Museu da Academia dá o devido reconhecimento a Debbie Reynolds como conservadora de figurinos

Quando a atriz de ‘Cantando na Chuva’ estava viva, a academia de cinema torceu o nariz para sua lendária coleção de figurinos. Agora, de joelhos, o museu procurou seu filho

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Por Brooks Barnes
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LOS ANGELES - Por décadas, Debbie Reynolds implorou a Hollywood para ajudá-la a preservar e exibir sua vasta coleção de figurinos da época de ouro. “Essas peças são marcos culturais que ainda carregam a energia das estrelas que atuaram vestidas com elas”, disse certa vez, referindo-se a lendas como Elizabeth Taylor e Judy Garland. “Cada fio, cada botão, cada laço tem sua magia”.

Todd Fisher, filho de Debbie Reynolds, rodeado por figurinos da coleção da falecida atriz, lembranças de Star Wars que ele herdou de sua irmã Carrie Fisher, além de câmeras e lentes de sua própria coleção, em Las Vegas. Foto: Roger Kisby/The New York Times

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a dispensou - cinco vezes. Em suas memórias de 2013, Reynolds citou um desinteressado David Geffen, que teria lhe dito: “Por que você simplesmente não vende essas coisas?”.

Com dívidas, ela por fim não teve outra escolha: leiloou o esvoaçante vestido marfim de frente única pregueado que Marilyn Monroe vestiu em O Pecado Mora ao Lado por US$ 4,6 milhões e o chapéu de renda Royal Ascot que Audrey Hepburn usou em My Fair Lady por US$ 3,7 milhões - valores que chocaram a aristocracia do cinema e provaram que Reynolds estava certa. Também foram vendidos, em alguns casos a colecionadores estrangeiros anônimos, a túnica e a capa de Charlton Heston em Ben-Hur, o violão que Julie Andrews dedilhou em A Noviça Rebelde e todos os chapéus que Vivien Leigh exibiu em E o Vento Levou.

Hollywood não deu a mínima.

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Agora, quatro anos depois de sua morte, aos 84 anos, ocorreu uma reviravolta na saga da coleção de figurinos de Debbie Reynolds - uma reviravolta que ela sem dúvida consideraria enlouquecedora e satisfatória: o Museu da Academia de Cinema, com inauguração prevista para 30 de abril, ao preço de US$ 482 milhões, pegou-se interessado por sua coleção - pelo menos a parte que sobrou, a qual inclui trajes icônicos que ela vestiu em filmes como Cantando na Chuva. Também restaram os figurinos criados para Mary Pickford, Deborah Kerr e Cyd Charisse, bem como rara memorabilia de clássicos como O Mágico de Oz e O Falcão Maltês.

“Ainda temos peças incríveis”, disse Bill Kramer, o diretor do museu, por telefone. Reynolds passou os itens a seu filho, Todd Fisher, ele próprio um grande colecionador que há muito se concentra em câmeras e lentes, ou “vidro de cinema”. Fisher também herdou memorabilia de Star Wars de propriedade de sua irmã, Carrie Fisher, que morreu um dia antes de sua mãe, em 2016.

Trajes que foram usados por Donald O'Connor, Debbie Reynolds e Gene Kelly no musical 'Cantando na Chuva', parte da extensa coleção da falecida atriz Debbie Reynolds. Foto: Roger Kisby/The New York Times

“Procurei o Todd há cerca de um ano com a ideia de batizar o estúdio de conservação do nosso museu com o nome de sua mãe, que foi tão importante para nossa história, não apenas como artista - atuando, dançando, cantando - mas também como colecionadora e preservacionista”, disse Kramer. “A conversa virou um papo sobre como poderíamos trabalhar com Todd e a coleção para trazer o legado de Debbie - e de Todd e de Carrie - para o museu de um jeito tangível”.

Até agora, Fisher concordou em emprestar ao Museu da Academia um item de sua própria coleção: um conjunto de sete lentes Bausch e Lomb Baltar usadas por Gregg Toland, o lendário diretor de fotografia de Cidadão Kane. Mas Fisher, de 62 anos, disse que podem vir mais itens, contanto que o Estúdio de Conservação Debbie Reynolds ocupe o andar inferior do museu, próximo ao Estúdio de Formação Shirley Temple.

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“Minha mãe era uma das pessoas mais misericordiosas de todos os tempos”, disse Fisher. “Ela nunca iria querer que eu guardasse rancor só porque tenho conhecimento de todas as oportunidades perdidas - de todas as pessoas que dirigiam a academia e no passado nunca se dispuseram a ajudá-la. Ela iria querer que eu compartilhasse esses artefatos importantes com as gerações futuras. Então, desde que eles façam o devido reconhecimento à contribuição de minha mãe, concordei em dar acesso a tudo o que eu tiver acesso”.

Um conjunto de lentes usadas para filmar 'O Poderoso Chefão', parte da coleção "vidro de cinema", de Todd Fisher. Foto: Roger Kisby/The New York Times

Fisher continuou: “Ainda estou aqui e sei onde estão muitos desses itens - onde foram parar as peças mais importantes. Eu ainda estou aqui e ainda tenho algumas coisas”.

A academia, fundada em 1927, começou a colecionar filmes e materiais relacionados a eles em 1929. Seu vasto acervo conta com mais de 100 mil títulos, incluindo documentários obscuros e os primeiros filmes americanos; cerca de 10 milhões de fotografias; 80 mil roteiros; 50 mil pôsteres; e dezenas de milhares de desenhos de produção e figurinos.

Mas os figurinos em si nunca tiveram chance. Deborah Nadoolman Landis, diretora e fundadora do Centro David C. Copley para Design de Figurinos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, observou que essa arte só passou a receber Oscar a partir de 1949, e os figurinistas não tinham filiação garantida à academia até 2013.

“Acho que foi sexismo institucionalizado”, disse Landis. “Nosso campo era considerado feminino e tratado com desrespeito”. Landis é membro da academia desde 1988. Seus créditos de figurino incluem Os Caçadores da Arca Perdida (você pode agradecê-la pelo chapéu fedora e pela jaqueta de Indy) e Um Príncipe em Nova York, pelo qual foi indicada ao Oscar.

Par de sapatos de 'O Mágico de Oz', parte da extensa coleção de fantasias e adereços da falecida atriz Debbie Reynolds. Foto: Roger Kisby/The New York Times

Kramer lembrou que o Museu da Academia recentemente comprou uma série de figurinos em transações privadas, entre eles o vestido de Marlene Dietrich em A Vênus Loura (1932), o suéter e as calças de Gene Kelly em Sinfonia de Paris e o traje de flanela usado por Kathy Bates em Louca Obsessão. Leonardo DiCaprio, Steven Spielberg e Terry Semel, ex-presidente da Warner Bros., se uniram em 2012 para comprar um par de sandálias de O Mágico de Oz para o museu, que à época tinha inauguração prevista para 2017. (Sabe-se que sobreviveram quatro pares, tamanho 36).

E recentemente algumas coisas foram doadas ao museu, entre elas a capa do Drácula de Bela Lugosi. (Os conservadores do museu trabalharam para restaurá-la. O exterior de lã preta e o forro de crepe de seda cinza se rasgaram ao longo dos anos, provavelmente devido à umidade). “É importante para nós, como museu, restaurar e proteger este artefato, especialmente sabendo que grande parte da história material do ciclo de terror clássico foi perdida para sempre”, disse Jessica Niebel, curadora de exposições, em um comunicado no ano passado.

Objetos doados ao museu incluem um dos trenós “Rosebud” feito para Cidadão Kane. (Dos três construídos, dois foram queimados durante as filmagens.) Também estará em exibição um tubarão de fibra de vidro em tamanho real de Tubarão, resgatado de um ferro-velho em 2016 e restaurado.

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 TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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