Opressão e seus opositores darão tom político ao Festival de Berlim de 2019

'Marighella', filme dirigido por Wagner Moura, será exibido fora de competição

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Por Thomas Escritt
Atualização:

BERLIM (Reuters) - O abuso de poder, a opressão estatal e a luta enfrentada por aqueles que tentam desafiá-la em países que vão da Rússia ao Brasil e aos Estados Unidos são temas centrais do Festival Internacional de Cinema de Berlim deste ano, cuja lista de atrações foi anunciada nesta terça-feira, 29.

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A edição deste ano do festival, que jamais se absteve de pautas políticas delicadas, destacou filmes brasileiros que anteciparam a guinada do país para a direita na eleição presidencial do ano passado em sua programação. “Às vezes a arte tem que ser política”, disse o diretor Dieter Kosslick, que comanda sua 18ª e última Berlinale, como é chamado o Festival de Berlim.

“No caso do Brasil, vemos como os filmes fizeram uma leitura sismográfica do clima do país antes de o atual presidente ser eleito”, acrescentou.

Dieter Kosslick, diretor doFestival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), na conferência de apresentação do festival à imprensa nesta terça-feira, 29. Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

Marighella, filme dirigido por Wagner Moura e exibido fora da competição, conta a história da resistência do escritor Carlos Marighella e sua morte em 1969, nas mãos da ditadura militar, que havia derrubado um governo democrático alguns anos antes – uma história que ecoa perturbadoramente a ascensão do presidente Jair Bolsonaro.

A atriz francesa Juliette Binoche, que já tem um Urso de Prata, preside o júri da competição principal do festival, que deve sua inclinação política a seu nascimento em 1951 em uma cidade dividida que se estendia pelas linhas de frente da Guerra Fria.

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Um exemplar legítimo desta tradição é Mr. Jones, da diretora polonesa Agnieszka Holland, que conta a história do jornalista galês Gareth Jones, cujas reportagens dos anos 1930 da União Soviética expuseram o horror da fome na Ucrânia apesar de governos e repórteres rivais que tentaram silenciá-lo.

A China também está bem representada na competição principal com So Long, My Son, de Wang Xiaoshuai, que estuda as vidas de dois casais vivendo as mudanças econômicas revolucionárias que transformaram o país desde os anos 1980. Também exibido fora da competição, Vice, do diretor norte-americano Adam McKay, trata do reinado de Dick Cheney como o vice-presidente mais poderoso dos EUA. 

“Este é o filme que você tem que ver para entender a Presidência”, disse Kosslick antes de recomendar, causando riso na plateia, uma exibição de Watergate - Or How We Learned to Stop an Out of Control President, documentário de Charles Ferguson sobre a queda de Richard Nixon, no festival.