Mulheres predominam na premiação do Festival de Berlim 2022

Como Cannes e Veneza, o evento deu seu prêmio principal a um filme de uma diretora, ‘Alcarràs’, de Carla Simón

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Por Mariane Morisawa
Atualização:

A premiação do 72.º Festival de Berlim, anunciada na tarde desta quarta-feira (16), foi dominada pelas mulheres. Dos nove prêmios concedidos pelo júri da competição, seis foram parar nas mãos de mulheres, incluindo o Urso de Ouro. O vencedor foi Alcarràs, segundo longa da espanhola Carla Simón, sobre uma família na Catalunha que luta para continuar plantando frutas de maneira quase artesanal. “Sinto muito orgulho de ganhar esse prêmio e de que essa história de uma pequena cidade na Espanha tenha encontrado ressonância com pessoas de outros lugares”, disse a diretora na coletiva após a premiação. “No fim, acho que prova que nós, humanos, somos muito parecidos.”

A diretora Carla Simon com o Urso de Ouro, concedido ao seu filme 'Alcarràs' Foto: Clemens Bilan/ EFE

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Com a vitória de Alcarràs, o Festival de Berlim junta-se a Cannes e Veneza na premiação de longas dirigidos por mulheres no último ano. A Palma de Ouro foi para Titane, de Julia Ducournau, e o Leão de Ouro para Happening, de Audrey Diwan. Berlim e Veneza também escolheram duas mulheres para seus prêmios de melhor direção - respectivamente, Claire Denis agora, por Both Sides of the Blade, e Jane Campion por Ataque dos Cães. “Verdade que tivemos muitos prêmios para mulheres hoje. Eu acho que é algo que veio para ficar”, disse Simón. “A mudança é clara e faz sentido. Somos metade da população, então precisamos contar metade das histórias. Mas ainda não alcançamos a paridade.”

O Urso de Prata prêmio do júri foi para a mexicana Natalia López Gallardo, estreante em longas com Robe of Gems. O filme mostra pela perspectiva das mulheres os conflitos sangrentos dos carteis mexicanos e a corrupção presente no dia-a-dia. A diretora disse que, apesar de o filme não ser otimista, ela tem esperança de que as coisas melhorem em seu país. “Estaríamos perdidos sem ela. Então claro que eu tenho esperança no espírito humano”, afirmou. “Ao mesmo tempo, eu admiro o senso de bem comum na Alemanha, que é algo que falta no México. É difícil crescer sem que as crianças maiores ensinem às menores.”

A francesa Claire Denis levou o Urso de Prata de melhor direção por 'Both Sides of the Blade', em Berlim 2022 Foto: Andreas Rentz/ EFE/ EPA

A francesa Claire Denis levou o Urso de Prata de melhor direção por Both Sides of the Blade, sobre Sara (Juliette Binoche) dividida entre Jean (Vincent Lindon), seu atual marido, e o ex, François (Grégoire Colin). “Nunca disse a mim mesma que tinha de fazer um filme sobre amor e paixão”, disse Denis. “O filme veio para mim por meio dos atores. Eles que me levaram à história.” É a primeira vez que Denis ganha um prêmio do júri oficial de um dos três principais festivais europeus. 

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Desde o ano passado, o Festival de Berlim não divide mais os prêmios de interpretação entre masculina e feminina, mas, sim, entre performance principal e coadjuvante. Em 2022, duas atrizes levaram os Ursos de Prata: a alemã Meltem Kaptan (Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush, dirigido por um homem, Andreas Dresen) e a indonésia Laura Basuki (Nana, dirigido por uma mulher, Kamila Andini). O Urso de Prata de roteiro também foi para uma mulher, Laila Stieler, por Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush

Os outros vencedores foram Hong Sang-soo e seu The Novelist’s Film, que levou o Grande Prêmio do Júri, Rithy Panh pela contribuição artística extraordinária de Everything Will Be Ok e Michael Koch, que ganhou uma menção especial por A Piece of Sky. “Eu sou o único homem?”, perguntou Sangsoo quando informado de que era o único homem entre os quatro principais prêmios da noite. Seu filme, no entanto, é protagonizado por mulheres.

A austríaca Ruth Beckermann, cujo Mutzenbacher foi o melhor filme na seção Encontros Foto: Andreas Rentz / EFE/EPA

O júri da seção Encontros também premiou duas mulheres, a austríaca Ruth Beckermann, cujo Mutzenbacher foi o melhor filme, e a iraniana radicada na França Mitra Farahani, prêmio especial do júri por See You Friday, Robinson. Só o troféu de diretor foi para um homem, Cyril Schäublin, por Unrest

Outra mulher, a iraquiana radicada na Áustria Kurdwin Ayub, levou o prêmio de melhor longa de estreante por Sonne. E a russa Anastasia Veber ganhou o Urso de Ouro de curta-metragem por Trap

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Na seção Geração, as mulheres também ganharam a maioria dos prêmios. O Urso de Cristal para melhor filme da Kplus foi para a sueca Sanna Lenken e seu Comedy Queen e o de melhor curta para a holandesa Emma Branderhorst por Spotless, com menção especial para a belga Britt Raes por Luce and the Rock. O Urso de Cristal de melhor filme da Geração 14plus foi para Alis, codirigido por Clare Weiskopf e Nicolás van Hemelryck, e o de melhor curta foi para Born in Damascus, de Laura Wadha

Brasileiro em Berlim

O curta Manhã de Domingo, de Bruno Ribeiro, levou o Urso de Prata prêmio do júri, uma espécie de segundo lugar na competição. O filme fala de uma jovem pianista negra que fica abalada ao sonhar com sua mãe, já morta, antes de um concerto. Na coletiva de imprensa dos premiados, o cineasta falou sobre a importância do troféu. “O prêmio significa muito para mim e para equipe porque vivemos uma situação muito complicada no Brasil em relação a financiamento, com um governo que ativamente tenta destruir a cultura. É importante estar aqui para mandar uma mensagem de que é possível fazer arte e ir atrás de seus sonhos.”