Exibido no último Festival de Gramado, o longa de estreia do fotógrafo Klaus Mitteldorf, Vou Nadar Até Você, que tem a atriz Bruna Marquezine como protagonista, deve chegar aos cinemas em outubro, depois de transtornos com a Ancine (Agência Nacional do Cinema).
O órgão oficial do governo federal tem por objetivo fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica — mais particularmente a última função, após o presidente Bolsonaro implicar com produções que se chocam com seus padrões morais.
Segundo Mitteldorf, ele conseguiu terminar o filme “por milagre”, porque “o dinheiro que era para a pós-produção e o lançamento do filme foi bloqueado pela Ancine.”
Embora o filme não trate de garotas de programa como Bruna Surfistinha – longa citado por Bolsonaro como um contraexemplo de filme que ele quer apoiado pela Ancine – Vou Nadar Até Você tem cenas de nudez de Bruna Marquezine.
A atriz também aparece numa cena fumando um baseado ao lado de Fernando Alves Pinto, que interpreta o papel de Smutter, contratado pelo pai de Ophelia para seguir seus passos na longa viagem empreendida por ela (a nado) entre Santos e Ubatuba.
No ponto de chegada mora Tedesco, fotógrafo e artista plástico que manteve uma relação amorosa com a mãe da moça. O tema do longa é mesmo a busca do pai – tanto no sentido alegórico, o de uma figura ausente da qual pouco ou nada se sabe, como físico.
Tedesco (o ótimo ator alemão Peter Ketnath), a exemplo do diretor Mitteldorf, é um fotógrafo pioneiro no registro de imagens de surfe. As referências autobiográficas não param por aí.
As duas principais autocitações são duas (belas) séries fotográficas assinadas por Mitteldorf nos anos 1990, A Morte de Ophelia (1992), recriação da tela do pré-rafaelita Millais, e O Último Grito (1998), em que a modelo Alexandra von Schwerin nada no Walchensee, lago dos Alpes bávaros, como se estivesse à beira de morte.
Vou Nadar Até Você, desse modo, é uma longa reflexão sobre a morte e o paradoxo da fotografia documental – o fotógrafo pouco ou nada sabe sobre as pessoas que fotografa. Na busca pelo pai ausente, a Ophelia de Mitteldorf enfrenta uma jornada de autoconhecimento. Sofrida, bela. Santos nunca foi tão bem fotografada.
Em nota enviada ao Estado, a produção do filme afirma que "em nenhum momento o projeto sofreu qualquer forma de impedimento em seu processo normal de captação e liberação de recursos", e que a demora do repasse financeiro do filme "nunca guardou relação com o conteúdo do filme ou outra forma de retaliação".
Leia a nota completa:
"A produtora responsável pelo filme Vou Nadar Até Você frente à ANCINE esclarece que em nenhum momento o projeto sofreu qualquer forma de impedimento em seu processo normal de captação e liberação de recursos. Todos os seus trâmites perante a agência têm seguido o mesmo tipo de rito e cronograma de obras semelhantes. É fato que em 2019 o ritmo operacional da ANCINE foi afetado, como um todo, pelas medidas resultantes do acórdão nº 721/2019 do Tribunal de Contas da União, portanto qualquer eventual demora de repasse financeiro ao projeto nunca guardou relação com o conteúdo do filme ou outra forma de retaliação.
A produtora esclarece, também, que a data de lançamento comercial do filme Vou Nadar Até Você ainda está sendo deliberada entre produtores e distribuidores da obra, não havendo, até o momento, qualquer definição a respeito."
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