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Opinião|‘O Exorcismo’ prova que Russell Crowe está perdido e é bola da vez dos projetos furados de Hollywood

Em um ano, o astro de ‘Gladiador’ foi protagonista de dois filmes sobre exorcismo, sem nenhuma conexão entre eles, e vive sequência de produções ruins

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Foto do author Matheus Mans

É natural ter uma certa sensação de déjà vu ao se deparar com O Exorcismo, filme que chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 1º. Afinal, o longa-metragem parece uma mera repetição de outro filme que estreou no ano passado, O Exorcista do Papa: as duas produções falam sobre padres enfrentando demônios e são estreladas por Russell Crowe.

A verdade, porém, é que não era para ser uma estreia tão próxima. Crowe gravou O Exorcismo em 2019, quando inclusive tinha outro título, The Georgetown Project. O problema é que a pandemia chegou e o elenco não pôde se reunir para fazer algumas regravações. Depois, vieram problemas de agenda, greve de roteiristas e de atores.

O fato é que O Exorcismo só terminou a pós-produção em janeiro deste ano, após refazer cenas quatro anos depois das gravações originais. Já O Exorcista do Papa foi gravado depois, mas conseguiu bons investimentos para ter um lançamento mundial ainda em 2023.

O novo Nic Cage?

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Apesar dessa lambança, o lançamento de dois projetos tão próximos – e tão similares – só indica uma coisa: Russell Crowe é a bola da vez para projetos furados em Hollywood. Isso faz parte de uma engrenagem eterna em Hollywood, que sempre escolhe grandes nomes para protagonizarem filmes que ninguém quer fazer e poucas pessoas querem assistir.

Já foi assim com Nicolas Cage, que parecia aceitar qualquer roteiro que aparecia em sua mesa, e depois com Bruce Willis. Crowe, que já protagonizou filmes do calibre de Gladiador (2000) e Uma Mente Brilhante (2001), parece que perdeu espaço nos últimos anos e se contenta em estrelar produções como Fúria Incontrolável (2020), Jogo Perfeito (2022), A Teia (2024) e, agora, O Exorcismo.

Russell Crowe em 'O Exorcismo', que chegou aos cinemas em 1º de agosto. Foto: Imagem Filmes/Divulgação

A ideia deste novo, é preciso admitir, tem algo de original. Em vez de falar novamente sobre um padre enfrentando demônios, como acontece em qualquer filme sobre exorcistas, o longa-metragem dirigido pelo estreante Joshua John Miller acompanha a história de um ator (Crowe) que vai interpretar um padre exorcista nos cinemas. No entanto, as coisas nos bastidores começam a ir mal e passa a existir uma desconfiança de que há algo maligno ali.

Apesar da boa ideia, bem mais criativa do que O Exorcista do Papa, esta nova produção estrelada por Crowe não sabe seguir por nenhum dos dois caminhos que se apresentam. Parece não ter coragem de rir de si própria, como aconteceu com o outro filme de exorcismo de Crowe, mas tampouco tem a capacidade de realmente assustar e fazer o público ficar interessado no que está acontecendo na tela, como o clássico O Exorcista (1973).

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É um filme que reflete, de certa forma, a bagunça dos bastidores, com gravações e regravações separadas por quase quatro anos. Como manter a coesão, a coerência e o ritmo de um filme com tanto tempo entre uma gravação e outra? Os atores já estão em outro momento de vida e carreira e o diretor já deve estar pensando em outros projetos.

E o Russell Crowe?

Com mais um filme ruim na conta, depois de A Teia e O Exorcista do Papa, além da participação absolutamente dispensável como Zeus em Thor: Amor e Trovão (2022), Crowe parece estar sem rumo na carreira. Não encontra um projeto que valorize seu trabalho como ator desde Dois Caras Legais, de 2016, uma comédia inesperada com Ryan Gosling.

Cena de 'O Exorcismo', com Russell Crowe. Filme demorou quatro anos para ficar pronto, Foto: Imagem Filmes/Divulgação

Com isso, vale lembrar do final de O Exorcista do Papa, quando o padre vivido por Crowe descobre que existem outros 199 demônios espalhados pelo mundo para exorcizar – há uma piada, depois disso, que ele terá a oportunidade de fazer outros 199 filmes. Com o lançamento de O Exorcismo, porém, fica a sensação de que isso está deixando de ser uma brincadeira: sem rumo, Crowe se afasta do cinema autoral para cair numa mesmice banal.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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