Entre as raridades do 11.º Festival de Cinema Latino de São Paulo, que começou na quarta, 20, há um filme do Paraguai. La Ultima Tierra foi exibido na quinta e terá nova sessão neste domingo, 24, às 19 horas, na Tenda do Memorial da América Latina. O diretor Pablo Lamar participou de um debate com o público, dia 21, no Cinesesc, mas já regressou a Belo Horizonte. A Minas? Sim, casado com uma mineira, Sara, há um mês ele é pai de Antônia. “Estou nessa fase de me ocupar mais de fraldas que de filmes”, brinca.
Técnico de som, Pablo vem fazendo carreira no cinema brasileiro. Foi quem fez a captação de O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Recife foi sua primeira parada no Brasil, antes de se estabelecer em Minas, onde divide uma produtora com o também cineasta Ricardo Pinto. A Última Terra pode ser associado a outro grande filme do Paraguai – Hamaca Paraguaya, de Paz Encina. Pablo conta que viu o filme de Paz na faculdade de cinema, em Buenos Aires. Em ambos, há um casal de velhos e uma casa na floresta, mas ele destaca. “Filmo de outro jeito.”
Esse outro jeito prescinde de diálogos e valoriza os planos de longa duração. O parentesco vem das preferências comuns, e são os maiores, “Andrei Tarkovski e Alexander Sokurov”. A Última Terra é sobre um velho que tem de enterrar a mulher. Só isso, e é tudo. Para o diretor, seu filme é um exercício de simplicidade. “Uma queda vertical que, com a cumplicidade criativa do espectador, pode chegar a algo denso e profundo.” Mas ele não gosta de usar ‘profundidade’ – parece pretensioso.
Pablo filmou em Sapucay, imerso na paisagem paraguaia. Foi premiado nos festivais de Roterdã e Toulouse. Homenageada no Festival Latino deste ano, Anna Muylaert fez Mãe Só Há Uma com uma fotógrafa uruguaia. Ele assina o som de filmes brasileiros – e o som é decisivo no dele. Ainda é pouco para falar em integração continental, mas Pablo sonha com ela. A morte e o título também aproximam A Última Terra de Terra Deu, Terra Come. A associação se faz na cabeça do repórter. Pablo não viu o belo documentário de Rodrigo Siqueira. “Com esse título tão sugestivo, não o teria esquecido.”
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