Morre o cineasta Breno Silveira, diretor de '2 Filhos de Francisco'

Aos 58 anos, ficou conhecido também por seu trabalho em filmes como 'Gonzaga: De Pai Para Filho' e 'Entre Irmãs'

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Por Redação
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O cineasta Breno Silveira morreu neste sábado, 14, aos 58 anos de idade. Ele vinha gravando o filme Dona Vitória deste o último dia 1º, em Limoeiro, no interior de Pernambuco, e teve um infarto agudo do miocárdio durante as gravações, segundo a Conspiração Filmes. O diretor ficou conhecido por seu trabalho em filmes como 2 Filhos de Francisco, Gonzaga: De Pai Para Filho e Entre Irmãs, e deixou uma obra baseada na emoção (clique aqui para ler uma análise).

O diretor Breno Silveira, que dirigiu Dois Filhos de Francisco, entre outras produções Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Nascido em 5 de fevereiro de 1964 em Brasília, Breno Silveira começou no mundo do cinema ainda muito novo. Costumava lembrar seu primeiro trabalho no filme Bete Balanço (1984), como assistente de fotografia. Entre seus primeiros trabalhos de destaque, foi diretor de fotografia de Carlota Joaquina, de Carla Camurati, que deu início ao período conhecido como Retomada do cinema brasileiro, em 1995. Trabalhou também com Eduardo Coutinho nas filmagens de Santa Marta - Duas Semanas no Morro (1987)

Como diretor, a estreia veio em 2 Filhos de Francisco. Um dos pontos altos de sua carreira, o filme biográfico da dupla Zezé Di Camargo e Luciano e seu pai, que dá nome à produção, lançado em 2005, foi o escolhido para ser o filme brasileiro a disputar o Oscar, apesar de não ter chegado às etapas finais. Posteriormente, Breno chegou a ser o encenador de um musical no teatro baseado na história

Depois do estrondoso sucesso, deu mais um passo na função com Era Uma Vez... (2008), que abordava um romance entre um jovem de uma favela carioca e uma moradora da parte rica do Rio, uma espécie de Romeu e Julieta fluminense e moderno. O filme começava em alto nível, mas tinha um desfecho anticlimático. "Eu sou assim. Começo muito bem e depois não sei terminar", brincava Breno em entrevista ao Estadão. "Sou pura emoção", completava. 

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Em 2012, veio Gonzaga: De Pai Para Filho, que mostrou a primazia do diretor em filmes sobre paternidade. Desta vez, retratando o rei do baião, interpretado por Land Vieira (juventude), Chambinho do Acordeão (vida adulta) e Adélio Lima (mais velho). "Nem dez filmes conseguiriam dar conta de Gonzaga. Ele é muio grande, como homem e artista. Espero não decepcionar", dizia. Não decepcionou.

Mais ou menos na mesma época, lançou também À Beira do Caminho (2012), inspirado nas canções de Roberto Carlos. O longa lembra uma "trajetória inversa" do clássico Central do Brasil, em que o caminhoneiro João (João Miguel) recolhe o menino Duda (Vinicius Nascimento) e lhe dá uma carona até São Paulo, onde espera encontrar o pai - novamente o tema da paternidade. Uma tragédia pessoal, a morte da esposa de Breno, acabou atrasando a edição do longa, que falava sobre perdas e se tornou difícil para ser revisto pelo diretor.

Em 2017, fez Entre Irmãs, baseado no livro de Frances de Pontes Peebles, mas abordando a realidade interiorana do Nordeste da época dos cangaceiros. Uma das irmãs, Emília, sonhe em encontrar um príncipe encantado, enquanto Luzia, que tinha um problema no braço após ter caído de uma árvore, se sentia estigmatizada e não se permitia sonhar tanto. A primeira era levada à cidade grande por um pretendente, enquanto a última passava a integrar o cangaço. Mesmo "de época", Entre Irmãs retratava temas então atuais, como feminismo, homossexualidade e "cura gay". Seguindo a história de cada uma das irmãs, o trabalho de Breno Silveira resultou em um épico intimista.

Séries

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Na televisão, fez sua estreia com a série Um Contra Todos, da Fox, em 2016. A trama abordava um advogado pai de família que era preso acusado de ser o "doutor do tráfico". Mesmo alegando inocência, precisa honrar a "fama" de quem teve uma tonelada de maconha apreendida em sua casa para se defender dentro da cadeia. 

Durante a produção, surpreendeu o elenco ao gravar todo o roteiro na ordem em que deveria acontecer - o mais comum é que as cenas de um mesmo cenário sejam gravadas em sequência, contando com a montagem e edição depois. "Demora muito mais tempo, é uma encrenca para a produção, eles me xingam, mas eu ainda sou um cara que vem da fotografia, sou apaixonado pelos atores", explicava ao Estadão

"Tenho um tesão muito grande nesse processo deles. Tem gente que filma o fim do filme no começo, eu não sei como é isso. Sempre quis fazer esse drama humano, o que me interessa são os personagens, esse negócio de trama eu acho um saco. Acho até que tem gênios que fazem isso muito bem”, continuava. 

Em 2021, esteve à frente dos episódios de Dom, do Amazon Prime Video, um de seus trabalhos mais ousados, que misturava thriller com melodrama ao recriar os crimes de Pedro Machado Lomba Neto (1981-2005), o 'Bandido Gato" chamado Pedro Dom. 

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"A gente está com um mercado de série muito aquecido. É possível viver de série. Você pode levar muitos elementos do cinema para trabalhar com a série, ela acerta outro nível de qualidade, de padrão, de linguagem, atuação, de tudo. Com as séries a gente encontra uma espécie de meio termo em linguagem. Eu sinto outro prazer em fazer série. Nunca quis fazer TV, fui chamado várias vezes e não me interessava. De repente comecei a fazer série e percebi que a linguagem de cinema cabia na série", analisava Breno Silveira, em entrevista à Academia Internacional de Cinema em 2019.

Breno Silveira ao lado de Zezé Di Camargo e Luciano, em foto de 2005 Foto: Janete Longo/Estadão

O último longa em que estava trabalhando, Dona Vitória, marcaria o retorno de Fernanda Montenegro ao cinema, depois de muito tempo trabalhando apenas na TV. Com roteiro de Paula Fiuza, a história retrata a vida de uma aposentada alagoana que desmontou uma quadrilha carioca de traficantes e policiais por meio de filmagens feitas da janela do seu prédio, em Copacabana. 

Confira abaixo a íntegra do comunicado à imprensa divulgado pela Conspiração Filmes a respeito da morte do diretor:

"É com profunda tristeza que a Conspiração Filmes vem, por meio desta nota, confirmar a morte de Breno Silveira, um dos mais brilhantes diretores do cinema nacional, aos 58 anos, na cidade de Limoeiro, em Pernambuco. Ele sofreu um infarto agudo do miocárdio enquanto gravava as primeiras cenas do longa "Dona Vitória". Breno deixa a esposa, Paula Fiuza, e duas filhas, Olívia e Valentina.

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Silveira foi diretor do filme "2 Filhos de Francisco: a História de Zezé di Camargo e Luciano", que se tornou a maior bilheteria da chamada Retomada do Cinema Nacional à época de seu lançamento, além de ter sido o representante brasileiro ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. "Gonzaga: De Pai para Filho", outro clássico que teve sua direção, alcançou mais de 1,5 milhão de espectadores nos cinemas e foi vencedor em três categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, incluindo Melhor Filme. Também assinou a direção de "1 Contra Todos", série nacional de maior audiência da TV paga no Brasil, sendo a obra brasileira com mais indicações ao Emmy Internacional. "Entre Irmãs", lançado no formato de longa-metragem e minissérie, foi um dos maiores sucessos da TV brasileira nos últimos 20 anos, alcançando aproximadamente 84 milhões de espectadores.

Formado em cinematografia pela École Louis-Lumière, em Paris, Breno iniciou a carreira como diretor de fotografia, tendo trabalhado em mais de dez longas-metragens, entre eles o clássico "Carlota Joaquina", de Carla Camurati. Seus trabalhos mais recentes incluíam a continuação de "DOM", após o grande sucesso da primeira temporada da série, além da preparação da cinebiografia do cantor Roberto Carlos.

“Esta é uma perda insuperável. Breno era um talento nato e soube, como poucos, usar seu olhar único para retratar o Brasil com toda sua emoção para dirigir obras inesquecíveis. Nós, da Conspiração, perdemos um amigo e uma referência. O Brasil perde um de seus maiores cineastas, que vai nos fazer muita falta, tanto como pessoa como símbolo da cultura e da arte brasileira”, lamentam Pedro Buarque de Hollanda e Renata Brandão, chairman e CEO da Conspiração, em nome de todos os amigos, funcionários e sócios da produtora: Andrucha Waddington, Carolina Jabor, Claudio Torres, Mini Kerti, Arthur Fontes, Marcos Penido, Cris Lopes, Eliana Soárez e Leonardo M Barros."

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