Se dependesse dos executivos da Paramount, O Poderoso Chefão, clássico que volta ao cinema com cópia remasterizada, teria seu personagem principal Vito Corleone interpretado por Ernest Borgnine (e não por Marlon Brando) e o jovem Al Pacino cederia o papel de Michael Corleone para Robert Redford ou Ryan O'Neal.
Felizmente, valeu a resistência do diretor Francis Ford Coppola (ele mesmo, sob suspeita dos executivos) e, em 1972, O Poderoso Chefão revitalizou Hollywood, elevou Coppola à categoria de grande cineasta, resgatou a carreira de Brando e revelou uma nova geração de estrelas: Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton.
Veja algumas curiosidades do filme
1) O temor por Marlon Brando
A Paramount não confiava no ator, que parecia em decadência, especialmente depois de fazer filmes obscuros. Assim, os executivos fizeram com que Brando pagasse uma carta de fiança de US$ 1 milhão para garantir que ele não atrasaria as filmagens e insistiram que abrisse mão de seu cachê habitual por uma pechincha de US$ 50 mil. Ele concordou de má vontade - e ganhou o Oscar de melhor ator.
2) Direitos por uma pechincha
Autor do romance que inspirou o filme, Mario Puzo escreveu o livro em 1969 e logo se tornou um best-seller. Os direitos cinematográficos, no entanto, foram negociados antes desse estouro por uma pechincha: o produtor Robert Evans pagou os direitos por meros US$ 12,5 mil, com outros US$ 50 mil se o filme fosse feito.
3) O gato que rouba a cena
Entre as inúmeras cenas clássicas do filme, há aquela em que Vito Corleone participa de uma reunião com um gato, que brinca com seus dedos. O bichinho foi encontrado por Coppola zanzando nos estúdios Filmways, no Harlem, Nova York. Ele ronronou tão alto durante a cena que o diálogo teve de ser regravado.
4) Fala improvisada
Uma das cenas mais lembradas do filme é dita por Richard Castellano, que vivia o capanga Clemenza. Depois de executar mais um desafeto dentro de um carro, ele diz para seu auxiliar: "Deixe a arma, pegue os cannoli", referindo-se à iguaria que estava no banco do carro. A fala não estava no roteiro e foi improvisada.
5) A cena mais cara
O filme teve um orçamento baixo (US$ 6 milhões), mas algumas cenas se tornaram as mais custosas. Como a do assassinato de Sonny (James Caan), no pedágio - foi necessário muito sangue falso, muitos furos na cabine de cobrança e no carro onde estava o personagem. O custo geral foi de US$ 100 mil.
6) Mortandade
As cenas de mortes ainda impressionam, apesar de hoje os efeitos especiais permitem uma assustadora realidade. Em O Poderoso Chefão, ocorrem 18 mortes, se contarmos com a do cavalo do produtor Woltz, que o encontra na sua cama.
7) Beijo surpresa
Carinhoso com seus protegidos, Vito Corleone beija o ator Johnny Fontane, que busca ajuda para conseguir sucesso no cinema. Só que o beijo foi um improviso de Marlon Brando em Al Martino que, confuso, confessou depois que não sabia se ria ou se chorava.
8) O verdadeiro mito
Embora Marlon Brando tenha rodado suas cenas em menos de um mês (já estava comprometido em filmar O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci), sua presença em cena era venerada pelos colegas. Lenny Montana, que interpreta o mafioso Luca Brasi, estava tão nervoso de contracenar com aquele mito do cinema que errou todas suas falas. Coppola gostou de seu nervosismo e incorporou como cena o ensaio que Brasi faz das palavras que vai dizer a Corleone.
9) Participação de Sofia Coppola
A duvidosa interpretação de Sofia Coppola na terceira parte de O Poderoso Chefão é motivo para discussão uma outra hora - a verdade é que ela aparece na primeira parte, como o bebê Michael Rizzi que é batizado por Michael (Al Pacino), enquanto acontece a chacina dos inimigos.
10) Máfia, palavra vetada
Apesar de o filme ser um retrato fiel das famílias mafiosas de Nova York, as palavras "máfia" e "Cosa Nostra" não são ditas durante o filme. Isso porque uma entidade de direitos civis dos ítalo-americanos fez um acordo com o estúdio, pedindo para que os termos não fossem usados, pois poderiam manchar a imagem dos italianos.
11) Vito até o fim
O último trabalho realizado por Marlon Brando foi dublar Vito Corleone para um game inspirado no filme. Brando morreu em 2004 e o jogo foi lançado dois anos depois.
12) Final clássico
O cinema está repleto de espetaculares cenas finais (basta lembrar apenas de Rastros de Ódio e Quanto Mais Quente, Melhor) e O Poderoso Chefão não poderia ser diferente. Depois de ouvir do marido Michael que não se envolveria com a máfia, Kate (Diane Keaton) o vê oferecendo a mão para ser beijada, enquanto um auxiliar fecha a porta em sua cara. Nascia o novo chefão.
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