Bradley Cooper fez mergulho obsessivo por 5 anos na música clássica até virar maestro Leonard Bernstein

Para filme da Netflix, Cooper aprendeu com os melhores regentes, como Gustavo Dudamel e Yannick Nézet-Séguin - e sorrateiramente em salas de concerto ou no fosso da orquestra

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Por Javier C. Hernández
Atualização:

NOVA YORK — Numa tarde do final de primavera de 2018, quando a Filarmônica de Nova York estava mergulhada nos ensaios de uma sinfonia de Richard Strauss, um visitante inesperado apareceu à porta do David Geffen Hall, a casa da orquestra.

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O visitante, o ator e diretor Bradley Cooper, vinha com uma missão. Estava se preparando para dirigir e estrelar um filme sobre Leonard Bernstein, o eminente maestro e compositor que dirigiu a filarmônica de 1958 a 1969. Queria pedir ajuda com o filme Maestro, que estreou na América do Norte na segunda-feira, 2, no Festival de Cinema de Nova York.

A filarmônica está habituada a receber luminares nos seus concertos. Mas era incomum que alguém como Cooper expressasse um interesse tão profundo pela música clássica, campo muitas vezes negligenciado na cultura popular.

“Quantas grandes estrelas de Hollywood conseguem ser genuínas ou interessadas desse jeito?”, disse Deborah Borda, então presidente e CEO da Filarmônica.

“Ficamos realmente impressionados”

Deborah Borda

Logo depois, Cooper passou a frequentar regularmente os concertos e ensaios da filarmônica, visitando o camarote do maestro e enchendo os músicos de perguntas. Ele consultou os arquivos da orquestra para examinar as partituras e as batutas de Bernstein. E se juntou aos integrantes da filarmônica numa viagem ao Cemitério Green-Wood, no Brooklyn, para colocar uma pedra no túmulo de Bernstein, um rito judaico.

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Cooper como Bernstein e Bernstein como Bernstein Foto: Jason McDonald/Netflix; Eddie Hausner/The New York Times

“Dava para ver que ele estava observando com um olhar muito especial”, disse Jaap van Zweden, diretor musical da filarmônica. “Queria entrar na alma de Bernstein”.

Imersão

A passagem de Cooper pela filarmônica foi o início de um intenso período de cinco anos em que ele mergulhou na música clássica para interpretar Bernstein, o maestro americano mais influente do século 20 e compositor cujas obras incluem não apenas West Side Story, mas música para sala de concertos.

Cooper participou de dezenas de ensaios e apresentações em Nova York, Los Angeles, Filadélfia, Berlim e Tanglewood, em Massachusetts. E fez amizade com grandes maestros, como van Zweden; Michael Tilson Thomas, pupilo de Bernstein que esteve à frente da Sinfônica de São Francisco; Gustavo Dudamel, que dirige a Filarmônica de Los Angeles; e Yannick Nézet-Séguin, diretor musical do Metropolitan Opera e da Orquestra da Filadélfia, que foi consultor de regência do filme.

Cooper já havia interpretado músicos: teve aulas de piano, violão e voz para seu papel como Jackson Maine, estrela do rock folk, no filme Nasce Uma Estrela, de 2018, que ele também dirigiu.

Mas Maestro, que estreia nos cinemas em 22 de novembro e na Netflix em 20 de dezembro, representa um novo desafio. Bernstein era uma figura grandiosa, com um estilo exuberante nas apresentações. Cooper precisava aprender não apenas a reger, mas a cativar e seduzir o público como um grande maestro.

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Cooper assistiu a imagens de arquivo de Bernstein regendo, e Nézet-Séguin gravou dezenas de vídeos de celular regendo à maneira de Bernstein. Ele também enviou narrações passo a passo das apresentações de Bernstein e ajudou Cooper no set, às vezes guiando sua regência por meio de um fone de ouvido.

Nézet-Séguin disse que o maior desafio para Cooper, assim como para muitos maestros, era “sentir-se desprotegido” e “emocionalmente nu” no palco. “Ele não se contentava com nada menos do que tinha em mente”.

O ator e diretor Bradley Cooper e o conselheiro musical Yannick Nézet-Séguin no set de 'Maestro' Foto: Jason McDonald/Netflix

Cooper, que escreveu Maestro com Josh Singer, não quis fazer comentários para esta reportagem porque pertence ao sindicato que representa os atores em greve, que proibiu seus filiados de promover filmes de estúdio. Mas numa conversa no ano passado com Cate Blanchett, que interpretou a maestrina fictícia Lydia Tár em Tár (2022), ele descreveu a regência como “a coisa mais assustadora que já vivi”.

Ele disse que as pessoas costumam perguntar: “O que um maestro faz? Você não fica só fazendo assim?”. Ele moveu os braços aleatoriamente. “Minha resposta: é a coisa mais difícil que você pode imaginar”, disse ele. “É impossível”.

Cooper cresceu perto da Filadélfia, cercado de música. Ele tocava contrabaixo e demonstrava interesse em reger, inspirado nas representações de maestros travessos nos desenhos animados Looney Tunes e Tom e Jerry. Quando tinha 8 anos, pediu uma batuta ao Papai Noel.

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“Era obcecado com a ideia de reger música clássica”, disse ele a Stephen Colbert no The Late Show no ano passado. “Você sabe como é dedicar dez mil horas a uma coisa que nunca vai fazer de verdade? Eu fiz isso para reger”.

Empenho e obsessão

Steven Spielberg, que planejava dirigir Maestro, sabia da obsessão de Cooper. Ele se lembrou de Cooper lhe dizendo que “regia tudo o que saía de seu sistema de som de alta fidelidade em casa”.

Depois da exibição de Nasce Uma Estrela, Spielberg ficou tão impressionado que decidiu entregar Maestro a Cooper.

“Levei só uns quinze minutos para perceber que esse ator brilhante é também um cineasta brilhante”, disse Spielberg, que produziu o filme, junto com Cooper e Martin Scorsese.

Cooper trabalhou para ganhar a confiança da família Bernstein, inclusive de seus filhos, Jamie, Alexander e Nina, que deram permissão para o filme usar a música de seu pai. (Maestro venceu um projeto rival sobre Bernstein, do ator Jake Gyllenhaal).

Jamie Bernstein disse que Cooper parecia “ansioso por buscar uma autenticidade essencial na história”. Ele fazia perguntas sobre o relacionamento dela com o pai e ficou especialista em imitar seus gestos, sobretudo colocar a mão no quadril enquanto regia.

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Cooper visitou a casa da família em Fairfield, Connecticut, ficou admirando um piano Steinway que Bernstein costumava tocar e examinando seus pertences: um roupão de banho, uma djellaba listrada de azul, uma garrafa de xarope para tosse que ele trouxe de uma viagem ao exterior.

“Ele era uma esponja, absorvia todos os detalhes possíveis sobre a existência da nossa família”

disse ela.

Bradley Cooper no fosso do Metropolitan Opera, onde observou Nézet-Séguin durante uma apresentação de 'Pelléas et Mélisande', de Debussy Foto: Jonathan Tichler/Metropolitan Opera

Em seus estudos de regência, Cooper passou a maior parte do tempo com Dudamel e Nézet-Séguin. Ele visitou o Walt Disney Concert Hall em Los Angeles, vestido e maquiado como Bernstein, para sessões com Dudamel.

E viajou para a Alemanha, com a partitura na mão, para observar Dudamel ensaiando a Sinfonia Ressurreição, de Gustav Mahler, com a Filarmônica de Berlim. (Dudamel não quis comentar porque também é filiado ao sindicato dos atores).

No outono passado, Cooper e Nézet-Séguin viajaram para a Catedral de Ely, na Inglaterra, para recriar uma apresentação de 1973 da Ressurreição com Bernstein e a Orquestra Sinfônica de Londres, um momento de clímax do filme.

Os músicos da Orquestra Sinfônica de Londres ficaram surpresos com a transformação de Cooper. “Foi incrível”, disse Sarah Quinn, violinista da orquestra. “Acho que precisei de uns segundos para entender o que estava acontecendo”.

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Cooper comparou interpretar Bernstein a “canalizar uma supernova”. Ele disse numa conversa gravada no Zoom com Jamie Bernstein no ano passado que o pai dela transmitia sua alma através da regência.

“Com ele, a chama nunca se apagava, o que é incrível diante de tudo o que ele viu, viveu, entendeu, compreendeu, testemunhou, até dentro de si mesmo”, disse ele no vídeo. “Que pessoa. Que espírito”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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