Duda (Luiza Válio), Bebel (Eva Bensiman) e Tati (Maria Paula Lima) são três amigas, todas elas atrizes, que sonham em colocar uma peça de teatro em pé. Mas como? Falta dinheiro e não há nenhum tipo de apoio para isso acontecer.
Leia também
Esse é o coração de Morte, Vida e Sorte, filme nacional independente que chegou aos cinemas na última quinta-feira, 4. Dirigido por Alexandre Alencar, estreante em longas, o filme se assume como uma comédia melancólica de objetivos bem claros: refletir sobre os caminhos da arte em São Paulo.
As três personagens, afinal, transitam no centro da cidade enquanto tentam encontrar caminhos para que a peça de teatro não vire apenas um sonho bem distante.
A arte como sonho, apesar do dinheiro
Difícil não tecer alguns paralelos com filmes independentes recentes, como Tangerine (2015), pela forma que as personagens tomam conta do espaço urbano; ou então Frances Ha (2012), não apenas pela fotografia em preto e branco, mas pela arte como sonho.
Ainda que as personagens tomem a cidade, tudo ao redor conspira para que a arte seja continuamente um caminho tortuoso. Uma não consegue passar em testes, outra vive com um emprego ruim como garçonete e ainda tem aquela que depende de um amante.
A arte? Vira apenas um detalhe na rotina, esmagada pela necessidade de ter dinheiro na bolsa - para o aluguel, para comer, para bancar o teatro em que ensaiam. A arte é o sonho, mas o dinheiro precisa ser o caminho final da chegada.
Ao mesmo tempo que é divertido ver essas personagens transitando em busca de financiamento, também é triste ver a arte refém do dinheiro.
Autorreferência
Alexandre Alencar, por fim, dribla com sucesso os problemas da falta de recursos. E melhor: faz dessa história sobre as três atrizes também um comentário sobre seu próprio cinema. Claramente é um filme de guerrilha, feito com recursos contados, e que deve ter passado por perrengues semelhantes.
Mais ainda: o cineasta deve ter pensado em saídas parecidas, ainda que (esperamos!) não tenha chegado no ponto que as três amigas alcançaram.
Morte, Vida e Sorte é uma boa surpresa. Um filme independente e que assume seu pouco dinheiro também como um comentário sobre como é difícil fazer arte no Brasil e, mais especificamente, em São Paulo. A arte existe e respira — por mais que os caminhos sejam cada vez mais tortuosos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.