Matheus Nachtergaele e Otávio Müller falam da conexão no set de ‘O Clube dos Anjos’

Exibido na Mostra de Cinema de SP, longa baseado em obra de Luis Fernando Verissimo tem direção de Angelo Defanti

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Matheus Nachtergaele encontra-se com a reportagem do Estadão, num hotel dos Jardins, em São Paulo, para falar da próxima estreia, O Clube dos Anjos. O longa que Angelo Defanti adaptou do livro homônimo de Luis Fernando Verissimo (parte da Coleção Plenos Pecados, que tem Gula como tema), integra a programação da Mostra de Cinema. Estreia dia 3 nos cinemas.

Otávio Müller também veio para a apresentação de O Clube no fim de semana. Matheus e ele nunca haviam trabalhado juntos. Guardam ótimas lembranças do set. “O filme tem um elenco excepcional que o Angelo conseguiu reunir ao longo de dez anos”, conta Müller. “Mais recentemente, um outro diretor, baiano, também me disse que queria adaptar o Verissimo e pensava em mim para o personagem, mas prevaleceu o projeto do Angelo.”

O elenco, excepcional, inclui, além de Matheus e Müller, também Angelo Antônio, Paulo Miklos, Marco Ricca e César Mello. Matheus destaca a fineza da direção de Defanti. “É um filme muito bem feito, bem escrito. Tem soluções de mise-en-scène muito elegantes, e isso num filme que muitas vezes está expondo o pior do ser humano.” Alguém poderá pensar que O Clube dos Anjos virou um reflexo - uma metáfora - sobre o Brasil atual, mas o País ainda era outro quando essa história, ou melhor, quando a produção começou.

Lembranças

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“O personagem não sou eu, mas conheço bem esse tipo de gente que foi perdendo o dinheiro, o status social. Ocorreu com minha família.” Matheus viaja na lembrança, agora para falar de outro filme. O assunto surge porque, no Instagram do ator, Chicó e João Grilo, figuras emblemáticas de O Auto da Compadecida, estão em plena campanha da eleição presidencial. “Psiu! Não vamos falar sobre isso”, ele brinca. Mas lembra o set.

“A gente estava se divertindo muito. Não sabíamos direito no que aquilo ia dar, e um dia o Guel (o diretor Guel Arraes) chegou no meu ouvido e disse: ‘Está dando certo. Acho que vai ficar bom’. Eu não tinha mais dúvida, e sabe por quê? Uma das lembranças que guardo daquele set é de Luisa Arraes, filha do Guel, que ainda era uma menina e acompanhava o pai nas gravações. Luísa ficava siderada, na pontinha dos pés, olhando no vídeo e dando mostras de grande felicidade.” Luísa está agora no ar com ele, na segunda temporada de Cine Holliúdy, na Globo. Matheus terminará a entrevista e, na sequência, estará correndo para o aeroporto. À noite, no Projac, no Rio, ele fará gravações da terceira temporada de Cine Holliúdy.

'O Clube dos Anjos' Foto: Rodrigo Notari

O que ele pode dizer da futura temporada? “Olegário perde a eleição e vai parar na oposição ao novo prefeito.” Como é fazer um personagem que parece ter virado uma extensão dele? Dois filmes, duas temporadas. “O Olegário fica no ar quase tanto tempo quanto o protagonista dessa história, o Francysgleidisson, que o Edimilson Filho faz com tanta graça. (Luísa Arraes faz Francisca, que é a musa do diretor do Cine Holliúdy.) É um personagem que adoro fazer.”

Lá atrás, em outra entrevista, Matheus já disse que se havia inspirado no Odorico Paraguassu de Paulo Gracindo em O Bem-Amado. Acontece que, sem propriamente descolar dessa referência, Olegário foi ficando cada vez mais com a cara dele. Atores da categoria de Matheus Nachtergaele e Otávio Müller parecem tirar de letra os personagens que fazem. A pergunta - boba - que não quer calar? Eles ainda são dirigidos, ou os diretores os deixam livres para fazer o que sabem?

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Só fui aparecer no set com o filme andando. Ninguém sabia como seria o meu Lucídio, que é decisivo nas mortes que vão ocorrendo

Matheus Nachtergaele


Matheus surpreende: “Eu, às vezes, gosto de ser mandado. A Renata (Pinheiro, de Carro Rei) me enquadrava diante da equipe. ‘Não é isso!’ É natural, quem tem o filme na cabeça é o diretor, ou diretora”. Müller, que anda louco para voltar ao teatro, concorda. “Comecei com a Bia Lessa, então ter mulher mandando em mim na direção faz parte do show.” O prefeito Olegário, Cine Holliúdy. “Deu muito certo, o Brasil se reconhece no filme, nos personagens. São divertidos, mas, se você parar pra pensar, vai ver que ali dentro tem uma crítica séria. A arte, a cultura, não dá pra viver sem.”

Comer, comer

De volta a Clube dos Anjos, no imaginário de qualquer cinéfilo que se preze a história de um grupo de amigos que se reúne em sucessivas refeições para comer até morrer remete a um clássico de Marco Ferreri - A Comilança (La Grande Bouffe), de 1973, que também tinha um elenco fora de série. Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Philippe Noiret, Michel Piccoli, Andréa Ferréol. “Era uma referência da gente, mas o Angelo nunca nos falou sobre aquele filme. Já sabia o que estava querendo.”


A gente dá duro, mas também se diverte

Otávio Müller


Matheus conta que, embora todo mundo soubesse que ele ia fazer o cozinheiro - Lucídio -, o diretor guardou-o como um segredo (de Polichinelo?). “Só fui aparecer no set com o filme andando. Ninguém sabia como seria o meu Lucídio, que é decisivo nas mortes que vão ocorrendo. Esse elemento- surpresa terminou sendo positivo para os desdobramentos da trama.”

Na fase dura da pandemia, Matheus ficou em casa, cuidando das flores, dos animais. “Moro numa casa e o que começou como diversão passou a me dar um trabalho danado. Vai cuidar de bicho pra ver.” Ele teve de reduzir o número dos cachorros: “Não estava dando conta”. Otávio Müller lembra que Clube dos Anjos foi feito em estúdio, em São Paulo, e Matheus trouxe os cachorros para o hotel. É um dos privilégios da produção: “A gente dá duro, mas também se diverte”. Matheus concorda.

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