Opinião | ‘Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice’ é puro suco de caos e nostalgia

Filme é o melhor trabalho de Tim Burton desde Frankenweenie, de 2012, colocando o cineasta de volta ao bom cinema

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Foto do author Matheus Mans
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Tim Burton não estava em uma boa fase. Dono de clássicos como Edward Mãos de Tesoura e Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias, o cineasta parece ter perdido o ritmo nos últimos anos, lançando desde filmes medíocres (Grandes Olhos) ou esquecíveis (Sombras da Noite, Dumbo). Em 2024, porém, ele provou que continua vivo: a continuação Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é Burton em grande forma.

'Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice' é o retorno de Tim Burton a uma produção com uma forte marca pessoal e apelo à nostalgia Foto: Parisa Taghizadeh/Warner Bros. Pictures

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Estreia desta quinta-feira, 5, o filme se passa décadas após o original, acompanhando o intervalo de mais de 30 anos entre os dois longas. Muita coisa mudou: Charles morreu (Jeffrey Jones, o ator do original, foi preso em posse de pornografia infantil nos anos 2000), Delia (Catherine O’Hara) é uma artista experimental e Lydia (Winona Ryder) cresceu, se tornando apresentadora de um programa sobrenatural e mãe de Astrid (Jenna Ortega).

É nesse cenário que Beetlejuice (Michael Keaton) retorna como ameaça. E não é só esse demônio parcialmente carismático que se torna um problema: do lado do submundo, a ex-esposa (Monica Bellucci) surge como uma sugadora de almas, enquanto Astrid, na casa dos pais para o velório do avô, começa a descobrir o amor com Jeremy (Arthur Conti).

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São várias tramas, várias histórias e muita coisa pra contar, como se Tim Burton estivesse correndo atrás desses 30 anos que ficou afastado da história. Sem dar muitos detalhes para não estragar a experiência, Os Fantasmas Ainda se Divertem conta com dois vilões, além do próprio Beetlejuice (um antivilão, talvez?). Do lado das linhas narrativas, tem a vida difícil do personagem-título, o luto de Delia, o casamento de Lydia e a paixão da jovem Ortega.

Um caos divertido

Muita coisa, muito assunto. Ruim? Pelo contrário. Burton abraça o suco de caos e faz um filme que não foge de seus problemas. Em vários momentos, parece que tudo vai desandar, mas logo o cineasta volta aos trilhos. O absurdo é o denominador comum de tudo, com o mais estranho que há. Sem medo de errar, o diretor brinca com a estética, voltando aos seus ângulos tortos e desconforto visual, com muitas linhas, em branco, preto e verde.

Na ânsia de contar histórias, o americano permite que sua direção chegue ao coração da emoção, como vimos em seus maiores longas, como Edward Mãos de Tesoura. É um filme sobre amor, essencialmente: entre mãe e filha, filha e pai, Beetlejuice e Lydia e até entre a ex-esposa e o demônio de cabelos verdes, mesmo que demonstrado de maneira torta. Uma explosão de histórias, mas com uma ideia central de falar sobre o amor entre eles todos.

Assim, há verdade aqui. Por mais que algumas coisas realmente não funcionem, como toda a trama de Ortega, que parece uma reedição de Wandinha, no geral há diversão genuína e uma busca em resgatar o que há de melhor no filme original. Por exemplo: Burton foge dos efeitos digitais e vai pros efeitos práticos, além de trazer personagens estranhíssimos para a tela, como Bob, de cabeça pequena, e Wolf Jackson, ator-policial vivido por Willem Dafoe.

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Grande parte do elenco original está de volta na sequência lançada mais de 30 anos depois do primeiro filme. Jenna Ortega é uma das novidades. Foto: Warner Bros/Divulgação

É uma ópera caótica e fantasmagórica, que retoma o que há de melhor no longa-metragem de 1988. Há uma sensação de que pouca coisa realmente avança em comparação ao filme de 30 anos atrás, como se fosse uma espécie de remake dentro do mesmo original. Faltou mais coragem? Talvez. A nostalgia move muita coisa aqui. Mas, ao mesmo tempo, não dá pra dizer que Burton não está se divertindo e fazendo com que outros também se divirtam.

O diretor também segura muito a qualidade do filme com o elenco. Michael Keaton, por exemplo, reencontra Beetlejuice na mesma frequência caótica, ajudando a dar o tom do filme. Ryder é a mais transformada, menos gótica e mais mãe, e dá liga em tudo. Mas quem brilha é O’Hara: Delia está divertidíssima, mais solta. Beetlejuice promove o caos, Lydia dá a liga e Delia compartilha com o público o riso observando o que está acontecendo por ali.

No final, fica a sensação de que pouco aconteceu. Mas, ainda assim, não importa: o exercício visual de Burton e esse caos narrativo que encontra ordem no brilho dos atores faz com que tudo fique natural, divertido e, acima de tudo, emocionante. Quem já conhece o filme original, vai flutuar de nostalgia. Quem está chegando agora, vai se encantar com um cineasta com coragem de fazer diferente do cinema de hoje, mesmo que seja o que fazia 30 anos atrás. Original, afinal, nem sempre é inovar, mas ter coragem de se reafirmar.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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