Não é exagero dizer que a franquia Paddington é um acerto absoluto do cinema britânico. O diretor Paul King entendeu tudo ao adaptar os dois primeiros filmes e não transformá-los em histórias exageradamente infantis. É para crianças, sim, mas vai além: Paddington é simples, mas genuíno, transpirando sensibilidade. Agora, no terceiro filme, Paddington: Uma Aventura na Floresta, Paul King sai de cena, mas o ursinho continua a brilhar.
Estreia de quinta-feira, 23, o longa traz um complicador logo de cara: a amada Tia Lucy sumiu nas selvas do Peru. O aviso chega por meio de uma carta enviada pela Madre Superiora (Olivia Colman) do asilo em que a ursa idosa se mudou. É aí que Paddington, com voz de Ben Whishaw, toma uma decisão: ele, ao lado da família Brown, vai pro Peru.
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É óbvio que a troca na direção de Paul King pelo estreante Dougal Wilson é um decréscimo e tanto. Percebe-se que a sensibilidade visual e narrativa do cineasta, que trocou o ursinho por Wonka, some. O que Wilson faz é tentar imitar o estilo do cineasta que deu o tom para o personagem, enquanto se agarra ao roteiro de Mark Burton, Jon Foster e James Lamont.
E é o roteiro que realmente segura o começo do filme na unha. Por todas as memórias criadas pela audiência com os outros dois primeiros (e impecáveis) filmes da saga, há preocupação com Paddington, sua família e até a Tia Lucy, personagem que aparece só em memórias e relances. Você naturalmente se envolve com o que está sendo contado ali.
Ainda assim, conforme o tempo passa, pouca coisa se sobressai ou cria momentos importantes na história de Paddington. Não há um novo vilão como o de Hugh Grant -- aqui, quem tenta impedir o urso de conquistar seus objetivos é Antonio Banderas em um de seus papéis mais canastrões da carreira (e olha que ele tem A Máscara de Zorro e Os Mercenários no currículo). Também não há nenhuma novidade relevante na história do urso.
Além disso, há toda a questão de tratar a América Latina como se fosse uma grande selva em que as pessoas são exageradamente simples e vivem em meio a macacos. Já estamos em 2025!
Sensibilidade e graça
O que ajuda a fazer com que Paddington 3 ganhe pontos, e não seja uma decepção, é o humor da coisa toda. Há menos ingenuidade aqui, principalmente no que envolve a freira vivida por Colman (A Favorita). Bizarra do começo ao fim, com um sorriso forçado no rosto, a personagem faz piadas com Deus, questiona o papel das freiras no Peru e, aos poucos, vai entrando na trama de modo transformador -- a cena dentro de um avião é histórica.
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Ela atua como uma espécie de baliza do humor dentro da narrativa, levando os outros personagens para esse grau de comédia -- que transita entre o bizarro e o infantil, mas sem deixar que tudo fique ingênuo ou bobinho demais. O ursinho Paddington, claro, é a âncora do que foi visto anteriormente, como se fosse a conexão de dois mundos. No final, aos trancos e barrancos, surge aquilo que todos queriam: algumas lágrimas rolam no rosto, com os sentimentos que o filme desperta sobre família, pertencimento e memória.
No fim, mesmo com outro diretor e proposta, é Paddington. E é difícil não se apaixonar.