Eddie Murphy é um fã de Cidade de Deus (2002). A primeira pergunta que ele faz ao ver o jornalista brasileiro do Estadão do outro lado da tela para uma breve entrevista é: “Qual é o nome daquele grande filme do Brasil com o Zé Pequeno?”. Informado do nome do longa-metragem de Fernando Meirelles, confessa: “Eu amo esse filme”.
A lenda da comédia está lançando o quarto filme da franquia Um Tira da Pesada, 40 anos após a estreia do detetive Axel Foley nas telonas, eleito um dos 100 melhores personagens cinematográficos de todos os tempos pela revista Empire.
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O agora veterano agente da lei volta a se envolver em confusões pelas ruas de Los Angeles, sendo obrigado a resolver um grande caso e acabar com uma conspiração quando a vida de sua filha (Taylour Paige), uma advogada, é ameaçada.
“É uma comédia de ação, nós praticamente iniciamos esse gênero em 1984 e o público se identifica muito com nossos personagens”, diz John Ashton, experiente ator que contracenou com Murphy no passado e agora retorna ao papel do rabugento sargento Taggart.
Além das figuras conhecidas dos fãs, atores de peso foram incorporados ao elenco. “Gosto desses filmes desde que eu era garotinho”, conta Joseph Gordon-Levitt (A Origem, Snowden), que disse que ficou “entusiasmado” ao ser convidado para participar do projeto.
“Adoro filmes que são engraçados, mas têm algo a dizer abaixo da superfície. É o caso de Um Tira da Pesada, porque Beverly Hills [que batiza o título original da franquia] é um lugar que merece ser zombado. É um bairro que venera excessivamente a riqueza, e isso não é saudável para o mundo. Ter o Eddie Murphy como um policial de Detroit que vai a Beverly Hills para zombar disso é algo que ressoa nas pessoas, além de ser importante para a arte”, opina.
Kevin Bacon, famoso mundialmente pelo clássico dançante Footloose – Ritmo Louco (1984), também estreia na franquia interpretando um policial corrupto. “Não procuro fazer vilões só porque é divertido. Nesse caso, é um vilão bem escrito. Eu procuro papéis complexos, a variedade me interessa”, explica o ator, que relembrou ainda seu trabalho em Sobre Meninos e Lobos (2003), poderoso thriller dirigido por Clint Eastwood, como uma das “melhores experiências” que já teve.
Um Tira da Pesada 4: Axel Foley estreia diretamente na Netflix nesta quarta, 3, ao contrário dos capítulos anteriores da saga, produzidos para a tela gigante – sinal dos novos tempos.
“O streaming tem um impacto enorme, é uma diferença grande. É difícil para os cinemas, mas sou um otimista e acredito que ainda vão existir filmes para as pessoas saírem de casa e assistirem na tela grande”, opina Bacon. “A tecnologia é muito legal, mas há um lado negativo: não há mais contato pessoal, hoje em dia é tudo pelo telefone!”, acrescenta Ashton, perguntado sobre as maiores transformações que testemunhou ao longo de décadas em Hollywood.
‘Todo mundo no showbusiness tem uma persona’
Dono de um humor ácido e cheio de palavrões, Murphy estourou nos anos 80 com stand-ups e participações no tradicional programa Saturday Night Live antes de seguir a carreira de ator e atingir o estrelato graças a produções como 48 Horas (1982), Um Príncipe em Nova York (1988), Professor Aloprado (1996), Dr. Dolittle (1998) e Dreamgirls (2006) - este último lhe rendeu uma indicação Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Nome de peso no gênero, Murphy é constantemente questionado a respeito dos limites do humor. Por isso, a reportagem do Estadão quis saber a opinião do ator sobre perseguição, como já aconteceu no Brasil, a comediantes - que já foram processados e/ou perseguidos pelo poder público por causa de piadas que fizeram (casos de Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Léo Lins, por exemplo).
Por mais que as leis daqui sejam diferentes das norte-americanas e o astro de 63 anos tenha ouvido genericamente a respeito da situação brasileira nesta entrevista, ele não escondeu o espanto. “A arte deve ser livre e os artistas não podem ser perseguidos. Eles refletem o sentimento do povo”, afirma.
Murphy declarou recentemente ao podcast WTF with Marc Maron que tinha feito alguns “filmes de merda” antes de um hiato de seis anos na profissão. Ele retornou aos holofotes com apoio da Netflix no filme Meu Nome é Dolemite (2019).
Questionado sobre como a gigante do streaming o ajuda na escolha dos projetos nesta nova fase, ele responde: “A Netflix não escolhe os meus projetos, eu escolho o que quero fazer. Eles foram os parceiros perfeitos para Um Tira da Pesada 4, especialmente nesse momento em que as pessoas não vão tanto aos cinemas como estavam acostumadas antes da pandemia”.
Por fim, a pedido da reportagem, Murphy ainda falou sobre a amizade com Michael Jackson, cuja morte completou 15 anos no último dia 25. Os dois até gravaram uma música juntos: Whatzupwitu, em 1993, quando o comediante fez uma bem sucedida imersão no ramo musical. Também é dele o hit Party All The Time, de 1985.
Indagado sobre a personalidade enigmática do ‘Rei do Pop’, ele fez distinções entre o lado pessoal e artístico do cantor. “Michael não era um cara estranho. Ele tinha uma persona pública, o jeito que atuava na frente das câmeras, e no trato pessoal era um ser humano totalmente normal. Todo mundo no showbusiness tem uma persona. Eu tenho uma persona e não tenho nada a ver com os personagens extrovertidos dos meus filmes. Pessoalmente, sou um cara introvertido e quieto. A persona do Michael era tão enorme que as pessoas achavam que ele era daquele jeito”, contou.
Se Axel Foley volta, o Burro também volta...
Responsável pela dublagem do Burro, personagem da franquia Shrek, desde o primeiro longa, Murphy confirmou recentemente ao site Collider que a saga do ogro verde vai ganhar uma nova sequência e, ainda, uma produção derivada focada apenas no Burro.
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