Todo mundo que acompanha cinema está comentando só sobre uma coisa: “Barbenheimer”. É o nome dado ao lançamento simultâneo de dois filmes extremamente aguardados, Barbie e Oppenheimer, que não poderiam ser mais diferentes. Depois de muita expectativa, assisti aos dois filmes e aconteceu exatamente o que não esperava: adorei o novo longa de Christopher Nolan e detestei o filme da boneca.
Não que Barbie, que estreia nesta quinta-feira, 20 de julho, seja um filme horroroso ou algo do tipo – longe disso. A cineasta Greta Gerwig (Lady Bird, Adoráveis Mulheres) sabe como construir esse cenário distópico da “Barbieland” e brinca com a imaginação do público. Mais do que isso: o elenco está bem em cena, principalmente Ryan Gosling e Margot Robbie.
O que me incomodou foi, quase que exclusivamente, o roteiro de Gerwig e de seu marido, o também cineasta Noah Baumbach (História de um Casamento). Ainda que tenha uma história bem definida, que mostra Barbie (Robbie) indo ao mundo real, ao lado do Ken (Gosling), para encontrar sua dona e ser consertada, a sensação é que a boneca não sabe seu caminho.
Muitos discursos entram em conflito com ‘Barbie’
O filme traz uma série de discursos prontos, que são válidos, mas são jogados a esmo na história. É a crítica ao patriarcado, a insistência em colocar mulheres em padrões pré-definidos, a constatação do absurdo que é o “mansplaining” e por aí vai. Pautas contemporâneas e necessárias, que fazem sentido ao pensar na história da boneca mais vendida do mundo, mas que são apenas derramadas em um roteiro frio e pouco maleável.
Curiosamente, é uma sensação parecida com a que nasceu a partir da experiência (pouco agradável) de assistir a I Wanna Dance With Somebody, cinebiografia sobre Whitney Houston. As pautas sobre a vida da cantora eram apenas elencadas uma após a outra, sem naturalidade, como se fosse uma longa linha do tempo. Em Barbie, parece que Gerwig selecionou uma série de assuntos e foi marcando conforme conseguia encaixar no roteiro.
Em um momento, me peguei questionando se sou o público-alvo do filme. Mas logo parei com esse pensamento absurdo: cinema é para todos; afinal, não deve ser um produto comercial com um público pré-definido que vai gostar ou não. Cinema é arte, não produto.
Além disso, há de se destacar que muitas piadas realmente funcionam e me fizeram dar boas gargalhadas, mas outras realmente não funcionam. Oras, em vários momentos, a Mattel faz piada sobre a empresa estar lucrando com o feminismo da boneca. E quem vai lucrar em um filme sobre a Barbie, justamente levantando pautas tão relevantes? Já deu de empresas zoando empresas. Não tem mais graça.
Enfim: não vejo problemas em quem gosta de Barbie, muito menos de quem ama o filme. É, como acabei de dizer, um filme. Há quem ame, há quem odeie. O fato é que, por aqui, não funcionou: muita conversa e pouco cinema. Quem diria: na briga do ano entre Nolan e Greta Gerwig, acabei ficando do lado da história em que poucos estavam apostando suas fichas.
Veja entrevista do elenco para o Estadão
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