Marina Person tinha 6 anos quando seu pai morreu. Não era um pai qualquer. Luiz Sérgio Person, diretor de São Paulo S.A., era bonito, carismático, sedutor, talentoso. E foi um dos cineastas mais importantes de sua geração. E Person morreu jovem, com apenas 40 anos. Você pode imaginar o que tudo isso representa na cabeça de uma garota. Marina criou-se ouvindo histórias sobre esse pai cada vez mais mitificado em sua lembrança. Ela se debruçou sobre o mito para uma viagem de descoberta do homem, que é, afinal de contas, quem lhe interessa. O resultado é o documentário que terá sua estréia hoje às 21 horas, no Museu da Imagem e do Som, o MIS. É uma sessão para convidados, mas Marina esclarece quem são esses convidados. São todos os amigos e admiradores de Person, são todos os amigos e (por que não?) admiradores que a acompanham, semanalmente, em seus programas na MTV. Talvez fosse oportuno acrescentar a Person, o documentário, o subtítulo "Meu Pai", pois o retrato que Marina traça é afetivo. "É natural, pois sou filha dele", ela explica. E também é natural que o documentário seja investigativo, uma tentativa de decifrar esse enigma que nunca deixou de seduzir as pessoas. Marina confessa que sempre ouviu falar nas qualidades de seu pai. AE assim ela foi construindo, em sua cabeça, o mito que agora desconstrói. Por um prurido de autora, ela deixou de fora da montagem de seu documentário de 52 minutos - é a versão que vai ao pela TV Cultura, no dia 15 -, todos os excessos contidos nas entrevistas que fez para Person. "Em vez de deixar as pessoas falarem como meu pai era maravilhoso, eu queria que as pessoas descobrissem isso por meio do filme." Foi assim que Person tomou forma. Marina usa filmes domésticos, recorre a depoimentos. Carlos Reichenbach, Jean-Claude Bernardet, Walmor Chagas, Eva Wilma, José Mojica Marins, todos falam sobre o Person que conheceram. Surge um retrato do seu método, das suas preocupações estéticas e políticas, da sua importância. Numa cena, aparecem imagens de Marina e da irmã, Domingas, na praia, com o pai. E ela comenta com a mãe, Regina Jehá, que suas lembranças mais antigas de infância referem-se justamente à figura do pai. O repórter até brinca: "Como a tua mãe conseguiu ouvir isso sem reclamar?" Marina explica: "Na verdade, o que eu me lembro do meu é por meio desses filmezinhos que domésticos, que sedimentaram a imagem dele na minha cabeça. E quem fazia esses filmes era minha mãe, que é a cinegrafista e, mais do que isso, a documentarista da família. São filmes em que ela não aparece, pelo menos na maioria deles." Regina está em Paris, fazendo um curso de documentário. Marina confessa que está louca para ver o que a mãe vai achar do trabalho dela. Domingas, a irmã, que compartilha suas lembranças, emocionou-se muito vendo Person. E agora o documentário chega ao público, primeiro no MIS, depois na TV Cultura. O trabalho ainda não terminou. Ela já tem pronta a edição de imagem de uma versão um pouco mais longa, de 70 minutos, que pretende fazer para cinema. Mas, para isso, ainda busca patrocínio. Person nasceu como curta, ao vencer um concurso da Secretaria de Estado da Cultura, em 1998. Convencida de que tinha muito material - e de ótima qualidade -, Marina transformou o curta em média na atual versão, que já está pronta. Teve como parceiras a Cultura, que tem o direito de primeira exibição na TV, e a Prefeitura de São Paulo, que, por meio do edital de finalização permitiu concluir pelo menos parte do trabalho.