitt deixa Clooney perplexo e aumenta o que se torna um problema mais confuso e perigoso. Após algumas trocas de farpas provocativas, os dois entram em uma parceria cautelosa. Pam se arruma e vai embora enquanto Clooney lida de forma inteligente com a bagunça dela, de relance para Pitt. (Se você sempre quis saber como mover um corpo discretamente, este filme oferece uma lista útil do que fazer)
E então Pitt encontra uma mochila contendo vários tijolos de drogas, e a limpeza se torna instantaneamente muito mais complicada. Fica ainda mais difícil quando o corpo se revela estar vivo e ele foge noite adentro. Chamado de Kid (Austin Abrams), ele se parece um pouco com Griffin Dunne em Depois de Horas, de Martin Scorsese, outra aventura noturna que acumula quilometragem no centro de Nova York.
Na maior parte, é agradável assistir Clooney e Pitt juntos, assumindo o manto de Paul Newman e Robert Redford dos nossos dias. Clooney e Pitt já trabalharam juntos antes, mais memoravelmente nos filmes Ocean’s de Steven Soderbergh [Onze Homens e um Segredo, etc], nos quais Clooney assumiu a liderança enquanto Pitt alegremente atuava como coadjuvante.
A facilidade entre eles aqui é palpável. Eles parecem e soam relaxados, seja a caminho de mais complicações ou trocando insultos com sobrancelhas arqueadas e sorrisos sutis. Há uma qualidade teatral em como Watts lida com seus confrontos, principalmente nos ritmos bem escritos dos diálogos e em como ele enquadra os corpos no espaço. Você está assistindo a profissionais experientes vendendo mercadorias muito familiares.
É suficiente para um filme? Claro. A velha Hollywood produziu muitos filmes nos quais pessoas famosas e bonitas não faziam muito além de aparecer e parecer invejavelmente fabulosas enquanto te entretinham por cerca de 90 minutos, e às vezes isso pode ser suficiente. Nesse aspecto, Lobos é muito um retorno ao passado, mesmo que também seja uma oportunidade perdida, e há momentos demais em que Pitt e Clooney parecem completamente satisfeitos consigo mesmos por serem, bem, eles mesmos.
Vale destacar que quando Pam liga pela primeira vez para Clooney, o número de contato dele é representado por dois colchetes — assim, [ ] — sem nada entre eles. Inicialmente, assumi que Watts preencheria esse espaço vazio, talvez com um mistério ou algumas observações perspicazes ou incisivas sobre o estrelato. Que nada.
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