PUBLICIDADE

Análise|O que explica o favoritismo de Oppenheimer ao Oscar? Entenda sucesso do filme sobre a bomba atômica

Teimosia estética e mão do diretor Christopher Nolan no roteiro, forcinha de um concorrente e reconhecimento em outras premiações contribuíram para o êxito do longa

PUBLICIDADE

Foto do author Simião Castro
Atualização:

Você já deve ter ouvido que Oppenheimer é o favorito ao Oscar deste ano. Mas como essa conclusão é formada?

PUBLICIDADE

O indício mais óbvio é a quantidade de indicações. O filme de Christopher Nolan quase alcançou o recorde de A Malvada (1950), Titanic (1997) e La La Land (2016), os três mais indicados da história, com 14 cada um. Oppenheimer concorre em 13 categorias neste ano.

Isso sozinho, porém, não é garantia de sucesso na premiação. Um exemplo é Momento de Decisão (1977): o dramalhão de balé dirigido por Herbert Ross recebeu 11 indicações, mas não levou nenhum prêmio.

Cillian Murphy é Oppenheimer em cena do multipremiado longa de Christopher Nolan, de 2023 Foto: Divulgação/Universal Pictures

O histórico de Oppenheimer nas últimas premiações, porém, alimenta o otimismo por uma fila de estatuetas. No popular “termômetro do Oscar”, a cinebiografia do criador da bomba atômica se deu bem.

Ele venceu no SAG Awards (Sindicato dos Atores) na categoria de Melhor Elenco, considerada equivalente à de melhor filme nas demais, e recebeu também o prêmio de Melhor Diretor no DGA Awards (Sindicato dos diretores).

No Critics Choice Awards (Associação de críticos), conquistou melhor filme e melhor diretor, entre outros. E foi eleito o melhor filme também no PGA Awards (Sindicato dos produtores). O renomado prêmio britânico Bafta consagrou o longa nas mesmas categorias, a exemplo do renovado Globo de Ouro.

Nolan, no entanto, não quis assistir à transmissão dos indicados ao Oscar. “Só não queríamos azarar nada. Assistir às indicações era mais do que nossos nervos poderiam suportar, então tivemos uma noite inquieta e apagamos de sono”, disse com bom humor à agência The Associated Press.

Publicidade

Cillian Murphy, como (J. Robert Oppenheimer), e o cineasta Christopher Nolan no set de 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures/Divulgação

Indiscutivelmente, a virtude do roteiro também faz parte da equação. Retratar uma história real é sempre um desafio, porque são muitas as nuances da vida. Especialmente a de Julius Robert Oppenheimer, com todas as particularidades de uma figura história tão polêmica.

Condensar o longo recorte de tempo escolhido para a história de forma dinâmica e pouco óbvia confere pontos ao longa. E descortina bastidores que apelam à curiosidade do público, ávido pela descoberta da trama não contada nas enciclopédias. E o dedo do cineasta, que assina o texto, no processo deixa tudo mais conciso.

Especialmente quando se trata da Segunda Guerra Mundial, tema superexploado no cinema mas que segue alugando um triplex atrás do outro na mente das pessoas. A dificuldade — e o êxito — de encontrar novas maneiras de abordar o período é um triunfo de contribuição cinematográfica. Inclusive, a exemplo de Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, que também concorre a Melhor Filme no Oscar deste ano.

Mas o destino de Oppenheimer poderia ter sido muito diferente. É sabido que o Oscar também é construído por burburinho. Não por acaso, produtores e entusiastas fazem campanhas abertamente em prol de votos aos filmes. E se não fosse pela dobradinha com Barbie, talvez a biografia não alcançasse tanto destaque assim.

Simplesmente a grife Nolan não garante êxito de público e crítica. Dunkirk (2017), por exemplo, alcançou bilheteria de US$ 188 milhões nos EUA, frente a um orçamento de US$ 100 milhões. Ele precisou da arrecadação mundial para ultrapassar US$ 500 milhões.

Embora Oppenheimer tenha muito cara de Oscar, por ser uma biografia, com a temática de guerra e contar com um elenco premiado, foi a força de Barbie que impulsionou o potencial no cinema. E se o filme de Greta Gerwig não foi tão aclamado na temporada de prêmios, a estrondosa bilheteria que provocou o fenômeno Barbenheimer certamente beneficiou o gêmeo sombrio colocando-o no radar.

Outro ponto à favor da película de época é a estética. Oppenheimer é muito alinhado com as produções “refinadas” que a Academia costuma lembrar. E houve ainda contribuição para a indústria do cinema.

Publicidade

Que Nolan é um entusiasta dos efeitos práticos e se recusa ao máximo a usar CGI (os efeitos digitais) não é novidade. Mas ele disse ao site The Collider que usou zero CGI em Oppenheimer. Isso, porém, não era o bastante. Como sempre, ele precisava empurrar mais ainda as fronteiras do cinema.

A escolha criativa de gravar praticamente metade do filme em Imax preto e branco representou uma limitação técnica que precisava ser superada. E foi. “O preto e branco em 65 mm era um formato que não existia”, disse o diretor de fotografia, Hoyte van Hoytema, em vídeo de bastidores do filme.

Um time de engenheiros entrou em campo para desenvolver o modelo inédito na indústria até então. “Conseguimos testar o preto e branco de grande formato, colocá-lo em uma tela Imax gigante e conferi-lo. E os resultados foram simplesmente mágicos e inspiradores”, disse Nolan.

Dificilmente uma produção chega sequer à indicação de um Oscar de Melhor Filme se tiver apenas um dos elementos que fazem dele uma obra digna de nota. Mas Oppenheimer reúne, se não todas, a maioria das características que garantem a um longa o merecido lugar na história do cinema.

Colaborou Flávio Pinto.

Análise por Simião Castro

Repórter de Cultura do Estadão

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.