‘O câncer é assustador, mas a crise climática é ainda mais’, diz Jane Fonda

Atriz trata de linfoma enquanto milita pelas causas ambientais

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Por ann Hornaday

The Washington Post - Jane Fonda está de volta.

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A atriz e ativista, que completará 85 anos em algumas semanas, chega a um hotel de luxo em Washington chique e vestindo um elegante blazer escuro, uma boina cinza e um conjunto de joias de ouro de bom gosto. Ela acabou de chegar de Capitol Hill, onde tem feito lobby para a senadora democrata Debbie Stabenow (Michigan). Mas seu principal motivo para retornar a Washington é reviver as Fire Drill Fridays, ação política semanal popular que ela iniciou em 2019 para chamar a atenção para as mudanças climáticas.

“Estou tão feliz por estar aqui”, Fonda sussurra enquanto faz um almoço rápido de salada de burrata e chá gelado. As Fire Drill Fridays presenciais foram suspensas durante o auge da pandemia de coronavirus e adiadas ainda mais quando Fonda foi diagnosticada com linfoma não-Hodgkin neste verão. Ela já passou pela maior parte do tratamento de quimioterapia, embora admita que o último foi difícil. “Demorou algumas semanas para eu me recuperar”, ela diz. Mas ela literalmente ri de uma doença que insiste que não a impedirá de fazer o que mais gosta. “O câncer é assustador, mas a crise climática é ainda mais assustadora”, ela diz categoricamente.

Jane Fonda discursa durante a Fire drill Fridays, movimento pela segurança climática do mundo Foto: Jacquely Martin / AP

Fonda se lembra de ter fundado as Fire Drill Fridays com o Greenpeace há três anos. “Nossa meta era alcançar os 70% da população que estavam preocupados com o clima, mas nunca tomaram nenhuma atitude”, ela explica , “e levá-los de solitários e preocupados a unidos e ativos”.

Milhares de pessoas compareceram às manifestações semanais presenciais de Fonda, que incluíam amigos famosos como Joaquin Phoenix, Martin Sheen, Gloria Steinem e Diane Lane e ocasionalmente levavam Fonda à prisão (ela foi presa cinco vezes, mas geralmente pagou multas). Depois que o evento passou a ser online, onde ativistas, celebridades e especialistas entregaram conteúdo relacionado ao clima, diz Fonda, o envolvimento disparou. “Um mês atrás, atingimos 11 milhões de pessoas em todas as plataformas”, ela diz com orgulho. “Milhares e milhares de pessoas estão se inscrevendo para serem treinadas pelo Greenpeace. Elas já sabem falar em uma câmara municipal agora e escrever cartas. Estão se tornando ativistas. E o que é realmente importante para mim é que estamos nos tornando uma comunidade . As pessoas não se sentem tão sozinhas.”

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No comício de boas-vindas em 2 de dezembro, Fonda pretendia fazer duas exigências: pedir ao presidente Biden que declarasse uma emergência climática, dando-lhe assim margem de manobra para promulgar políticas no nível executivo sem a aprovação do Congresso e derrotar a legislação “permitindo reformas” patrocinada pelo senador democrata Joe Manchin III (Virgínia Ocidental) para incentivar o desenvolvimento de energia renovável e combustíveis fósseis. Embora os apoiadores se concentrem no que o projeto de lei faria para estimular a energia verde, Fonda não está convencida. “Isso acelera os negócios de combustíveis fósseis e reduz totalmente a capacidade do público de contribuir”, ela explica. “Além disso, jogaria todos os jovens que ajudaram a vencer a eleição [de meio de mandato] no chão”.

No comício de 2 de dezembro, ela previu que o senador democrata Raphael G. Warnock (Geórgia) manteria sua cadeira no Senado. “Aqui está a melhor notícia. Não se, mas quando vencermos na Geórgia, vamos destronar o senador Manchin e seu poder de veto unilateral. Só por isso vale a pena sair dançando nas ruas.”

Jane Fonda, em Washington, durante o evento Fire drill Fridays, no dia 2 de dezembro Foto: Jacquelyn Martin / AP

Ela está ciente do xadrez de quatro dimensões envolvido em perseguir Manchin, cuja derrota na medida de permissão o tornaria um alvo mais vulnerável para os republicanos em 2024, mas ela está muito mais interessada em uma nova geração de líderes políticos surgindo nas disputas estaduais em todo o país. (Após o comício de 2 de dezembro, as Fire Drill Fridays viajarão para a Costa do Golfo e para a Califórnia.) Ela formou recentemente o Jane Fonda Climate PAC, que apoiou 70 “campeões climáticos” em corridas eleitorais este ano. Embora a contagem final ainda não tenha sido feita, Fonda se orgulha de observar que todos, exceto um dos candidatos para os quais ela fez campanha, venceram. “Ah meu Deus, é emocionante”, ela se entusiasma. “São os estados onde isso está acontecendo.”

Na noite anterior, ela conheceu um de seus candidatos, o democrata Greg Casar (Texas), em uma recepção na AFL-CIO. Ela fala com entusiasmo sobre a comissária de terras públicas do Novo México, Stephanie Garcia Richard (“Ela é uma incendiária”) e Lina Hidalgo, a juíza do condado de Harris, em Houston, no Texas. “Lembre-se desse nome”, ela diz sobre Hidalgo. “Esta é uma estrela em ascensão.”

Fonda esteve no Novo México e no Texas no ano passado, fazendo o tipo de campanha que ela adora desde que se tornou politicamente ativa nas décadas de 1960 e 1970. “O melhor antídoto para a depressão é bater de porta em porta”, observa. “Aconteceu comigo várias vezes. Faz toda a diferença no mundo.”

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Ver os eleitores cara a cara, ela diz, “me encheu de esperança”, acrescentando que questões como liberdade reprodutiva e mudança climática motivaram os eleitores a reverter a “onda vermelha” que poderia ter ocorrido. “É assim, ‘Congresso, a mudança climática é real’”, diz Fonda, “e os americanos se preocupam com isso”.

Ela corta seu prato de salada e mozarela derretida. “Esta salada me faz pensar na Itália”, ela diz. “Eu fiz um filme lá neste verão.” Seria Book Club 2: The Next Chapter, coestrelado por Candice Bergen, Diane Keaton e Mary Steenburgen, esperado para maio próximo. Em fevereiro, ela aparecerá com a amiga e colaboradora de Grace e Frankie, Lily Tomlin, em 80 for Brady, sobre um grupo de mulheres que seguem obsessivamente o quarterback da NFL, Tom Brady.

Ambos os filmes parecem uma piada, mas não se pode deixar de lembrar de clássicos de Fonda como Amargo Regresso e Síndrome da China - filmes populares e extremamente divertidos centrados em questões da vida real (até mesmo a comédia Como Eliminar seu Chefe foi enraizada na pesquisa de Fonda sobre assédio sexual e discriminação salarial). Os fãs desses filmes baseados em fatos, mas sem espinafre, gostariam que eles voltassem. “Eu também gostaria”, diz Fonda, mas ela já passou da idade de produzi-los. Um esforço para fazer um reboot de Como Eliminar seu Chefe, ela diz, não deu em nada. “Desisti... Simplesmente não tenho tempo. [E] meu coração não está nisso.” Citando cientistas que alertam que as emissões de combustíveis fósseis devem ser cortadas pela metade até 2030 para evitar danos ambientais catastróficos, ela diz: “Temos oito anos. Oito anos! Não quero gastar esses oito anos fazendo um filme.”

Isso não significa que ela não continuará a atuar. Por enquanto, porém, ela diz: “Só vou me dedicar ao clima por um tempo... Você sabe, tudo muda quando você envelhece. É ótimo. As coisas ficam muito mais claras”.

Ela termina a salada e começa a se dirigir para a porta. Ela está voltando para o Capitólio, onde encontrará a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi (Califórnia). (“Se você estivesse se encontrando com Pelosi, o que gostaria de dizer a ela?” ela pergunta.) Então, ela terá suas habituais nove horas de sono - a única coisa em que ela insiste, diz - antes de mais uma vez soar o alarme na Freedom Plaza em seu casaco vermelho característico, com o quadro habitual de amigos e ativistas. E, desta vez, com o Rebirth Brass Brand. “Eu queria ter uma banda de metais”, diz Fonda. “Não estamos marchando. Não vamos ser presos. Mas teremos trompas.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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