O cineasta suíço Alain Tanner, considerado um dos pioneiros do movimento cinematográfico New Wave em seu país, morreu no domingo, 11, aos 92 anos, anunciou a associação que leva seu nome.
“Reconhecido internacionalmente, Alain Tanner foi uma das principais figuras do cinema suíço e é um dos fundadores do novo cinema suíço na década de 1970 na companhia de seus colegas Michel Soutter, Claude Goretta, Jean-Louis Roy e Jean-Jacques Lagrange”, acrescentou a associação em comunicado.
Este “Grupo dos Cinco”, criado por Goretta na Universidade de Genebra, renovou a sétima arte suíça, refletindo então o espírito de inconformismo que caracterizava a época.
Tanner foi, de fato, um dos cineastas europeus mais engajados politicamente nos anos 1960 - era um exemplo de cineasta militante.
O Último a Rir (1969), seu primeiro longa-metragem de ficção, é contemporâneo à New Wave na França e marca o início do cinema politicamente engajado na Suíça. Esse filme, que conta a história de um empresário que decidiu abandonar a vida capitalista tradicional para viver à margem da sociedade, quando as manifestações estudantis estavam em alta, ganhou o primeiro prêmio no festival de Locarno.
Sua obra mais conhecida - e que fez muito sucesso no Brasil - é Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000. Realizado em 1976, o longa trata do tema da utopia por meio de uma comunidade de contestadores. Sob pressão da sociedade, eles começam a vivenciar suas frustrações de forma visceral, mas o diretor projeta a esperança do grupo no pequeno Jonas. Naquela época, Tanner apostava na necessidade de um novo contrato social.
Outro destaque é Réquiem - Um Encontro com Fernando Pessoa (1998), baseado na obra do escritor italiano Antonio Tabucchi. Não é um filme fácil, mas possui delicadezas que recompensam o espectador. Aqui, Tanner busca entender o que, afinal de contas, constitui a identidade do povo português. Um certo conhecimento intelectual é indispensável nessa travessia, o que erroneamente garantiu a Tanner adjetivos como frio, sem alma, cerebral.
Era, como todo grande artista, um homem inconformado em com seu tempo e pensava o cinema como meio para catalisar ideias sobre como melhorar o presente - isso sem perder seu perfil artístico. Assim, foi ficando cada vez mais decepcionado com a crescente comercialização da chamada sétima arte.
Tanto que anunciou, em 2004, sua despedida definitiva do cinema com o filme Paul s’en Va. Sua justificativa: “Fazer cinema hoje é um inferno. Tudo funciona em torno da publicidade e há muita falta de dinheiro”.
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