O novo filme de Moana tem uma história de bastidores conturbada, bem diferente do que é visto por aí. O projeto nasceu em 2020, na empolgação com o streaming, como série do Disney+. Tudo caminhava nesse sentido até que, no início de 2024, foi anunciado que a série tinha virado um filme. O resultado pode ser visto agora em Moana 2, que estreia nesta quinta-feira, 28, com a missão de retomar o fôlego das animações da Disney na telona.
Oficialmente, em uma chamada para investidores, Bob Iger, chefão da Disney, disse que Moana 2 virou um filme depois que os executivos ficaram impressionados com as primeiras imagens. “Sabíamos que merecia um lançamento nos cinemas”, disse Iger.
Nos bastidores, porém, há informações de que a Disney tinha ficado sem um grande lançamento para o final de ano e, acima de tudo, estava receosa por conta dos lançamentos que não foram bem nos últimos anos, como Wish e Mundo Estranho. Moana 2 poderia, de alguma forma, alavancar de novo esse “produto” do estúdio – lembrando que o primeiro longa, lançado em 2016, foi sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 600 milhões.
Ao Estadão, os diretores do filme afirmaram que veem o filme como uma sequência natural, que continua a jornada da personagem. “Queríamos garantir que a história de Moana continuasse mantendo todas as lições que ela aprendeu no primeiro filme”, diz Jason Hand, um dos três diretores que ficaram no olho do furacão com a mudança de série para filme. “Moana se reconectou com o passado. Neste [filme], ela busca garantir um futuro melhor para seu povo, representado por uma nova e incrível personagem chamada Simea, sua irmãzinha.”
Uma história no mar
Na história, Moana sai de sua ilha para encontrar outros povos. É uma questão de vida ou morte, para garantir a continuidade do legado de sua cultura – preocupação que cerca pequenas ilhas e povoados até hoje, como a Ilha de Páscoa, já que muitos dos moradores desses lugares são parentes de terceiro ou quarto grau. Nessa missão, Moana sai com alguns amigos, além do frango Hei Hei e do porquinho Puá, para achar novos povos e explorar o oceano.
Leia mais
Dá para sentir a mudança de tom, de série para filme, mais no começo da história, quando alguns personagens novos surgem sem muito propósito – como uma deusa que simplesmente não possui função e um vilão que nunca é bem explicado. Mas as coisas se amarram no final, com Moana voltando a emocionar e vencendo essas barreiras.
Um ponto importante da narrativa, que ajuda a consolidar tudo, é o mar. “O oceano foi um elemento central na continuidade da história. Sempre falávamos sobre como o oceano nos conecta. Sabíamos que Moana retornaria para uma jornada épica, mas o Jason sempre perguntava: ‘Se o oceano nos conecta, a quem e de que maneira?’”, diz outro diretor, David G. Derrick Jr. “Isso também nos deu a chance de mostrar o crescimento de Moana.”
No final, porém, Moana 2 acaba sendo um filme sobre relacionamentos. O oceano, quase como um personagem, surge como fio condutor das relações de Moana com outras pessoas – com a própria ilha, com pessoas espalhadas pelo Pacífico e até com alguns que pensavam ser inimigos.
“O oceano foi um personagem no primeiro filme e continua sendo agora. É incrível mostrar como Moana e os povos do Pacífico estão conectados”, diz Dana Ledoux Miller, diretora e também roteirista. “O mais emocionante é que pegamos as relações que amamos no primeiro filme, incluindo a de Moana com o oceano, e encontramos maneiras de desafiar essa relação. Moana se apoia no oceano, conhece-o tão bem e confia nele. Mas, o que acontece quando tudo o que você conhece e conta não está mais à sua disposição?”.
‘You’re Welcome'
Um dos pontos altos de Moana, de 2016, é a música de Lin-Manuel Miranda. Não chega a ser o sucesso absoluto de Frozen e Let It Go, mas são canções que se perpetuaram, como How Far I’ll Go, You’re Welcome e Where You Are. Agora, Miranda não está envolvido com a sequência, que ficou nas mãos de Mark Mancina e Opetaia Foaʻi – este último nasceu em Samoa, cresceu na Nova Zelândia e agora mora na Austrália, onde é parte de uma banda polinésia.
Mesmo que seja relevante a saída de Miranda, também é importante ver a chegada de uma pessoa que conhece e vive a cultura polinésia para fazer a trilha sonora do longa-metragem. Os três diretores, aliás, também são pessoas com origens polinésias.
“É um filme sobre família e comunidade. Desta vez, quando Moana parte, ela não vai sozinha nem às escondidas. Ela tem a bênção de toda a aldeia. Seu povo a acompanha”, diz Jason. Dana continua dizendo que a continuação “foi um trabalho de amor”. “Este é o primeiro filme com diretores samoanos e uma roteirista samoana, então muito disso veio de nós mesmos”, explica. “Pudemos ser quem somos e contarmos uma história que significa muito para nós.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.