Análise | O melhor e o pior do cinema de terror chegam juntos com ‘Imaculada’ e ‘Os Estranhos: Capítulo 1’

Enquanto um longa-metragem se mostra ousado e corajoso, com ideias frescas, o outro não sabe como seguir adiante

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Foto do author Matheus Mans
Atualização:

Nem é Dia das Bruxas ainda, mas os cinemas nos reservam duas estreias de terror. Nesta quinta-feira, 30 de maio, chegam às salas dois filmes: Imaculada, com Sydney Sweeney, e Os Estranhos: Capítulo 1, continuação de uma franquia com outros dois filmes na conta.

E não poderia ser uma estreia conjunta mais oportuna: de um lado, a ousadia; do outro, o medo.

O bom

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Vamos começar pela conversa positiva. Imaculada chega aos cinemas com certa desconfiança. Afinal, a direção fica com Michael Mohan, que já tinha uma parceria com sua protagonista, Sweeney, no fraquíssimo thriller erótico The Voyeurs. Mesma protagonista, mesmo diretor. Mesmo desastre? Nada disso: Imaculada é uma das surpresas do ano.

A história se concentra na chegada da irmã Cecília (Sydney Sweeney) em um convento isolado na Itália. Todo mundo lá é estranho, desde as outras irmãs até o padre, interpretado pelo espanhol Álvaro Morte, de La Casa de Papel. E as coisas ficam fora de órbita quando Cecília engravida. De alguém? Do padre? Não. Dizem ser do Espírito Santo.

Sydney Sweeney em cena de 'Imaculada'. Foto: Diamond Films/Divulgação

É uma história que encontra ecos no recente A Primeira Profecia. Ambos falam de freiras engravidando, de conventos bizarros. A graça, porém, é observar como os dois filmes caminham de maneiras diferentes. O outro longa, que tem Sonia Braga no elenco, abraça a fantasia. Demônios surgem na tela – o medo está logo ali, no desconhecido e no sagrado.

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Enquanto isso, Imaculada segue uma história parecida, mas o roteirista Andrew Lobel, ainda sem créditos no currículo, não quer saber de criaturas bíblicas ou mitológicas. O medo de Lobel mora nas pessoas e na imprevisibilidade das relações. O sagrado e o profano se misturam ali, nas diferentes facetas que uma mesma pessoa pode apresentar.

Mohan, por outro lado, segue a cartilha do nunsploitation – subgênero dos anos 1970 que colocava freiras em situações extremas – para trazer sangue e tripas em uma história que, assim como em The Voyeurs, se vale dos corpos dos personagens para causar o horror. O horror! Não nos assombramos com demônios, mas com o que pode ter dentro de nós.

E o final é de uma coragem ímpar. Em tempos que há medo de falar sobre aborto e temas mais sensíveis, Imaculada agarra a garganta do público. Repare: Mohan poderia ter terminado seu filme antes do final propriamente dito, quando Sweeney deixa o medo ficar cravado no olhar. Mas não. Ele continua filmando e mostra um caminho raro e tortuoso.

O ruim

E Os Estranhos: Capítulo 1? Bem, enquanto Imaculada ousa e não tem medo de ficar em maus lençóis com o público, este longa-metragem de invasão de domicílio joga no seguro.

A proposta é ser um filme de origem sobre aqueles personagens assassinos que vimos em Os Estranhos, de 2008, e em Os Estranhos: Caçada Noturna. Mas qual origem? Este novo longa de Renny Harlin (O Exorcista: O Início) não tem o que dizer. Não tem assunto. Sem ter um roteiro claro, anda em círculos e emula a mesma estrutura de história que vimos no longa de 2008. Parece que absolutamente nada mudou em 16 anos.

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Madelaine Petsch e Ryan Bown em cena de 'Os Estranhos: Capítulo 1'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/ParisFilmes

Continua sendo a história de um casal (Madelaine Petsch e Ryan Bown, fraquíssimos) que fica desesperado quando estranhos invadem a casa. Qual o motivo da violência? Não há desejo em explicar nada. Ao contrário de outros filmes sobre violência gratuita, como Hush, não há sequer a vontade de trazer algum aparato sensorial por aqui. É mais do mesmo em um filme sem coragem de inovar e que, covarde, acaba repetindo tudo que já foi contado.

Dois extremos na mesma semana de estreias. Pelo menos é mais fácil de escolher na hora de decidir qual a melhor sessão para o final de semana.

Análise por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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