Oscar 2023: ‘Close’, drama sobre homofobia e amizade, ganha força na categoria Internacional

Filme de Lukas Dhont é retrato delicado e devastador da juventude e da dura intrusão dos papéis de gênero; veja trailer

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Por Jake Coyle

AP - Quando Lukas Dhont tinha 12 anos, uma câmera veio parar nas suas mãos. Para Dhont, que se assumiria gay ainda jovem, a câmera era uma fuga das tensões e estereótipos que ele estava começando a sentir.

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“Eu precisava dessa outra realidade na qual pudesse desaparecer, porque minha realidade era aquela em que eu sentia muito as pressões dessas expectativas, desses códigos e dessas normas que foram impostas ao meu corpo só porque eu era homem”, disse o cineasta belga de 31 anos.

Em seus primeiros filmes caseiros, Dhont criou curtas de ficção científica. Seu irmão Michiel (agora produtor de Dhont) interpretava alienígenas ou zumbis. Mais tarde, Dhont descobriu um mundo cinematográfico mais amplo por meio de coisas como os filmes de Chantal Akerman e percebeu que o cinema poderia ser um lugar para confrontar a realidade, não fugir dela.

“Parei de filmar os zumbis e virei a câmera para mim”, diz Dhont.

O segundo filme de Dhont, Close, mergulha naquele período da adolescência que foi tão determinante para ele. Ambientado no interior da Bélgica, fala da amizade entre dois garotos de 13 anos - Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele) - cuja terna intimidade é testada, tragicamente, quando Léo, tentando se aproximar dos meninos mais masculinizados, se afasta de Rémi.

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Cena do filme 'Close', de Lukas Dhont Foto: Mubi


O filme, que vem depois de Girl, a aclamada mas controversa estreia de Dhont em 2018, é um retrato sublimemente delicado e devastador da amizade na juventude e da dura intrusão dos papéis de gênero. Close, que a A24 está expandindo em lançamento limitado nas próximas semanas, ganhou o Grand Prix no Festival de Cinema de Cannes, o segundo prêmio de maior prestígio do festival. No mês passado, foi indicado para o Oscar de melhor filme internacional. Dhont estava em um hotel de Nova York quando ouviu a notícia.

“Foi uma espécie surto”, disse Dhont em entrevista recente. “Acho que devo ter gritado com uma voz estridente que deixou parte do saguão em pânico”.

Para Dambrine e De Waele, Close foi, em si, uma experiência de amizade. Sua maioridade aconteceu ao longo da produção e lançamento do filme. Dambrine, que Dhont escalou depois de vê-lo pela primeira vez em um trem, tinha 13 anos quando eles começaram e acabou de completar 16. De Waele tinha 12 anos quando fez o teste e agora tem quase 15.


Parei de filmar os zumbis e virei a câmera para mim

Lukas Dhont


“O engraçado é que eles são adolescentes agora”, diz Dhont. “Têm cabelos compridos e skates. Foi um verdadeiro presente poder vivenciar toda essa jornada através dos olhos de jovens de 14 anos.”

“No primeiro dia dos testes de elenco, ficamos muito próximos um do outro”, diz Dambrine, falando em entrevista por Zoom com De Waele. “Senti uma grande conexão entre nós. Tinha outros 13 meninos no teste, e eu fiquei imediatamente perto de Gustav porque os outros meninos eram meio chatos. Me desculpem, outros meninos”.

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'Close', de Lukas Dhont, é um retrato delicado e devastador da amizade na juventude Foto: Mubi


No final do dia, todos os atores preencheram um questionário. Uma pergunta: Quem é sua pessoa favorita no mundo? Horas depois de se conhecerem, Dambrine escreveu De Waele e De Waele escreveu Dambrine.

“Lukas ainda acha que foi tudo armação”, diz Dambrine.

“Acho que Lukas não estava atrás de talento”, diz De Waele. “Ele estava atrás de amizade. Quando voltei para casa depois do teste, disse aos meus pais: ‘Fiz um amigo’.”

O primeiro filme de Dhont, Girl, sobre a transição de gênero de uma bailarina adolescente, ganhou o Caméra d’Or de melhor longa de estreia em Cannes. Mas, quando chegou à Netflix, alguns membros da comunidade LGBT+ questionaram a escalação de uma protagonista não transgênero e criticaram uma cena de violência autoinfligida por perpetuar uma falsa narrativa sobre a transição de gênero. Dhont chamou a reação de um “processo de aprendizado” sobre a perspectiva nas histórias.

Alguns críticos também falaram sobre Close e sua drástica mudança no meio do filme, dizendo que é emocionalmente manipulador. Dhont, porém, cita estatísticas que mostram como as taxas de suicídio aumentam entre jovens do sexo masculino como evidência da tensão na adolescência.

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Cena do filme 'Close', dirigido por Lukas Dhont e que está na disputa do Oscar de Filme Internacional Foto: Mubi


“Os riscos são altos de verdade. Pelo menos é o que sinto”, diz Dhont. “Esperamos que haja um forte sentimento de esperança para que esse tipo de tragédia não aconteça, para que seja evitada. Entendo porque o filme suscitou essa reação.”

Parte da motivação de Dhont em escrever Close com o roteirista Angelo Tijssens foi uma espécie de expiação pessoal. Dhont teve suas próprias experiências de amigos se afastando dele e também se distanciou de alguns relacionamentos quando criança - mas agora se arrepende.


Acabei me afastando de alguns amigos por medo

Lukas Dhont


“Acabei me afastando de alguns amigos por medo”, diz Dhont. “Privei não apenas a mim, mas a eles do amor que sentiam - e quero dizer amor no sentido mais amplo do termo. Acho que este filme também é uma ode a essas amizades.”

Um recurso fundamental para expandir Close para além das experiências pessoais de Dhont foi o livro de 2013 da psicóloga Niobe Way, Deep Secrets: Boys’ Friendships and the Crisis of Connection. Ela entrevistou centenas de meninos com idades entre 13 e 18 anos. Suas conversas mapearam como a intimidade e as amizades dão lugar à desconfiança e ao isolamento conforme os meninos vão se tornando homens.



“Queria falar dessa sociedade que tem essa cultura masculina baseada na dominação e desde cedo diz aos jovens que existem certas características valorizadas, como a independência e a distância do mundo emocional”, diz Dhont. “Então nós os separamos, não apenas um do outro, mas rompemos a linguagem que os conecta por dentro. Muitos problemas - e até me atreveria a dizer, para um filme tão pequeno, problemas mundiais - começam com o que parece ser uma pequena ruptura, mas na verdade é muito grande”.

Fazer Close - um processo íntimo que incluiu meses de ensaios e uma produção que incentivou a descontração e o afeto - foi para De Waele e Dambrine o tipo de experiência de coração aberto que muitos dos garotos de Deep Secrets devem ter desejado.

“Realmente mudou minha visão da vida”, diz Dambrine, " e da maneira como a amizade funciona”.


Queria falar dessa sociedade que tem essa cultura masculina baseada na dominação e desde cedo diz aos jovens que existem certas características valorizadas, como a independência e a distância do mundo emocional

Lukas Dhont


E também foi de virar a cabeça. Diz Dambrine: “Em Cannes, todos agem como se você fosse superfamoso, mas você é só um garoto normal que faltou à escola para vir ao festival”.

Agora eles estão indo ao Oscar para o que certamente será um espetáculo ainda mais desconcertante. Eles esperam rever Austin Butler, que encontraram em Cannes. De Waele lamenta que seja impossível conhecer seu cineasta mais idolatrado - Billy Wilder - em sua primeira viagem a Los Angeles (Wilder morreu em 2002).

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Lukas Dhont diretor de 'Close', que disputa o Oscar de Filme Estrangeiro Foto: Jordan Strauss/Invision/AP


“Também quero ver Cate Blanchett”, diz Dambrine.

“Sim, claro”, ecoa De Waele.

Ambos os meninos podem estar se aproximando da idade adulta, mas ainda parecem crianças falando sobre seu tempo de transformação em Close. Enquanto se preparam para desligar o Zoom, Dambrine acrescenta uma última observação à qual parece ter se apegado.

“O filme fala sobre julgamento”, diz Dambrine. “Na sua vida, as pessoas sempre vão julgar você. Então, por que você tem de ouvir e mudar por causa dessas pessoas, quando pode simplesmente dispensar o que estão dizendo e viver sua vida e ser feliz consigo mesmo? / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

O filme fala sobre julgamento

Eden Dambrine

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