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‘O Nascimento do Mal’ usa o terror para falar sobre traumas e medo da maternidade

Apesar das boas ideias que rodeiam o longa-metragem, execução deixa a desejar em filme morno e sem vida

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Foto do author Matheus Mans

Esqueça o título em português do terror O Nascimento do Mal, estreia dos cinemas desta quinta-feira, 11 de maio. Ele é escandaloso - muito mais do que a produção é de fato, dando uma ideia bastante errada sobre as intenções do filme. Bed Rest, o título original e que significa, em tradução livre, algo como “repouso na cama”, é muito mais interessante e certeiro ao falar sobre a história da mulher em repouso forçado ao longo de oito semanas.

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Julie (Melissa Barrera), afinal, enfrenta uma gravidez de risco. Após sofrer um acidente na escada de sua nova casa, os médicos indicam que ela fique de repouso absoluto para evitar complicações: ao longo de dois meses, ela deve evitar ao máximo levantar da cama. Sair de casa, nem pensar. É aí que começam as visões perturbadoras de um pequeno menino que circula por ali e que dá alguns bons sustos no público, que é pego desprevenido.

Engana-se, porém, quem pensa que a cineasta e roteirista Lori Evans Taylor segue por um caminho parecido com O Bebê de Rosemary, que também trata dos medos da gravidez, mas com uma pegada demoníaca que vai além. O Nascimento do Mal fala sobre traumas, medos com o próprio corpo e o receio que surge a partir da gravidez. É um filme mais sensível do que parece, ainda que perca muito da suavidade nos jumpscares frequentes.


Cena do filme 'O Nascimento do Mal', de Lori Evans Taylor.  Foto: Diamond Filmes/ Divulgação


‘O Nascimento do Mal’ e o problema de qual história contar

Evans Taylor parece estar se equilibrando entre três universos: o drama dessa personagem com traumas a serem resolvidos, o fato dela estar presa em uma cama e todos os elementos de terror que surgem aqui e acolá, muitas vezes gratuitos. O filme acaba não sendo eficaz em nenhum desses pontos, deixando a desejar na forma que desenvolve a personalidade de Julia e, sobretudo, como insere o drama psicológico na trama.

O Nascimento do Mal até tenta ser um terror psicológico, em que dores mentais se transformam em monstros assustadores, como Babadook, Sorria e afins. Mas está tão refém de fórmulas que não chega lá. O único brilho que surge é de Barrera, atriz que faz sucesso na nova franquia Pânico e que aqui, mesmo com uma barriga falsa quase tão marcante como a dentadura de Rami Malek em Bohemian Rhapsody, se sai muito bem.


Toda essa mistura complicada resulta em um final caótico: ao juntar a assombração que assusta Julia, seus traumas, a incapacidade de sair da cama, a solidão e os medos que surgem com a nova gravidez, O Nascimento do Mal se aproxima, sem querer, de uma trama espírita que não sabe bem como concluir sua trajetória. Tem momentos vergonhosos que são apenas salpicados por algumas reflexões que surgem aqui e acolá sobre traumas.

A maternidade, novamente, se torna o monstro de um filme - assim como a gravidez no geral. Mas está longe de ser tão profunda e assustadora quanto o já citado O Bebê de Rosemary, Hereditário, Umma e afins. Se quiser ver um bom filme sobre o tema, melhor revisitar um desses três. Mas, se quiser apenas se divertir com um passatempo que não ficará na memória, talvez O Nascimento do Mal seja a opção. Só ir sem expectativas.

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